Capítulo 3, Pixies.

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彡★ Capítulo 3, Pixies:  

Acordei bem cedo, tentei voltar a dormir, mas aquele sonho me deixou desperta por um bom tempo. Quando finalmente levantei, senti como se tivesse sido arremessada de um prédio; meu corpo todo doía, e o hematoma no meu braço latejava ainda mais. Fiz uma careta e soltei um gemido de dor ao me espreguiçar. Fui até o guarda-roupa e peguei um conjunto simples: calça preta e uma blusa roxa com um bolso acima do peito. Recentemente, tenho desenvolvido uma preferência por roupas com bolsos, graças a Francisco, que adora se acomodar neles.

Como hoje não vou trabalhar, meus planos para a esta manhã são ajudar minha mãe o máximo possível. A barriga dela está enorme, e ela precisa descansar. Antes da gravidez, nós revezávamos nas tarefas domésticas, já que todos passavam o dia fora. Cada um fazia sua parte em horários diferentes. Agora, com minha mãe no final da gestação, ela não aceita ficar quieta e só sossega quando está fazendo algo, apesar de todos dizerem que ela precisa descansar. Mas sempre que falamos isso, ela revira os olhos e ignora.

Comecei varrendo a casa e espanando os móveis – os poucos que temos. Quando cheguei na sala, vi que Francisco ainda estava deitado em cima da televisão, aparentemente dormindo.

— Que bichinho preguiçoso, hein.

Peguei Francisco com cuidado e o coloquei no bolso da minha camisa antes de espanar a TV. Depois de terminar as tarefas domésticas, fui à cozinha preparar algo para todos. Modéstia à parte, sou uma ótima cozinheira. Abri o armário e encontrei pão e geleia, o de sempre. Fui até a geladeira e vi mais alguns ingredientes: ovos e queijo.

— Pensando bem... a vizinha tem uma horta. Se ela já estiver acordada, posso pedir algumas coisas a ela. — murmurei para mim mesma.

Destranquei a porta de casa, tomando cuidado para não ser notada, olhei para o céu nublado, que não indicava chuva. Fui até o quintal da dona Vilma e para minha sorte, ela estava varrendo a calçada.

— Bom dia, dona Vilma! — Cumprimentei-a com um sorriso, debruçando-me sobre o muro.

— Bom dia, Jade! Está tudo bem com você? O que aconteceu ontem...

— Estou bem sim, dona Vilma, não foi nada demais. — cortei sua fala, sentindo meu sorriso vacilar. Que povinho fofoqueiro. — A senhora se importa se eu pegar um pouquinho de coentro?

— Claro que não, pegue à vontade! Nem precisava pedir — disse ela, com um gesto de desdém.

Agradeci rapidamente e entrei no quintal para colher umas folhas de coentro. Dona Vilma é muito prestativa, mas também bastante curiosa. Se você quiser saber qualquer coisa sobre a vida de alguém daqui, ela é a pessoa certa. Passa a maior parte do dia na rua, acompanhando tudo. As más línguas dizem que vai acabar morrendo na rua, assim como o marido, que também adorava bisbilhotar. Peguei uma boa quantidade de coentro, o suficiente para o que precisava, e voltei para casa.

Abri a porta com cuidado para não fazer barulho, e foi nesse momento que algo estranho aconteceu: senti uma fisgada aguda na cabeça, como se mil agulhas me atravessassem o crânio. Precisei me apoiar na porta para não cair. Uma voz ecoou dentro da minha mente: "Ache o livro, venha ao meu encontro."

A dor era tão intensa que me sentei no chão, pressionando as têmporas com as mãos, tentando controlar a respiração. E assim como começou, a dor desapareceu repentinamente. Confusa, levantei-me devagar, tentando ignorar o ocorrido. Talvez fosse só o resquício do estresse de ontem... ou quem sabe eu estivesse enlouquecendo.

Quando todos acordaram, praticamente tudo já estava feito: a casa limpa e a comida pronta. Minha mãe estava de bom humor e sugeriu que fôssemos ao pomar juntos. Claro que ninguém concordou, mas a opinião dos outros não mudaria a dela, então fomos de qualquer maneira. Na mesa, notei que o humor dos meus pais havia mudado misteriosamente de ontem para hoje. Estavam me tratando como uma criança, como se eu fosse surtar a qualquer momento, e eu tenho certeza de que isso é por causa do que aconteceu ontem, não vou mentir, estava gostando um pouco.

O feiticeiro e o deserto.Onde histórias criam vida. Descubra agora