Bruxaria na idade média

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De acordo com o juízo comum, magia e bruxaria estão mais ou menos numa relação de sinonímia, embora magia assinale algo mais elevado, mais nobre, mais decoroso: a magia pode ser perigosa e terrível, mas nunca é desprezível. Merece nosso desprezo somente na medida em que se revela ser engano ou mentira, o que, no entanto, acontece muitas vezes.

A magia pode ser "natural" ou "cerimonial". Essa instituição é muito antiga e se destaca desde o século 13, ou seja, desde que alguns pensadores cristãos, muito zelosos na defesa de sua própria ortodoxia, mas também, ao mesmo tempo, interessados naquela ciência da natureza que possuía tantas relações com o pensamento mágico, quiseram separar, com muito cuidado, uma magia "natural", dirigida apenas à investigação do universo, e uma magia "cerimonial", caracterizada pelo emprego de meios e cerimônias idôneos para invocar os espíritos. A primeira forma de magia era, evidentemente, - do ponto de vista cristão - legítima, a segunda não. Os pensadores que introduziram e ampararam esta instituição foram homens como Alberto de Colónia (o mestre de Tomas de Aquino), Roger Bacon, Ramón Llull. Mas, na verdade, os investigadores modernos puderam demonstrar que tal distinção fica no nível teórico e que, na prática, na própria magia "natural" havia muitos elementos "cerimoniais" (Zambelli, 1973). Isto ficou mais claro no Renascimento, com exemplos de sábios como Massilio Ficino, Nostradamus, Paracelsus, Agrippa de Netteshein.

Porém, sempre segundo o juízo comum, a magia "natural" e mesmo a magia "cerimonial" não têm nada a ver com a bruxaria. O discurso é diferente se usamos outras distinções, na verdade menos antigas e autorizadas, mas infelizmente difundidas hoje em dia: da "magia branca" e "magia negra", por exemplo, que nasce de muitos equívocos; ou aquela - muito empírica - da "alta magia" e da "baixa magia" ("baixa" seja no sentido de vulgar, material ou de terrena e mesmo demoníaca.)

Na verdade, todas estas distinções têm uma raiz nobre. Trata-se do De Civitate Dei ou do Divinatione Daemonium de Santo Agostinho, obras nas quais - com forte sentido polêmico contra os gnósticos - ele discute a distinção gnóstica entre duas formas de invocar os espíritos e de dominar, através de sua sabedoria, a natureza, ou de conhecer o futuro com a sua ajuda. Estas duas formas são, em grego, a teurgia ("arte de atuar com os deuses") e a goeteia ("arte de atuar com as coisas da terra, da matéria"). Atuando em teurgia, diziam os gnósticos, referimo-nos apenas a espíritos bons, puros, superiores, com cerimônias puras e em situações sempre boas; atuando em goeteia (o que permanecia, ao nível teórico, coisa vergonhosa e perigosa, pois proibida), entramos em contato com espíritos maus, inquietos, infelizes, que buscam sacrifícios impuros para manifestarem-se e sempre gozam com o sangue e outras coisas sujas. Com esses espíritos só se atua quando se quer fazer o mal.

A resposta de Santo Agostinho aos gnósticos sobre esse ponto coincide com a fundação da demonologia cristã. Esclarecendo que a goeteia é, sem dúvida, ciência diabólica, Agostinho demonstra que a teurgia também o é, porque os únicos espíritos que querem entrar em contato com os homens, sem a ordem de Deus, são espíritos maus.

Podemos, de toda maneira, aceitar a visão comum, que faz coincidir "baixa magia" e "bruxaria"?

A resposta a essa pergunta, se quer ser correta, tem que ser colocada em dois níveis distintos: histórico e antropológico. No histórico o saber mágico apresenta-se como um conjunto complexo de fatores, uma "visão do mundo" orgânica, que também permite a ação prática nas coisas. Há, sem dúvida, na fenomenologia do ato mágico, rituais que se podem aproximar da feitiçaria ou da bruxaria, mas a distinção está, seja no método, seja no plano da sabedoria e do conhecimento. O mago age porque e na medida em que conhece as relações entre as coisas; a bruxa só conhece, e de forma mecânica, alguns atos que determinam alguns efeitos nas relações de causa e efeito.

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