Quando finalmente meu despertador tocou, não tive coragem de sair da cama. Ainda estava sonolento, lerdo, sob efeito dos remédios.
Eu não aguentaria ir.
Mas eu tinha, certo? Tinha que continuar os projetos, teria uma reunião mais tarde pra decidir se a proposta do mês passado tinha dado certo e... Ah, meu Deus, eu tiraria as fotos hoje.
Quer dizer, Natasha tiraria, eu só seria o modelo.
Levantei e me olhei no espelho do armário. Se eu não tivesse tomado os remédios e estivesse assim, a situação seria mais que deplorável. Como eu tomei, a situação era... O normal que deveria ser.
Olheiras, um sentimento de tristeza passando pelos meus olhos e a feição de quem não tinha tido uma boa noite de sono.
Eu não poderia de jeito nenhum aparecer nas fotos assim.
Por Deus, não.
Teria que cancelar tudo. Daria trabalho, mas eu realmente não estou em condições de ser sociável hoje. Nem só por causa da minha aparência, mas meu humor está uma droga.
Nem Scooby estava perto, parecia que sentia que...
— Scooby! — pra eu estar em casa e ele não estar perto de mim, ou estava comendo ou aprontando. E eu jurava que era por causa do segundo. — Scooby! Se eu te pegar comendo alguma coisa que não devia...
Saí do quarto, um pé de chinelo faltando, a procura do meu cachorro caramelo. Eu preferia não tê-lo encontrado. Ao menos, não nessas condições...
— Ah não, minha almofada não, Scooby! — puxei a almofada da boca dele, o que em todo caso, foi uma péssima ideia porque ele não soltou — Larga. Anda. Vamos, Scooby. Larga a almofada!
Ele só rosnava pra mim, quanto mais eu balançava pra tirar aquilo dos dentes dele. Scooby via como diversão, eu via como minha morte na certa.
Quando ele finalmente soltou, caí de bunda no chão e ele veio tentar pegar a almofada de novo.
— Não não. Chega, Scooby. — olhei o estrago feito nela e fiquei boquiaberto. Não era possível que um filhote em transição conseguia fazer uma coisa dessas. — Você não tem brinquedo não?
Ele me olhou confuso, querendo carinho.
— Pelo menos eu tenho um motivo plausível pra jogar isso aqui fora. Minha mãe nunca teve bom gosto. — suspirei, decidindo se dava o resto pra ele destruir ou se jogava fora logo. Pensei na sujeira que eu teria que limpar e era melhor que não tivesse mais. Aquilo ia pro lixo agora. — Que ela não escute eu dizendo essas coisas. — murmurei — Mas ela nunca vem aqui, não é Scooby? Não vai nem saber da almofada destruída.
Embrulhei a ex almofada numa sacola e a joguei no lixo. Scooby choramingou, como se estivesse triste que seu "brinquedo" tivesse tido esse destino.
— Você tem diversas coisas pra destruir e escolhe logo as minhas? — perguntei indignado — Que tal destruir o que sua tia Wanda me dá? — ele latiu em resposta, animado — Só nos seus sonhos, sua tia tem bom gosto e vem muito aqui. Até demais.
Abri a geladeira e tirei a garrafa, bebendo do gargalo mesmo. Era só eu em casa e raramente recebia visitas.
— Você está precisando passear. Distrair, esfriar a cabeça e parar de destruir minhas coisas. Vamos tomar café e depois vamos pra rua.
Mandei mensagem pra Mariana, avisando que não iria. Não estava me sentindo bem.
Pensei em mandar mensagem pro Steve, mas mandei um "oi" e me arrependi logo em seguida, apagando. Ele com certeza perguntaria o que era aquilo e se eu precisava conversar. Droga. Não podia ter ficado quieto?
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You're Losing Me
ContoSteve Rogers já tomou muitos baques da vida, mas ele nunca esperou adicionar o da noiva a conta. Ex noiva, aliás. Por causa da proposta de emprego, Steve vai para o Brasil, onde tenta recomeçar sua vida sem as sombras do passado que o perseguiam dia...