Susto

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Senti um longo arrepio percorrer meu corpo enquanto engolia seco. Nem o vento frio e forte que golpeava meu rosto foi capaz de secar o suor que imediatamente surgiu no meu rosto ruborizado.

- Onde está me levando? – Tentei novamente.

- Para um passeio. – Respondeu desdenhoso.

Decidi ficar em silêncio. Pensei em tentar sair da moto na próxima parada, mas ele ultrapassava todos os sinais vermelhos e dirigia em alta velocidade. Eu estava assustada.

Após alguns minutos que pareceram anos, entramos em um pequeno bairro com ruas estreitas e muitas casas apertadas. O lugar era estranhamente silencioso.

O cara fez sinal para eu descer da moto e assim que eu coloquei um dos meus pés no chão ele segurou meu punho, lendo meus pensamentos.

- Acho melhor não. – Falou sério, olhando para frente.

Ainda segurando meu pulso, descemos da moto e ele me puxou levemente em direção à entrada de um prédio antigo, com uma fachada amarela suja pelo tempo. Vi que ele digitava alguma coisa no celular.

De repente um menino surgiu na entrada do prédio. Ele abriu a porta e sinalizou para entrarmos. Estava com tanto medo que não consegui notar muito sobre esse menino, tudo que me lembro é que seu cabelo era colorido.

Subimos dois lances de escada em absoluto silêncio, apenas as respirações se misturando no ar. Paramos em frente ao número 301 e entramos.

Era um apartamento mal mobiliado e muito pouco iluminado, a principal fonte de luz era uma grande televisão na sala que exibia um clipe de metal em volume extremamente baixo. Não havia ninguém a vista.

Eles continuaram andando por um corredor em direção a um cômodo nos fundos, que estava com a porta fechada. Bateram à porta e então ouvimos uma voz grossa lá de dentro:

- Que demora!

Entramos no quarto, que parecia melhor iluminado que o resto da casa, além de melhor arrumado e limpo. Havia um laptop em uma mesa, alguns papéis e um quadro muito estranho na parede.

Um garoto de aproximadamente uns 18 a 19 anos estava sentado no chão fumando um cigarro. Neste momento senti uma horrível vontade de fumar e me dei conta do tempo que já estava sem fumar.

Ele olhava para baixo, como se divagasse, enquanto tragava lentamente um cigarro longo. Estalou o pescoço para os dois lados, respirou fundo e então olhou diretamente nos meus olhos.

- Bem vinda, queria falar com você. – Disse.

- E-eu... quem é você? Por que me sequestrou?

Ele tinha os cabelos pintados de loiro, sua pele era mais morena que a minha. Usava óculos que não escondiam suas sobrancelhas arqueadas que davam um ar extremamente perigoso a todo o conjunto.

- Sou um amigo. Um amigo de Keisuke e agora quero ser seu amigo. – Respondeu esforçando-se para esconder a malícia nos olhos.

- Amigo do Baji? Isso não faz o menor sentido. E você não respondeu a minha segunda pergunta. – Me esforcei para manter contato visual com aquele olhar cortante.

- Eu não te sequestrei. Eu te trouxe até mim de forma rápida. – Disse sem qualquer emoção.

- Então eu posso ir embora? – Eu estava quase gritando.

- Por que a pressa? Estamos só conversando. – Ele atirou o cigarro apagado a vários metros de distância com um peteleco.

- O que você quer? – Disse impaciente.

- Eu e Keisuke temos uma amizade longa mas recentemente ele tem aprontado muito, foi até parar no reformatório. Fiquei sabendo que vocês estão ficando e eu queria contar com você pra me contar as coisas que ele anda fazendo, me ajudar a segurar ele.

- E-eu...- Comecei.

- Importante: Ele não pode saber desse nosso acordo. – Ele me interrompeu, seus olhos ligeiramente arregalados.

- Eu não sei, não somos assim tão próximos. Nos conhecemos há poucos dias. – Eu realmente estava confusa, no fundo eu queria ajudar o Baji a não se meter em encrencas.

- Você é a pessoa ideal pra isso. Ele gosta de você, as notícias voam. – Abriu um meio sorriso.

Fiquei alguns instantes em silêncio com aquela informação e no fim me recusei a acreditar. Nada daquilo fazia sentido, muito menos Keisuke estar gostando de mim.

- Eu não acho que vai dar certo. Minha resposta é não. – Disse decidida.

- É uma pena que não queira ajudar a cuidar dele. Infelizmente já sabemos o que vai acontecer. – Ele olhou para um dos outros garotos erguendo as sobrancelhas, como se fosse inocente de tudo.

- Calma! Como eu te passaria essas informações? – Era uma má ideia, mas eu estava desesperada.

- Eu dou um jeito de nos encontrarmos sem levantar suspeitas, isso é comigo. – Sua frieza me assustava.

- Ok. Mas eu pulo fora a hora que eu quiser tá? – A tensão do ambiente estava me matando.

- Como quiser. – Balançou a mão no ar com elegância e deboche.

- Eu vou embora. Agora. – Me virei para a saída.

Andei por entre os outros meninos sem olhar para trás e atravessei o corredor com pressa alcançando a porta em alguns segundos. Olhei rapidamente para trás pra ver se alguém me seguia e fiquei aliviada ao ver que não.

Desci as escadas o mais rápido que pude, o sentimento de medo não deixava meu corpo. Como o Keisuke poderia ter amigos tão barra pesada?

Cheguei na rua e em poucos instantes consegui fazer sinal para um taxi. Eu tinha uma vaga ideia de onde estava, um pouco longe de casa, mas ainda na região central.

Tentei acalmar minha respiração no taxi enquanto organizava os pensamentos. Não era tão ruim assim, afinal eu só estava ajudando o Baji.

O taxi cruzou rapidamente as ruas de Tóquio e chegou na frente da minha casa. Paguei e desci, me sentindo exausta. Andei lentamente em direção à porta, ainda com os pensamentos confusos e então ouvi um barulho atrás de mim. Virei e não havia ninguém, virei novamente em direção à porta e lá estava ele.

- Onde...você...estava? – Ele falava em um ritmo misto de ofegante com ansioso.

- Eu me perdi. Tive que pegar um taxi. – Menti, pessimamente.

- E levou esse tempo todo? Eu rodei por vários minutos de moto te procurando. – Ele estava muito desconfiado, seu cabelo preso tinha alguns fios soltos que o deixavam com o ar ainda mais caótico.

- Eu demorei pra perceber que estava perdida. Desculpe. – Eu mal conseguia encará-lo nos olhos.

Ele ficou alguns segundos me olhando com as sobrancelhas erguidas, como se estivesse prestes a me dar uma bronca ou algo do tipo.

E então me puxou para um abraço apertando e cheirou meu cabelo.

- Não me assusta mais assim. 

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⏰ Última atualização: Jun 14, 2023 ⏰

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Prenda-me. - Keisuke BajiOnde histórias criam vida. Descubra agora