CAPÍTULO 12 : O passado volta para atormentar

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Passamos dois dias no apartamento de Copacabana, depois voltamos as nossas rotinas. No hospital, Allyson foi a primeira a perceber as alianças que exibíamos, e também foi a que mais vibrou com isso. Ally se tornara a melhor amiga de Lauren desde sua residência, além de enfermeira de confiança de Lauren, era sua confidente, seu porto seguro. O ano começou com nossa procura por apartamentos e Lauren tentando encaixar pelo menos quinze dias de férias para viajarmos em lua de mel. Estávamos completamente envolvidas com os preparativos para o nosso casamento, não escondíamos nossa felicidade, mas como nossas vidas nem de longe era um conto de fadas, toda aquela alegria estava ameaçada pelo mistério de Lauren.

Viajamos no carnaval para uma casa de praia em Cabo Frio, na companhia de Letícia e Flávia, e mais dois casais de amigas delas: Laila, uma jogadora de vôlei da seleção do Rio de Janeiro, dona de um corpo magro e atlético, obviamente muito alta, cabelos longos com cachos negros largos; Pietra, preparadora física do mesmo time de vôlei de Laila, era também alta, de corpo esbelto bronzeado, mas não era magra como sua namorada; e, por fim, Virgínia e Carla, ambas arquitetas bem sucedidas, a primeira tinha o cabelo curto com mechas coloridas, usava um óculos moderno, era magra, mas tinha seios fartos, a segunda era loira também de cabelos curtos, era menos feminina, mas era uma mulher bonita sem dúvida.

Foram dias divertidos, bebemos horrores, Lauren alcoolizada conseguia ser ainda mais quente na cama. Os nossos gritos e gemidos viraram assunto principal da zuação das meninas, curtimos as praias, assistimos os desfiles dos blocos locais, jogamos baralho... Em uma das noites, Laila sugeriu jogarmos um streap poker, como já estávamos bêbadas, acabamos topando. Eu tinha o hábito de jogar poker com Tia Penélope e vovô, então quando todas estavam quase de lingerie apenas, eu só havia perdido as sandálias. Não pude deixar de reparar no corpo de Pietra, era realmente incrível, minha principal concorrente era Laila, que ansiava por me ver sem roupa, Lauren já estava tomada de ciúmes com as investidas despudoradas de Laila, o que nos fez concluir que sua relação com Pietra era aberta. Para satisfação de minha noiva tudo que Laila conseguiu foi me deixar de short e sutiã, enquanto ela num blefe arriscado ficara nua... na cozinha, Laila só de toalha me abordou:

-Ai... Que vontade de ser esse copo...

Quase derrubei o copo d'água de susto ouvindo aquilo. Ela continuou se aproximando:

- Que tal uma revanche? Dessa vez te deixo peladinha... – sussurrou no meu ouvido, deslizando seus dedos pelos meus braços.

-Laila... para com isso, eu não sei que tipo de relação você tem com a Pietra, mas te asseguro que não é como a minha com Lauren.

- Ah deixa disso garinha... Variar as vezes apimenta a relação – nesse momento ela segurou meu pescoço forçando um beijo.

A afastei imediatamente com dificuldade por causa de sua altura, e Lauren entrou na cozinha ficando entre eu e Laila:

- Qual é Laila? Perdeu a noção do perigo?

-Desculpa Lauren, perdi a cabeça, sua noiva é gostosa demais... Desculpe Camila não vai se repetir, ok? Não sou uma puta não, foi mal.

Nem preciso dizer que Lauren a partir daquele momento mal olhou para a cara da Laila, que não parou de me secar o resto dos dias. Pietra, por outro lado, não sei se por vingança, assediou Lauren várias vezes. Imaginei que o mundo lésbico fosse mesmo uma putaria... Discutimos algumas vezes, mas bastava um beijo mais apaixonado para nossas defesas caírem e nos entregarmos a paixão.

Na volta ao trabalho, estávamos na cantina, lanchando no meio da tarde, muito descontraídas, Lauren roubando pedaços do bolo no meu prato, enquanto eu jogava bolinhas de guardanapo em sua cara. Quando o típico zum zum zum de pessoas conversando parou de repente, dando espaço a alguns buchichos. Na porta da cantina estava uma mulher alta, cabelos presos elegantemente, com óculos de sol, aparentava ter mais de 40 anos, mas o seu corpo era impecavelmente desenhado no conjunto de terno riscado, salto alto, e uma maquiagem perfeita. Desfilou sua altivez pelas mesas da cantina, até chegar de frente para a nossa, tirando dos olhos os imensos óculos de sol:

- Ora ora ora, finalmente te encontrei Dra. Lauren Jauregui!

