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Eric desliza o dedo sobre o vidro gelado que havia embaçado durante a chuva, imaginando se as palavras que Sunwoo lhe dirigiria quando o visse fossem ser tão frias quanto a temperatura de agora.

Ele suspira, aquela não era a hora para se precipitar. Ao virar para trás, seus olhos passeiam pelas caixas ainda fechadas sob a meia luz do quarto. O dia estava nublado em um clima pós chuva, dificultando que seu novo quarto recebesse a luz natural.

Seu telefone toca em meio ao silêncio, a música soa abafada de dentro de seu bolso.

ㅡ Alô? ㅡ Eric diz, e logo sorri ao reconhecer a voz da mãe. Mal havia olhado a tela do celular antes de atender. ㅡ Sim, cheguei bem. Ainda lembro das ruas daqui, não precisa se preocupar.

Eric aperta os lábios um contra o outro, colocando a mão livre no bolso de trás.

ㅡ Eu ainda tenho muita coisa pra arrumar, mas vou deixar pra depois justamente para fazer isso. Não quero perder tempo.

Após explicar brevemente seu planejamento para o dia, Eric desliga e suspira pesadamente, mas não por cansaço ou temor. Ele havia mudado bastante nos últimos três anos, e a sensação de ansiedade pelas mínimas coisas já não se fazia presente. No entanto, sabia que ainda não estaria totalmente imune à tristeza que poderia o atingir caso Sunwoo não tivesse espaço em sua vida para ele, caso não quisesse ouvir qualquer palavra que saísse de sua boca mesmo após tanto tempo. Eric senta na cama com pesar, apoiando a testa nas mãos juntas.

ㅡ Eu espero não ter te perdido ㅡ sua voz sai mais como um sussurro. ㅡ Por favor, que eu não tenha te perdido.

.

O céu ainda não havia aberto, mas o vento agradável e o cheiro de grama molhada eram o suficiente para tornar o dia bonito e agradável. Eric sentia o coração bater forte no peito, sensação que lhe atinge ainda mais quando dobra a esquina e enxerga sua antiga casa ao longe. Seu passo se interrompe por um instante até que ele possa analisar tudo. A grama estava perfeitamente aparada e as luzes do lado de dentro estavam acesas. Ele então se sentiu feliz por saber que alguém estava cuidando bem de seu antigo lar.

Ao chegar perto da porta, no entanto, ele relembra que foi exatamente ali onde viu Sunwoo pela última vez. Lembrou-se do choro dele, do próprio aperto na garganta. Uma imagem vívida que jamais se apagou de sua memória por completo.

ㅡ Ei, você aí ㅡ uma mulher idosa surge na janela. Eric se aproxima.

ㅡ Oh, olá!

ㅡ Precisa de alguma coisa? Está parado aí faz tempo, você me assustou.

Ela diz com desdém, lançando-um olhar afiado. Eric sorri suavemente e balança a cabeça. Mas antes de responder, nota que as coisas do lado de dentro não ficaram muito diferentes, tirando o tapete novo e as almofadas que agora eram bem estampadas e com tons de rosa claro. Eric não consegur conter o sorriso, quase se esquecendo da mulher ali.

ㅡ Não era nada. Desculpe pelo incômodo.

Ele se afasta do olhar desconfiado dela e finalmente segue seu rumo para o local onde tanto ansiou em ir.

A casa de Sunwoo.

Só o pensamento de vê-lo outra vez já lhe fazia ter vontade de chorar, talvez de gritar. A própria rua onde estava lhe trazia lembranças. O acidente de Sunwoo, e o segundo acidente que não aconteceu porque Eric estava lá. O jeito como o ruivo olhou em seus olhos. Seus cabelos vermelhos. Sunwoo ainda teria os cabelos da mesma cor? Estaria diferente? Talvez mais poético ainda, e o pensamento breve faz Eric sorrir.

Talvez com outro alguém.

Eric engole o nó na garganta, preferindo pensar que o mais importante era que ele estivesse bem, por mais que desejasse, bem lá no fundo, que Sunwoo ainda estivesse esperando por ele. Era um desejo egoísta e mal pensado, mas era tudo o que ele precisava para seguir em frente, e quanto mais ele chegava perto da casa, mais ele queria dizer que não havia o esquecido por um minuto sequer, e que em todos os dias em que olhou para a lua desejou que Sunwoo se lembrasse dele também. Seus olhos se enchiam de lágrimas a cada passo. Por favor, esteja aqui. Eric corria. Seu coração implorava para poder vê-lo mais uma vez. A saudade lhe machucava como fez em cada dia que passou longe. Me diga que ainda há tempo.

Eric acelera o passo e finalmente para na entrada. Suas pernas trêmulas e a respiração fora de controle. As lágrimas que ele não conseguia controlar. Já fazia tanto tempo.

ㅡ Sunwoo! ㅡ ele grita sem pensar direito. ㅡ Eu estou aqui! Sunwoo!

Eric soluça, reconhecendo que estava agindo feito um idiota. Ele balança a cabeça, como se algo o dissesse secretamente que já era tarde.

Então ele lê o aviso na porta.

"À venda."

E nota a falta de iluminação na casa, e nota que o número de telefone deixado foi rasgado pelo tempo, pelas chuvas. E seu coração aperta da mesma forma que suas mãos apertam os joelhos quando ele já não tem força o suficiente para se manter em pé.

ㅡ Eu acho... ㅡ ele sorri entre as lágrimas, querendo que tudo na passasse de um sonho. ㅡ Que cheguei tarde.







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oiiii!!! estão sobrevivendo?

eu vim agradecer a quem está acompanhando e gostando da história. aliás, estamos finalmente na reta final!!!
continuem votando e comentem o quanto quiserem (só não me batam antes da história se concluir por favor 😣🙏🏻

vocês são todos amados por mim, cuidem-se e até logo~ ♡

shades of 𝙧𝙚𝙙 • sun.ricOnde histórias criam vida. Descubra agora