20 | i love to love you, i hate to hate you.

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DOWNTOWN MIAMI, MIAMI

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DOWNTOWN MIAMI, MIAMI.

Era isso. Agora já se passavam das uma da manhã, e eu estava bêbada em uma corrida clandestina, onde a única outra pessoa que eu conhecia não estava nem aí para mim.

Sei que já dancei inúmeras músicas, corridas já aconteceram, e nessa altura do campeonato, Hero estava perto de mim e nem se importava se eu morresse de cirrose. Melhor pra mim.

— Onde tá o seu guarda costas? — Ele perguntou, por cima da música alta. Dei de ombros. — Ele é maluco por deixar você sozinha por aqui.

Um movimento estranho começou perto de mim. Não soube identificar o que era, mas tinha gente brigando em uma roda (não qualquer briga, tipo de amigos, briga de verdade), e eu bêbada simplesmente não conseguia discernir as coisas.

— Vem, eu vou te levar pra casa. — Atkins me segurou pelos pulsos, puxando-me para perto dele. Quase caí, tropeçando nos meus pés. A cerveja do meu copo se espatifou no chão. — Porra, Claire!

A briga aumentou, e Hero começou a me puxar mais fortemente para sei lá onde ele estava me levando. Eu grunhia, mas simplesmente não conseguia me soltar. A baderna ficou mais barulhenta e eu tive vontade de começar a chorar.

— Ei! — Alguém gritou de longe, e eu escutava que estava se aproximando cada vez mais. — Solta ela!

Braços me seguraram, trazendo para perto. Tinha tatuagens, e eu sabia quem era. Só não queria acreditar que ele realmente estava ali.

— O que pensa que você tá fazendo? — Vincent indaga, se dirigindo a Atkins. — Aparecendo por aqui e querendo causar problema? Se manda daqui, Hero.

— O irmão dela vai vir. — Hero comentou, se afastando. — Fica esperto.

Eu estava encostada no muro, de novo, com as mãos na cabeça e zonza. Minhas roupas estavam amassadas (era uma saia jeans preta, uma camiseta branca com uma logo de banda e um moletom por cima) e eu sentia que ia colocar tudo o que eu comi para fora.

— Você tá maluca?

Me assustei. Vincent chegou de supetão perto de mim, me prendendo contra a parede. Minha respiração começou a ficar acelerada, e de uma hora para outra, não o reconhecia mais.

Mesmo sabendo que o nunca tinha reconhecido antes.

Aperece aqui, faz esse show e quase é sequestrada? — Ele pergunta, me olhando ao franzir o cenho. — Claire, o que você tá fazendo com a sua vida? Porra, você tem dezesseis anos, é a porra de uma criança. Deveria estar em casa dormindo, e tá querendo se matar?

As palavras dele me atingiram como facas no peito. Quis chorar como uma criança, mas não deixei as lágrimas caírem. Apenas funguei, olhando para o lado, desejando que ele sumisse dali.

— Porra, onde eu tava com a cabeça quando decidi fazer aquilo com você? — Acho que essa parte ele disse mais para ele mesmo. — Eu não posso ficar limpando a sua barra pra sempre, porra, eu não sou seu pai.

E foi nesse momento que tudo o que eu estava prendendo saiu de uma vez só. Encostei a testa no peito de Vinnie, chorando, deixando tudo sair, e me senti uma criança de fato, porque a única coisa que vinha na minha cabeça era "Eu quero meu pai."

Chorei mais, molhando a camiseta dele, e nessa altura nem sabia qual seria a reação. Não estava nem aí pra isso, na verdade. Não sei o que deu em mim nos últimos tempos.

— Não sei o que tá acontecendo com você esses últimos tempos. — Ele voltou a falar. — Para de chorar, porra. Entra no meu carro, vou te levar pra casa.

[...]

Eu não falei nada o caminho todo. Também não chorei, só fungava. Meu coração doía fisicamente, não como um ataque cardíaco, mas de dor emocional que se torna física.

O que eu tô fazendo da minha vida? Sinceramente, eu também não sei, Vincent.

O sol já saia no horizonte, e eu estava com a cabeça encostada na janela, olhando para as nuvens e com a cabeça definitivamente junto com elas. Nem havia percebido quando Hacker parou seu carro na minha garagem. A casa estava um silêncio total.

— Entregue.

E eu fiquei em silêncio, sem falar nada. Eu estava com vergonha, porque ele havia visto tudo o que eu escondi nesses meses desde que o conheci. Ele viu toda a minha fragilidade, sem nem perguntar. Foi simplesmente entregue de bandeja.

Limpei as lágrimas debaixo dos olhos e sai do carro, apertando os braços ao redor do peito, ainda sentindo dor, sede, tontura, tudo junto.

E ele me olhava. Ele não parava de me olhar.

— Não me olha assim. — Eu pedi, e Vincent estava lá, me ouvindo. — Eu odeio você por me olhar assim.

Era pena, era uma mistura de tudo. E era um olhar tão fraternal... Eu não queria aquele olhar dele.

— Você não é meu pai. Para de me olhar assim.

Comentei, e o vi travar a mandíbula. Hacker desce do seu carro, e caminha até mim, devagar. Ele gentilmente segura o meu rosto, e eu, vagarosamente, o aconchego ali, na minha bochecha.

Ah, garotinha...

E como um passe de mágica, eu volto a chorar. Ele me abraça forte, deixando eu derramar as lágrimas na camiseta dele. Não fazia ideia do que estava acontecendo, o porque daquilo estava acontecendo, mas acho que eu estava com saudades disso.

— Tranque as portas e descanse. Não vá na aula hoje. — Ele me diz, segurando meu rosto e me fazendo olhar para ele. Concordo, fungando, e ele solta um pequeno sorriso. — Eu venho mais tarde pra te trazer comida, tá bom?

— Pode ser mexicana?

— Pode, claro que pode. — Respondeu, e eu soltei um sorriso. Hacker passou os dedos por debaixo dos meus olhos, secando as lágrimas. Ele comprimiu os lábios, chegando mais perto. Porém... — Eu... eu não posso.

E se afastou bruscamente, caminhando de forma rápida de volta para o seu carro. Vi Vincent entrar e dar a partida, saindo arrancando pneus enquanto em Miami o sol já estava fortíssimo.

Todo mundo vai embora, não é? Eu sabia que ele também iria.

EIGHTEEN | VINNIE HACKEROnde histórias criam vida. Descubra agora