XVI - Conflitos

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Abro meus olhos devagar, e percebo que acabei caindo no sono por acidente, mas eu fico feliz de acordar e perceber que que eu não estava a viver uma alucinação. Me encontro em uma cama tão confortável que parece um abraço acolhedor. Estou sobre lençóis macios envolvem meu corpo e me sinto completamente revigorada. Dormi sem perceber, afundando no sono profundo que meu cansaço implorava há tempos. Um lugar para dormir era tudo o que eu queria. Tinha até me esquecido do quão bom é essa sensação. O quarto está com a sua porta aberta, e recebe a pouca luz que vem da fogueira da sala, em uma mistura de luz e sombra. A decoração rústica me traz uma sensação de tranquilidade, como se eu estivesse envolta em memórias antigas e familiares. O aroma suave de madeira e flores silvestres, e terra molhada flutua no ar, trazendo uma doce serenidade ao ambiente. Ao meu lado, Fenrir, o Lobisomem que esteve tão cansado que adormeceu nessa cama em poucos minutos, mas dessa vez ele está acordado, sentado na cama, imerso em um livro. Um livro familiar, sem capa ou títulos. Provavelmente esse foi o livro que nos foi dado, um livro de conteúdo duvidoso que assombra as nossas memórias. Seu pelo cinzento brilha suavemente com a pouca luz que alcança o cômodo. Observo suas feições enquanto ele lê, concentrado e imerso em seu mundo particular. Seus olhos azuis percorrem as páginas com fascínio, revelando sua mente curiosa e inquisitiva. Estivemos tão receosos em dividir a cama, que estávamos pensando em uma forma de contornar essa situação, e acho que nem chegamos em uma resposta definitiva, mas inconscientemente acabamos por dividi-la mesmo assim. É a primeira vez em que eu durmo do lado de alguém, na mesma cama que outra pessoa, e esse alguém é um lobisomem.

Um sorriso tímido se formou em meus lábios enquanto compartilhava aquele momento reconfortante com Fenrir. Depois de um delicioso almoço ao lado de Trygve e Farkas, esse momento de conforto era especial. Observando que a fera ainda não havia percebido minha presença, minha curiosidade tomou conta e decidi perguntar a ele:

-"Descobriu alguma coisa?"

perguntei, mantendo-me deitada, com a minha bochecha esquerda afundada no travesseiro, enquanto olhava para meu parceiro peludo. Fenrir se virou rapidamente para mim, surpreso ao perceber que eu havia acordado. Encontrei a expressão de surpresa em seu rosto e esperava que fosse uma surpresa agradável. Ele voltou seu olhar para o livro que segurava com ambas as mãos e respondeu:

- '' é... parece que para fazer uma cura é necessário o coração de um lobo, o sangue humano e o sangue de um lobisomem, Ouro, o olho de um urso, um pouco de Salix herbacea e a flor da lua cheia. Tudo isso misturado, quente e em quanto o sinal de ''Maneform'' de alguma forma esteja no corpo do portador da licantropia.''

Decido comentar com o Lobisomem.

- "Isso é tudo muito específico. Mas o que é exatamente esse 'Maneform'?"

perguntei a Fenrir. Ele deu de ombros, parece que ele também não faz ideia, e virou o livro para mim e lá estava uma ilustração de um símbolo estranho, algo que nunca havia visto antes em minha vida. Então o Fenrir volta a virar o livro para ele, e então ele diz:

- '' não que devemos considerar as palavras desse livro a sério, eu só me pergunto como alguém poderia acreditar nelas...''

Me sinto incomodada a ouvir essas palavras, pois por um breve momento eu sou transportada para o dia de ontem em memorias cruéis, talvez seja melhor eu mudar o assunto.

- '' ah, bem, e o que você achou do Trygve e o Farkas? Eles são legais, não são?''

Fenrir solta um bocejo, de boca aberta a mostrar seus dentões. Ele fecha o livro e o deixa de lado e com um tom indiferente ele diz:

Histórias De Inverno (A Chapeuzinho Vermelho e o Lobo)Onde histórias criam vida. Descubra agora