Encontros e Acidentes.

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Bruno

Era um dia comum no nosso pequeno apartamento. Caixas de pizza vazias espalhadas pela sala, a bagunça típica que só Ailinha e eu conseguíamos criar juntos. Eu a observava enquanto ela se arrumava com animação para seu encontro especial.

— Só eu mesmo, saindo com um cara que não é meu namorado, no Dia dos Namorados! – ela ergue os ombros do jeito clássico de sempre, com um sorriso largo.

— Não deixa de ser um date. – pontuo. — Ele parecia mesmo afim de você aquele dia na casa do lago.

— Parecia? Ele não disse nada, né? Espero que não, Bruno. – ela se virou bruscamente em minha direção, apontando o dedo na minha cara. — Se você não tiver me contado, vou repensar dividir o apartamento com você.

Caio na gargalhada, ajeitando meu corpo em nosso sofá espaçoso. Aila era um furacão de energia e entusiasmo, sempre irradiando alegria por onde passava. Sua personalidade extrovertida e seu carisma eram contagiantes. Ela tinha uma maneira única de cativar as pessoas, inclusive eu. Enquanto ela dançava e cantava animada, eu sorria, me divertindo com sua empolgação.

Esses dois meses morando com ela têm sido os melhores de minha vida, sem um pingo de exagero. De primeira, pensei nas diversas chances de dar errado, em várias áreas, mas fizemos funcionar. Camila nos ajudou dando entrada, mas conseguimos manter o aluguel com o que ganhamos trabalhando no canal e com as publicidades a parte também. É claro que vivemos pelo nosso trabalho como integrantes no canal, e muito de nosso dia a dia é resolvido na Mansão Loures, mas ainda sim, Aila e eu nos juntamos e nos dispomos a cozinhar pelo menos uma vez na semana por conta própria, aqui em nosso cantinho.

Devo dizer que essa é uma das poucas coisas que não costuma dar certo em nossa rotina, mas nós rimos muito tentando. Nem sequer existe um grande motivo para morarmos juntos, apenas tivemos a ideia, já que éramos as duas pessoas que moravam mais longe do centro de nossa cidade e consequentemente do local de gravações. Acho que desde que a conheci, há aproximadamente um ano, tinha certeza de que conviver com ela seria fácil, e cá estou eu, literalmente dormindo de baixo do mesmo teto que ela quase todas as noites.

— Amigo, falando nisso... – Aila voltou a chamar minha atenção. — Se sabe que o Gu vai vir aqui, né? Não pensamos em sair assim, ser vistos e tudo mais.

Minhas sobrancelhas se franzem automaticamente, por mais que sim, eu me lembrava de que o encontro em questão era aqui. Bem debaixo do meu nariz. O que eu não entendo é a justificativa que aparentemente foi dada.

— Meio estranho ele não querer ser visto com você. – digo em um tom sério.

— Ah, mas é uma data bem específica, Bruno. Se andarmos por aí vão achar que realmente estamos juntos, e é só um lance, por enquanto.

— Tá, entendi. Eu já sei que tenho que vazar, relaxa.

— Sim, mas eu ia te pedir um favor antes. – Aila faz um bico enorme, e suspeito. — Eu tô indo comprar sorvete e outras coisinhas, aí ia pedir pra você dar uma geral aqui... se puder, claro.

Ela diz "se puder", mas já está praticamente na porta, abrindo-a. Meus olhos caem por ela instintivamente, como de costume. Está com uma daquelas calças jeans largas que adora usar, e uma blusa florida branca, com o delineado que sempre luta para fazer. Eu já disse que sei fazer, mas ela não gosta tanto quando tento fazer sua maquiagem.

— Claro, eu faço isso. – respondo, mais baixo do que planejava, pois ainda estava reparando como está linda.

Seu sorriso toma forma novamente, e então me lança um beijo no ar, que rapidamente é pego por mim, que entro na brincadeira.

— Obrigadaaa, eu te amo por isso!

(...)

É claro que não me contive em apenas organizar a casa. Uma ideia havia surgido em minha cabeça, e ao mesmo tempo que funcionava como uma espécie de zoeira, poderia simplesmente dar um passo no clima necessário para que as coisas progredissem entre Aila e Gustavo. Eu sabia que eles já tinham se beijado mais de uma vez, todas elas em lugares que eu não estava, até antes de conhecê-los. Mas agora poderia ser a virada de chave para entender melhor quem esse cara era, e ao mesmo tempo avaliar seu senso de humor.

Eu acendi velas perfumadas, coloquei pétalas de rosas pelo chão e organizei a decoração de acordo com o tom romântico.

No entanto, a perfeição durou pouco. Enquanto tentava equilibrar uma vela no parapeito da janela, acabei derrubando-a. Em segundos, a cortina pegou fogo e o apartamento se encheu de fumaça. O caos se instalou.

Nesse exato momento, ouvi a porta se abrir e Aila entrou. Seus olhos se arregalaram de choque ao ver a cortina em chamas e o apartamento em estado de desordem. Foi como se todo o encanto desaparecesse instantaneamente.

Aila olhou para mim, uma mistura de desapontamento e raiva em seus olhos. Ela não disse nada de primeira, mas eu pude sentir a decepção que estava sentindo.

— Que é isso, Bruno? – ela tentou abafar o grito com uma das mãos. — Mano, você é doido? Você queimou a cortina.

Eis aí um dos pontos negativos em minha amiga de apartamento. Ela gosta muito de te dizer coisas óbvias, que você já sabe que estão acontecendo ou que fez.

Em meio ao desespero, consigo conter e apagar o fogo, que por sorte não se instaurou muito. Ainda sim, o cheiro do cômodo agora estava bem ruim, assim como as cortinas arruinadas e um ou outro objeto estavam largados no chão, pelo susto.

— Calma, acho que deu certo.

— Deu certo? – ela ri, deixando as compras em cima da mesa com certa brutalidade. — Você ferrou tudo. O Gu tá há cinco minutos daqui de Uber.

Sou pego de surpresa pela informação, eles queriam mesmo começar a diversão cedo. Abro a boca para falar, mas é difícil dar uma desculpa boa, sei que para ela é muito mais foda de lidar com isso do que para mim.

— Foi mal, eu sou um idiota. Só tinha tido uma ideia e queria te ajudar a...

— Suas ideias de merda, como sempre. Ninguém te avisou, ainda? – Aila interrompe, mas apenas para falar isso.

No entanto, não consigo nem olhar nos olhos dela depois da frase. Contrariado e com um gosto amargo na boca após o impacto das palavras, pego a chave do meu carro no balcão e deixo o apartamento, torcendo muito para não esbarrar com o bonitão que vai consola-lá pela bagunça feita por mim no meio do caminho.

[Mensagem de Jean: Mano, encosta no Jotta.]
[Mensagem de Jean: Os caras tão aqui, trás a Ailinha se conseguir.]

Jotta era sinônimo para bagunça, bebedeira e pegação. Eu gostava de frequentar esse bar, mas mais por todo o pessoal sempre animar de ir pra lá, mas quando eu enjoava, Aila estava lá para "ser sem graça" comigo, como Jean adorava nos apelidar.

[Mensagem de Bruno: Tô indo, mas só eu. Aila está na "paz" de Deus.]
[Mensagem de Jean: Nem fudendo]

Pois é, cara. Eu também não entendo bem o que ela viu nesse garoto, mas você não escolhe por quem se apaixona, só escolhe o que fazer com isso. E as vezes, escolhemos decepciona-las.

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