Conto

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Dormindo… 

Elyza estava dormindo. Abre os olhos, acordou, não foi por uma posição mal feita, não por um pesadelo, mas sim por insônia. Tateia a mão pela tela do celular olhando a hora no relógio, são 3h41, tem uma ligação perdida de sua mãe de mais cedo. 

Ela olha para o lado mais escuro do quarto onde a luz que sai das frestas da janela não consegue nem iluminar a metade do quarto. Olha com uma cara inchada, voltando a mexer no telefone. 

Ainda não sabe que estou aqui… 

* * * 

Mais que caralho. Por que toda vez sempre é a mesma coisa? Acordo sempre no meio da noite, desse jeito vou ficar parecendo um zumbi daqueles filmes trash. Minhas férias estão acabando. Penso em bater uma siririca antes de dormir. Soltar um chá para alguém que nunca vou ter, mas pelo menos sonhar é de graça. 

Mais isso é uma boceta. Penso, enquanto passo os dois dedos de cima para baixo. 

Começo a pensar e isso me faz desistir, tiro os dedos da minha vagina.  

Estou passando um tempo na casa da minha avó, vai completar um mês que estou aqui. Ela tem AVC e precisa de cuidados, cuido dela enquanto mina tia viaja a trabalho. No início foi bem difícil cuidar dela, não se lembrava de muita coisa, falava quase como um gemido, a fala dela não sai com tanta sonoridade, às vezes nem sei o que ela está falando.  

Largo meu celular e fecho meus olhos na esperança de voltar a dormir. Sinto um certo calor em meu quarto, olho para um lado, um canto onde a escuridão não é apenas escuro, mas um medo… 

Estou quase dormindo… 

Dormindo… 

Dormindo……….

Dormindo…………..

Dormindo………………..

Dormindo……………………  

!  

Me levanto rápido, escuto algo se quebrando na cozinha, parecia um copo de vidro. Saio da cama para saber o que é. Entro em um corredor mal iluminado, apenas um abajur, abro a porta do quarto da minha avó para saber como ela está. Deitada de barriga para cima, um lado da boca aberta, soltava um grunhido, acho quera um ronco. 

Espero que algum dia ela perceba que se tornou um peso morto. 

Aproveito que estou aqui e dou uma passada no banheiro. 

Linpo a minha boceta com um pedaço de papel higiênico, retira um pouco do orgasmo que foi interrompido. Desisto de colocar um absorvente, não quero dormir com tanto. 

Entro na cozinha sem ligar a luz, não quero gastar o gerador, a luz caiu mais cedo e os geradores de emergência foram ligadas. Acendo três velas. Abro a geladeira e tiro uma coca-cola de dois litros, coloco em um copo, acho que senti o caco de vidro do outro copo na sola do meu pê direito. Me afasto para não me cortar. 

Bebo a coca sem gás. 

Parece que é uma água suja, mas bem doce. 

Sinto um gosto meio amargo… 

Olho por todos os lados da cozinha, é grande e as luzes das velas não alcançam toda parte do cômodo. Não daqueles tipos de pessoas com medo do escuro, mas minha mãe sempre dizia que não temos medo do escuro, mas sim do que podemos encontrar nele. 

Sinto uma pontada na barriga.

Cólica. 

Que dor… PORRA. 

Minhas pernas começam a tremer, não consigo mais dominá-las. Sinto um líquido descer pelas minhas pernas, penso que era xixi, mas quando olho para o chão vejo minha menstruação manchando todo o piso de porcelana branca. 

Estava criando uma poça de sangue ao meu redor. 

A cólica aumenta… 

HUMMMMMM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Perco a força e vou direto para o chão, não sinto as minhas pernas. 

Ouço minha avó gemer lá no quarto. 

Ela deve ter feito xixi na cama.

Não consigo mais… 

Não… 

S-S-Sinto…

M-Mi-n ha… 

Língua… 

* * * 

Paro de gemer. Desço da cama.

Morta… 

Elyza está morta. Observo ela caída no chão, lambuzada no próprio sangue. O que um pouco de essência de moura na coca-cola não faz?  

Férias MortaisOnde histórias criam vida. Descubra agora