Exatamente cinco dias.
Cinco dias que eu estava nesse inferno.
Eu não aguentava mais. Meu corpo estava exausto, minha mente cansada e minha cabeça doendo. Meus olhos não conseguiam mais se manter abertos durante tarefas cotidianas... Parecia que cada vez mais eu estava sendo puxada para o fundo do poço, se é que eu já não estava no mesmo.
No entanto, hoje havia sido diferente. Pela manhã, quando notei que já não daria tempo de tentar me fazer dormir, chorei o quanto pude, surtei, e berrei para os ventos que não aguentava mais. Vovó talvez devesse ficar preocupada com a minha saúde mental. Durante o caminho para o trabalho, me mantive pensando em como seria me jogar da ponte e acabar com o vazio que se mantia dentro de mim.
E era isso que eu estava fazendo agora. Encarando a ponte que provavelmente os corpos de Jacob e seus amigos teriam sido achados. Mas nada se passava mais na minha cabeça, a não ser o som do mar batendo contra as pedras lá em baixo.
Era como se por alguns segundos, a paz tivesse reinado em minha mente.
Toco a borda do limite da ponte, me inclinando para observar melhor as águas lá em baixo. Estava atrativa. O som das ondas e a brisa que batia contra o meu rosto, pareciam cantar para mim. Continuei observando, e me entretendo com o som. Fecho meus olhos, respirando fundo e exalando meus pesares.
Estava tudo tranquilo, até eu sentir a sensação de estar sendo puxada para longe, me assuntando. E então, vejo olhos escuros como a noite me encarando.
Eram lindos, moldados pelos extensos cílios escuros, e um leve puxar nos cantos, os deixando em um formando belíssimo... No entanto, estavam sérios e frios, até frios demais, o que me fez arrepiar.
ㅡ O que pensa que está fazendo? ㅡ sua voz ecoa por meus ouvidos, ativando um certa lembrança de que eu já havia a escutado, mas nada me veio à mente.
Parecia que eu tinha perdido a capacidade de raciocinar.
Me afasto bruscamente ao perceber que era um estranho ali, me segurando pela cintura firmemente. O encaro por alguns segundos, agora observando melhor a sua feição. Era um homem, mais parecido com um anjo de tão lindo. Traços fortes, mas ao mesmo tempo delicados, parecidos terem sido feitos à mão.
Meus olhos pulam para as tatuagens em seu pescoço, e depois observo os braços cobertos pelas mangas pretas do casaco, me pegando tentando adivinhar se tinha algumas mais por ali.
ㅡ Eu só estava observando a água. ㅡ digo, e logo o encaro ao perceber que não lhe devia informações, mesmo assim fico quieta.
Eu não havia percebido seus passos, o que devia indicar o quão distraída eu estava.
Ele ergue uma sobrancelha, e continua me encarando, sem desviar nem por um segundo.
ㅡ Estava quase subindo no muro, garota.
Pisco algumas vezes, me dando conta.
ㅡ Ah! E-eu não ia fazer o que você está pensando...ㅡ sorrio sem graça. ㅡ Mas obrigada, do mesmo jeito.
ㅡ Você ia pular. ㅡ diz, com certeza, o que me faz franzir o cenho.
ㅡ Eu não ia. ㅡ digo, confusa por ele insistir no assunto. ㅡ Tá tudo bem, moço. Eu só estava dispersa...
O homem me analisa por um breve momento, antes de pôr as mãos no bolso do casado e dizer:
ㅡ Tome cuidado da próxima vez, você ia acabar caindo do mesmo jeito se continuasse se inclinando.
Engulo em seco, e assinto, permanecendo em silêncio.
ㅡ Qual é o seu nome? ㅡ pergunta, parecendo menos tenso.
Pisco algumas vezes, cogitando se falava a verdade ou não.
ㅡ Ah... Marie. ㅡ respondo, mesmo não estando a fim de conversa. Aliás, ele havia sido gentil. ㅡ E o seu? ㅡ pergunto por educação.
ㅡ Ian. ㅡ relaxa o olhar, e sinto uma pontada em minha nuca. ㅡ Clarke...ㅡ um leve arrepio...ㅡ Schultz.
Levo minha mão ao lugar dolorido na nuca, e é quando seus olhos pulam para a minha pulseira.
ㅡ O que é isso? ㅡ franze o cenho.
Esfrego o indicador na tatuagem, sentindo um leve choque agora. Ian me encara rapidamente, o que me faz tirar a mão dali e olhar a pulseira artesanal de minha avó.
ㅡ Um amuleto de proteção. Minha avó é supersticiosa. ㅡ sorrio levemente.
ㅡ Sua avó...? ㅡ repete, mas não parece uma pergunta.
Mesmo assim, assinto e desvio meu olhar para ele, que ainda me encarava. Mas seus olhos estavam mais sombrios agora, me assustando um pouco.
ㅡ Ah... Acho que tenho que ir.ㅡ ponho as mãos no bolso do casaco também.ㅡ Valeu, aí... Ian. ㅡ ele não responde, então sorrio fraco e me viro para ir embora.
Embora eu ainda sentisse o seu olhar fervente nas minhas costas, continuei caminhando, sentindo a tatuagem parar de latejar conforme eu me afastava.
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Me And The Devil ( Em Andamento)
RomanceEssa é uma história de uma garota chamada Marie. Marie tem uma vida normal, até se ver como posse de alguém sombrio. Tudo começou quando em uma noite, que deveria ser de celebração, se torna de terror após Marie passar por uma experiência de quase...