Lauren empalideceu, desfez o sorriso que tinha, olhou para aquela mulher e gaguejando se dirigiu a ela:

- O que- que vo- você está fazendo aqui?

- Vim te procurar pessoalmente, já que você não atende meus telefonemas e nunca está em casa...

Senti um arrepio na espinha, uma sensação muito ruim me invadiu, Lauren nem me olhava mais, levantou da mesa e saiu da cantina empurrando aquela misteriosa mulher pelo braço, me deixando ali sozinha, cheia de interrogações, e com alvo dos olhares de todos ali. Totalmente perdida, a trapalhona baixou em mim, levantei derrubando talheres, porta guardanapos, espalhando palitos pela mesa... Com passos rápidos e descompassados, abaixei minha cabeça e saí pelos corredores do hospital buscando um refúgio para acalmar meus pensamentos. Entrei no banheiro dos funcionários, me fechando em uma cabine, abaixei a tampa da privada e me sentei tentando acalmar minha respiração, puxando do bolso do meu jaleco minha bombinha para asma. Ouvi a batida da porta, com duas vozes femininas se aproximando:

- Menina que babado... Dra. Issartel de volta! Quem diria, ela está bonitona, você viu?

-Não, não vi, só ouvi boatos nos corredores, alguém tem que trabalhar nesse hospital ao invés de fazer fofoca...

- Deixa de ser chata Allyson! Com o duro que a gente dá, grana curta, essas emoções são o que restam de bom nesse trabalho... Mas me fala aí, você sabia que ela tinha voltado?

- Não, não sabia, porque eu saberia Sheila?

- Ah! Você é toda amiga da chefe né, ela com certeza sabia. Coitada da Dra. Camila, ficou perdidinha...

- Dra. Camila? Ela viu Dra. Keana?

- Ué... Você não ficou sabendo? Ela estava com a chefe na cantina quando a poderosa chegou, Dra Lauren saiu arrastando a Dra. Keana pela cantina, deixando a Dra. Camila com cara de tacho na mesa.

- Ai caramba, a Lauren não tem jeito...

- Será que a residente vai dançar nessa, Ally?

- Para de falar besteira Sheila... Elas estão noivas, Lauren ama a Camila.

Ouvi tudo e minhas interrogações aumentaram, comecei a sentir o peito apertar com uma angústia sem tamanho, chorei em silêncio, imaginei o porque da Sheila perguntar se "a residente dançaria nessa", meu Pager bipou, denunciando minha presença clandestina no box, fui obrigada a sair, Ally e Sheila me olharam assustadas, lavei meu rosto e saí do banheiro em direção ao elevador. Ally seguiu atrás de mim, chegando à porta do elevador, me puxou pela mão até um consultório vazio.

- Ally por favor, tenho que trabalhar, me deixa.

- Espera aí Camila, preciso falar com você.

Seguiu até o telefone, avisou para a neurologia que Dra. Camila estava atendendo uma urgência no pronto socorro e que só poderia voltar ao setor em alguns minutos.

- Pronto, agora você tem alguns minutos pra me ouvir.

- Ally...

- Escuta Mila, não queria que você escutasse essas fofocas que você ouviu agora pouco, Lauren vai te explicar com calma toda essa situação.

- Quem é essa mulher, Allyson?

- Dra. Keana Marie Issartel, até dois anos atrás era a diretora clínica desse hospital, mas, se afastou para fazer doutorado na Espanha.

- O que ela tem a ver com Lauren?

- Ai Mila, isso vocês terão que conversar...

- Você não disse que queria conversar comigo, pois bem, estamos conversando, funciona assim, eu pergunto algo e você responde o que sabe... fala.

- Não, você descreveu um interrogatório, doutora.

- Dá no mesmo nesse momento, fala Allyson.

- Elas... Bem... Tiveram um longo caso e bem complicado. Keana era casada com um empresário poderoso, acabou se separando dele pra ficar com Lauren, até que ele ameaçou tomar seu filho e o dinheiro dela, ela então voltou para o marido e foi embora para o exterior com ele e o filho, abandonando Lauren.

- Ela deixou a Lauren pra voltar com o marido e o filho?

