As vezes o que precisamos é colocar para fora aquilo que nos torna fraco, o que nos deixa vulnerável, para podermos seguir em frente. Precisamos sair da nossa zona de conforto para poder descobrir o que o mundo nos reserva de verdade.
Os sentimentos reprimidos, as lágrimas reprimidas e até mesmo as palavras guardadas.
Mas eu sou fechada mesmo, sou tímida e tenho medo de me machucar novamente.
Sempre me pergunto como eu sou, porém as vezes nem eu mesmo me conheço. Tem pedaços de mim que são apenas fragmentos que sobraram após a dor da rejeição e outra parte vive na sombra do medo de me entregar novamente. Mas até quando irei guardar esse sentimento dentro de mim? Toda vez que eu a vejo sinto que vou enlouquecer. Ela me rouba com apenas um sorriso, por ela atravessaria o deserto e contaria as gotas de água do oceano.
Sim, eu tenho sentimentos profundos por ela, isso não consigo mais esconder de mim mesma. Mas a questão é: será que ela também gosta de garotas?
Ser uma garota lésbica em meio a uma turma de garotas héteros cheias de hormônios que só pensam em garotos é muito constrangedor. E esse é também um dos motivos de ser fechada pro mundo, porque não tenho amigos que sejam iguais a mim, acredito que me sentiria mais confortável em me abrir, em poder conversar.
Meus colegas só falam de sexo, de baladinhas e amassos após as aulas. Enquanto eu só quero que a aula acabe logo para eu correr até ela, na desculpa de comprar algo quando na realidade o que realmente desejo não se encontra em nenhuma gôndola daquele supermercado.
Esqueci de me apresentar! Sou Ana Paula, tenho 24 anos, faço faculdade de jornalismo, moro com minha mãe e meus dois irmãos mais velhos. E sim, sou lésbica, acredito que já nasci assim, pois nunca sentir atração por garotos apesar de ter vários amigos homens, nunca nem quis experimentar ficar com algum deles. E não é que eu sinta repulsa ou nada disso, eu simplesmente não consigo me imaginar em um relacionamento com nenhum garoto. Por outro lado, sempre me pego admirando as garotas da minha turma.
Aos 16 anos tive minha primeira experiência homossexual, e foi uma tragédia, pois a garota era bisexual e após 3 anos de namoro ela acabou me trocando por um garoto. E isso acabou comigo. Esse é um dos motivos de me fechar pro amor e sentir pavor em revelar meus sentimentos.
Olha eu novamente aqui perdida em meio as pessoas que passam pelos corredores, todas elas com pressa pra chegar logo em suas casas, enquanto eu fico apenas olhando as gôndolas na esperança de encontrar algo que me interesse, mas a realidade é que sempre procuro uma desculpa para entrar nesse supermercado, e acabo sempre observando de longe a garota que faz meu coração balançar, minhas pernas tremeram e o ar não chegar em meus pulmões.
Sei o horário que ela chega, por isso venho sempre no mesmo horário. De longe, observo o ritual que ela faz todos os dias. Ela organiza suas coisas, limpar sua cadeira, recolhe o lixo da lixeirinha e o leva até o latão de lixo, em seguida coloca sua jaqueta na cadeira e só então ela senta para dar início ao seu turno.
Ela passa as compras dos clientes sempre sorridente. Essa cena deixa meu coração em total descontrole. Porque ela é tão linda assim, e porque tem que ser sempre gentil com todos?
Sem nem notar, pego qualquer coisa na gôndola e caminho até o caixa, meu corpo parece até um metal e ela o ímã que me atrai.
Geralmente evito passar no caixa dela, pois tenho medo da minha reação, porém dessa vez minha pernas assumiram o controle e quando percebi já estava na frente dela, encarando aqueles olhos cor de mel.
Petrificada fiquei, observei seus cabelos cacheados, eles ainda estavam úmidos, a forma que seus olhos se fechavam quando ela sorriu em minha direção, de repente me dei conta onde estava e isso me apavorou.
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A Garota do Caixa
Short StoryAna Paula é uma garota tímida e reservada, ela guarda um amor em segredo por uma garota, porém devido um acaso ela acaba encontrando uma forma de se comunicar com ela.