"I don't dress for women, I don't dress for men..."

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Aviso: Esse capítulo contém cenas de tortura


Maria Clara



A noite se estendia pelo ar frio e gélido da região isolada, o farfalhar das folhas, crocito dos corvos, todo e qualquer som era alto o suficiente para mascarar os passos silenciosos e leves pelo assoalho amadeirado em tons negros da enorme Mansão Addams. A figura quase espectral em seu silêncio e precisão atravessava os corredores sombrios que eram assustadores para pessoas comuns, mas aconchegantes para ela.

A porta da enorme biblioteca particular foi aberta sem um único ruído, e depois fechada atrás de si com um clique abafado e inaudível aos ouvidos comuns, e até mesmo aos aguçados. E era exatamente isso que ela queria. As mãos pálidas permanentemente à frente do corpo estavam meramente quentes enquanto os olhos de obsidiana cruzavam a grande sala em busca de algo.

As diversas cores de capas de livros contrastavam ferozmente com os tons bicolores e sem vida da garota, que andava a passos compassados e leves pelas estantes. Desde os escritores mais clássicos até as obras mais contemporâneas e completamente fúteis para seu gosto pessoal e extremamente refinado, os livros eram um verdadeiro labirinto, mas ela tampouco se importava.

Chegando a uma estante estante catalogada com o número 23, e olhando para a sexta das sete fileiras dispostas, na décima terceira posição, estava um livro de capa colorida como uma explosão de tons diferentes e desconexos. Se tratava de um livro com um jardim florido estampado nele. E todos sabiam que a presença que analisava categoricamente cada uma das flores daquela capa era completamente aversiva a cores. E exatamente por ninguém imaginar que ela sequer tocaria nele que o tornava o mecanismo perfeito.

Quando finalmente encontrou o que procurava no meio daquela catarse de cores, o dedo indicador de sua mão se direcionou para o único ponto negro em meio aquelas flores, uma dália-negra misturada a girassóis, camélias, hortênsias, tulipas e muito mais. A pressão foi feita contra a capa, afundando um discreto botão no miolo da flor negra, e um estalo surdo ecoou por seus tímpanos. A estante se desgrudou levemente da parede, sem um único ruído, abrindo espaço suficiente para que seu pequeno corpo passasse em direção ao interior da câmara que se mostrava aberta.

E assim, atravessando a passagem construída com pedras rústicas, a estante se colocou novamente em seu lugar, o botão negro voltou a sua posição original, a escuridão no meio de um jardim de flores, enquanto Wednesday Addams caminhava novamente a passos tediosos e compassados até a escadaria em espiral.

Silenciosa como a morte, ágil como uma águia, leve como um pássaro, Wednesday era incapaz de causar qualquer tipo de som pelo atrito de seus pés no chão de pedregulho. Ao chegar na porta de ferro maciço, a abriu com elegância e precisão, herdados da mulher que havia lhe trazido ao mundo. Observou calmamente com um olhar inexpressivo e tedioso o lugar à sua volta.

O armário com produtos químicos e medicinais de tipos específicos, os variados equipamentos produzidos em vários séculos diferentes, sua guilhotina a vapor, e o que mais lhe interessava naquele momento. Uma enorme maca metálica e extremamente gélida, que continha fivelas para cada membro do corpo humano, ou não. A única luz amarelada iluminava aquela parte da sala com isolamento acústico e rodeada de chumbo, onde um corpo meramente pálido e feminino residia atado e desacordado.

Wednesday se aproximou novamente a passos ritmados, analisando o rosto agora relaxado da mulher a sua frente com curiosidade, analisando as partes conhecidas por ela, infelizmente. Pegou um balde com água gelada e o derramou por cima do corpo residido na marca, acordando quem quer que estivesse ali com um choque térmico. A respiração pesada tomou conta do ambiente enquanto a vítima permanecia em busca do mais precioso elemento da natureza para os seres vivos, o oxigênio.

All of the Stars - WENCLAIRWhere stories live. Discover now