- É... mais ou menos, Keana é muito rica por causa do marido e pelo que falam as más línguas, teve muitos amantes, homens e mulheres, mesmo estando com Lauren. Era comum ouvirmos histórias de flagras entre ela e enfermeiras, médicos... Para direção geral ela ter se afastado foi um alívio, porque já se especulava a existência de processos de assédio sexual contra ela.

Fiquei completamente atordoada com aquelas revelações, não poderia acreditar que Lauren me escondera por meses a história dela com essa mulher, e pior, ao vê-la, esqueceu de mim naquela mesa para falar com ela. Sentei em uma cadeira e deixei as lágrimas caírem. Tentei ligar para o celular de Lauren, mas chamava até cair na caixa postal. Saí batendo a porta em direção ao setor de neurologia a fim de trabalhar para esquecer aquela situação. Imaginei que a relação das duas deveria ter sido muito forte, a ponto de todos na cantina pararem para ver o reencontro delas. Minha relação com Lauren estaria ameaçada com a volta dessa mulher? Seria ela nas ligações misteriosas? Onde elas estariam até aquela hora? Porque Lauren não me atendia? Não consegui me concentrar nas consultas, minha preceptora notou isso, imaginando o motivo, pelos boatos que corriam pelo hospital, me dispensou mandando que eu fosse pra casa descansar.

Já era noite, quando estava no estacionamento, avistei de longe, perto de um carro importado de luxo, Lauren e a tal Keana discutindo, ambas gesticulavam muito, Keana mexia nos cabelos de Lauren, me fazendo quase ferir as palmas das mãos de tanto apertá-las contra minhas unhas, Lauren não se afastava dela, o que me angustiava muito. Me aproximei para escutar o que elas falavam, mas trapalhona como sou, não soube ser sutil, acabei batendo em um carro disparando o alarme do mesmo chamando atenção para mim. As duas me olharam ao mesmo tempo, Lauren tirou a mão de Keana do seu rosto e veio em minha direção:

- Camz, eu estava indo te procurar agora, já está de saída tão cedo?

Meus olhos estavam marejados, não sei se por raiva ou nervosismo, olhei para Lauren, em seguida olhei para Keana, que me encarava com desprezo:

- Essa daí é a tal Camila? Sua noivinha?

Pelo menos ela sabia quem eu era e que era noiva de Lauren, que alívio.

- Sim, essa é a Camila, minha noiva – Lauren falou segurando minha mão.

Não consegui pronunciar uma palavra até então, me dirigi a minha noiva informando:

- Estou indo pra casa mais cedo, fui dispensada, não estou me sentindo bem.

- O que você tem? ...a asma? – perguntou preocupada.

- É... você demora?

-Não, vou pegar minhas coisas e vou cuidar de você.

- Ora, você arranjou uma mulher ou uma paciente, Lauren?- Keana interrompeu com deboche.

Lauren não disse nada, o que me irritou profundamente, soltei sua mão e andei rápido para o carro, sem olhar para trás. Pelo retrovisor vi Keana segurando a cintura de minha noiva, que segurou suas mãos retirando de sua cintura e entrou sozinha no hospital.

No apartamento, esperava ansiosa a chegada de Lauren. Chorava, meu coração estava experimentando uma angústia inédita, não sabia explicar aquele pressentimento de perda que me tomava. Uma hora depois da minha chegada, Lauren entrou no meu quarto, eu ainda estava com a mesma roupa. Meu quarto estava escuro, ela sentou na poltrona ao lado da minha cama onde eu me sentei ao vê-la, puxou meu corpo em direção ao dela, e começou a falar:

- Camz, eu sei que te devo mil explicações, eu sei que agi mal hoje, mas tudo tem uma razão, que eu espero que você entenda.

- Estou escutando Lauren.

- Bom... vamos lá... aquela mulher que você viu, você já deve saber é a Keana, foi minha professora na faculdade, tivemos uma relação.

-E?

- O fato é que, foi forte o que tivemos, eu era jovem, estava apaixonada, um dia no estacionamento do hospital, meu pai desconfiado me seguiu e testemunhou um beijo nosso. Quando voltei pra casa, minhas roupas estavam jogadas no jardim de casa. Meu pai não permitiu que eu sequer entrasse, dizendo que não tinha mais filha, não permitiu que minha mãe saísse ao meu encontro. Recolhi minhas roupas, nem uma mala ele me deu, não tinha o que fazer, ainda estava na faculdade, não tinha dinheiro, não tinha para onde ir, liguei pra Keana...

Ela pausou, enxugou as lágrimas e continuou:

- Ela foi me buscar, me acomodou em um hotel e ali permaneceu comigo a noite toda. Keana me sustentou no último ano de faculdade, alugou uma quitinete, perto da faculdade e me dava de tudo. Eu me sentia constrangida com aquela situação, mas não tinha opção, mamãe quando conseguia me levava algum dinheiro, mas meu pai não facilitou, eu morri pra ele... um militar muito rígido, dizia que preferia um filho morto a um filho gay...

Segurei suas mãos, e acariciei seu rosto.

- Keana se aproveitava dessa situação, eu era refém dela, mas não me importava, a amava, mas sabia que ela tinha outros casos, sofria muito, me sentia humilhada, mas tudo mudava quando ela chegava me beijando. Meu último ano de faculdade foi terrível, mas enfim me formei.

Lauren levantou da poltrona e começou a andar pelo quarto prosseguindo:

- Só mamãe e Christopher compareceram a minha formatura, mamãe tinha horror da Keana, mas a suportava, porque no fundo sabia que eu não teria como me sustentar sem ela. Graças a Deus, passei de cara na residência, mas continuava presa a Keana, pela minha paixão e por que ela acabou assumindo a direção clínica do hospital universitário. Mesmo ganhando um dinheirinho com a residência, Keana fez questão de manter a ajuda financeira, a meu contragosto.

- E ela não te amava?

- Ela gostava de me manter a disposição dela, quando notava que eu estava interessada em alguém, me afastava dela, ela demonstrava seu poder sobre mim. Era uma relação doente... ela fazia questão de demonstrar a todos que eu era sua propriedade.

- Como você aguentava isso?

- Eu a amava e era idiota... Não conto as vezes que encontrei Keana comendo uma enfermeira ou uma interna em seu consultório... aguentava vê-la com seu marido e com os amantes. Cansei disso e comecei a sair com outras mulheres, devolvi a quitinete alugando outra perto e depositei de volta o dinheiro que ela transferira pra minha conta. Ela enlouqueceu com isso, começou a me perseguir nos barzinhos que eu frequentava, no hospital, até que eu lhe disse, que não ia tolerar aquele tratamento, que se ela me amasse mesmo, teria que ter um relacionamento sério e exclusivo comigo.

- E ela o que fez?

- Foi aí que ela deixou o marido, alugou um apartamento maior para nós duas e começamos a morar juntas. Como não queria tirar o conforto do filho, Luquinha passava só os fins de semana conosco, vivemos alguns meses maravilhosos, até eu flagrá-la outra vez me traindo dentro do seu carro, numa rua perto do Fundão. Ela parecia ser doente, não conseguia ser fiel, as coisas pioraram quando o marido encerrou a conta conjunta, cancelou cartões de crédito e ameaçou impedi-la de ver o Lucas.

- Foi então que ela te deixou?

- Ainda ficamos mais uns meses juntas, eu estava concluindo a residência, ela estava mais centrada no trabalho, todos sabiam de nós no hospital, ela deu uma sossegada nos amantes, mas ela não suportou viver sem os luxos que estava acostumada... e a frieza de Lucas com ela, o pai estava o envenenando contra ela.

Pausou, sentou perto de mim, e continuou:

- Quando conclui a residência, passei no concurso do hospital em primeiro lugar, qual não foi minha surpresa, quando cheguei ao apartamento e vi a parte do guarda roupa dela vazio. Liguei pra ela e seu marido atendeu, sendo taxativo: "esqueça minha mulher, nunca mais nos atormente, você não vai acabar com minha família sua sapatão safada!"

- Nossa...

- Bom, eu soube no dia seguinte no hospital do afastamento dela da direção clínica, iria para o exterior fazer doutorado e acompanhar o marido que iria cuidar de uma nova filial da empresa em Madrid.

- Mas ela nem falou nada com você?

- Não, voltou a me ligar e mandar mesagens a cerca de um ano, depois de estar morando fora a mais de um ano.

- Era ela quem te ligava quando você não queria atender na minha presença?

- Sim... ela insistia que estava se separando do marido, que estava arrependida do que fez e que voltaria pra mim quando concluísse o doutorado.

- Mas Lauren, porque você não me contou nada?

- Camz, eu só queria esquecê-la, você foi a primeira pessoa que me envolvi desde que ela me deixou. Passei mais de um ano afundada no trabalho, não saía, não me divertia, estava dia e noite naquele pronto socorro. O lado bom foi que isso me deu a chefia da urgência, mas eu estava decidida a não me apaixonar de novo, mas você apareceu... me deixou sem defesas, me apaixonei perdidamente por você. Queria preservar nossa relação dessas lembranças, por isso também queria resguardar nossa relação dos comentários no hospital, já que a minha com Keana tomou proporções de escândalo de revista de fofoca.

- Você deveria ter me contado, você tem noção de como me senti hoje te vendo naquele estado diante dela?

- Eu fiquei apavorada, ela tem me ligado desde que chegou antes do carnaval. Não tinha te preparado pra isso, tentei falar lá em Cabo Frio, mas foi quando aquela abusada da Laila te beijou na cozinha. Não queria te expor diante de todos, tudo que queria era tirar a Keana dali pra evitar uma confusão.

- O que ela quer afinal?

- Quer voltar comigo... se separou do marido judicialmente, conseguiu a guarda de Lucas e na separação ficou com metade da fortuna dele.

- E o que você disse?

- Disse que estava noiva de uma mulher linda e maravilhosa, que eu queria passar o resto da minha vida com ela... – me abraçou beijando o pescoço.

- Mas você balançou quando a viu? Ela tentou alguma coisa com você?

Ela soltou meu corpo lentamente, desviou o olhar, nesse momento fiquei tensa:

- Lauren? Você tem algo mais pra me falar?

- Camz...

Eu me aproximei do interruptor, acendi a luz do quarto, olhei pra ela fixamente e vi, para meu desespero, uma marca roxa no seu pescoço, de um "chupão". Segurei seu rosto o virando afim de confirmar a origem daquela marca, não era minha, eu odiava esse tipo de coisa.

- Ah Lauren... me diz que eu não estou vendo isso... – comecei a chorar querendo acordar daquele pesadelo.

- Camz...meu amor... – se aproximou de mim.

- Não chega perto de mim Lauren, você está com o cheiro dela, ela deixou uma marca no seu pescoço, que vulgaridade Lauren! – gritei com toda decepção que me tomava.

- Meu amor, foi um momento de fraqueza, mas não aconteceu nada demais, só uns beijos, até eu expulsá-la da minha sala...e...

- Fraqueza? Só uns beijos? Um beijo é muita coisa Lauren, que dirá uns... – eu gritava e chorava copiosamente – O que você sentiu? Você ainda gosta dela?

- Não sei, não sei... ainda estou em choque... e...

- Não sabe? Lauren a gente está noiva! Até ontem estávamos nos preparando para o nosso casamento e você não sabe se gosta ou não de sua ex-namorada?

- Eu só sei que te amo... por mais que eu tenha essa história mal resolvida com a Keana é com você que eu quero passar o resto da minha vida!

- História mal resolvida? Então vamos fazer o seguinte, você trate de resolver bem essa história, e depois você me procura, tá? – disse com o rosto banhado em lágrimas.

- Camz não faz isso comigo...

- Vai embora Lauren... sai da minha casa.

Aquela noite foi tenebrosa, Lauren saiu em prantos do meu apartamento, e eu não tinha forças sequer pra tomar banho, pensava em tudo que ela me contara, pensava no quanto ela sofreu e pior, lembrava do rosto daquela mulher, imaginando elas se beijando até sugar o pescoço da minha noiva... Queria matá-la, queria bater em Lauren, queria arrancar aquela dor do meu peito.

Na manhã seguinte, acordei com a mesma roupa do dia anterior. Enquanto tomava banho, pensei em Lauren, imaginando como ela estaria, lembrei de cada detalhe de sua história e pensei comigo mesma: "não posso deixar aquela mulher me roubar a Lauren, ela tem que saber que Lauren não é mais aquela menina que ela poderia comprar e manipular, Lauren é minha!". Sabia que ela não trabalharia de manhã, combinamos de ver um salão de festas para nossa cerimônia de casamento. Resolvi fazer uma surpresa, saí apressada ainda com os cabelos molhados para o apartamento de Lauren.

Aproveitei a porta aberta por outro morador do prédio e subi direto para o apartamento dela. Passei numa padaria e comprei sonhos de doce de leite, Lauren adorava. Toquei a campainha, em poucos minutos, vivi um pesadelo, Keana atendeu a porta só de roupão.

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