Depois daquele dia, Cristal não pôde me acompanhar todos os dias as visitas à Sarah, mas passou a visita-la todos os finais de semana, e durante a semana se empenhava em tirar boas notas na escola.
— Eu não acredito que ela já está se formando! — Rogério comentou emocionado.
Anos haviam se passado, e estávamos na formatura de graduação de Cristal. Ela realmente seguiu a biomedicina, e permanecia empenhada em realizar pesquisas mais avançadas sobre o Alzheimer.
— Nossa menininha tá crescendo. — Respondi, limpando o canto dos olhos que insistiam em encher-se de lágrimas. — E eu não tô pronta pra isso.
— Nunca estamos prontos, mãezinha, nunca estamos. — Ele brincou enquanto apertava levemente meus ombros.
Cristal veio correndo em nossa direção, e nos abraçou.
— Estamos tão orgulhosos de você, meu amor. — Falei ainda em meio ao abraço.
— E vão ficar ainda mais quando eu encontrar a cura daquela maldita doença, e de várias outras. — Ela disse confiante.
— Sabemos que se existe alguém capaz disso, é você, cristalzinho. — Rogério disse dando um beijo em sua testa. — E preciso dizer que acho muito lindo o que você está fazendo.
— Obrigada por acreditarem em mim. — Ela ergueu o canudo em sua mão. — E por tornarem isso possível!
Como de costume, Rogério e eu fomos comemorar com a nossa filha essa grande conquista no seu restaurante preferido.
— Eu tenho um presente pra você. — Disse. Já fazia quase meia hora que havíamos chegado em casa. — Na verdade, é um presente de Sarah, por mais que não tenha partido diretamente dela, acredito que ela iria gostar disso.
— Hã?! — A princípio Cristal me encarou com o cenho franzido. — Qual presente, mãezinha?
Fui até o meu quarto, e peguei uma caixa de papelão que já havia deixado separada sob minha cama.
— Aqui! — Disse, apoiando a caixa na mesa, e empurrando-a para Cristal. — Bom, eu e Thais fomos as responsáveis por trazer Sarah de volta ao Brasil, e com isso, havíamos trago todas as suas coisas que estavam na Inglaterra, incluindo todo o seu estudo sobre o Alzheimer, mesmo que sem saber. — Expliquei. — Estava tudo empilhado dentro das diversas caixas que trouxemos, e eu só soube disso na mesma época em que te contei sobre a nossa história.
— Mãezinha, isso.. — Cristal alternava o olhar entre mim e a caixa. — Meu Deus! — Cristal passou a abrir a caixa que eu havia lacrado novamente.
— Espero que isso te ajude de alguma forma. — Falei, enquanto a observava retirar os infinitos cadernos de dentro da caixa. — Espero que de alguma forma ela tenha encontrado um caminho que facilite o seu.
— Mãezinha, isso é incrível!!! — Cristal correu para me abraçar.
Graças à algumas anotações de Sarah e ajustes de Cristal, quase um ano depois Cristal junto a um grupo de estudantes conseguiram um avanço significativo na cura da doença.
— A senhora não vai acreditar! — A voz de Cristal saiu animada do outro lado do celular. — A gente tá mais perto do que pensávamos, mãezinha!
Olhei para Sarah, que parecia admirar as tulipas que eu havia trago para lhe entregar, e senti meu coração encher-se de esperança e meus olhos de lágrimas.
— Além da vacina como uma forma de proteção de que todos estarão imunes à doença, estamos bem perto de encontrar a cura para quem já se encontra doente. — Cristal complementou. - Isso é incrível, não é?!
Eles encontrariam a cura!
— Sim, isso é MUITO incrível, filha! — Respondi enquanto as lágrimas embaçaram minhas vistas por completo.
— Eu te disse que conseguiria, mãezinha! — A oscilação em sua voz demonstrava que pelo seu entusiasmo, Cristal estava pulando de alegria, literalmente. — Eu só queria te contar logo isso, mas eu preciso ir, mãezinha. Mais tarde te ligo de novo, mas estamos perto, mãezinha, perto demais! — Ela concluiu antes de desligar a ligação.
Dias antes, os médicos de Sarah
haviam chamado Thais e eu para conversar sobre o estado de saúde de Sarah, e nos disseram que ela estava regredindo rápido demais, ela já não reconhecia nem a mim e nem as tulipas, mesmo que de forma rara; ela já apresentava dificuldade em desempenhar funções muito simples; e vinha sofrendo muitas crises convulsivas.— Obrigada por ter me apresentado o amor! Eu vou te amar pra todo o sempre, sarará. — Beijei a testa de Sarah, antes de fechar pela última vez os seus lindos olhos, pelos quais eu sempre seria apaixonada. — Me perdoa por não termos vivido a história que sempre sonhamos, a vida infelizmente nos pregou um peça das grandes.
A pessoa que me fez acreditar que anjos passeavam pela Terra descansou, os seus lindos olhos verdes já não disputam com o brilho da lua.
O meu grande amor havia partido, e havia levado junto o meu coração.
Pedi licença à Beatriz, e me dirigi ao banheiro social, que ficava no corredor, e só então me permiti chorar, sentei-me ao chão, agarrada às minhas próprias pernas.
— Juliette?! — Depois de quase uma hora trancada naquele banheiro e impedindo qualquer visitante de entrar, ouvi uma voz conhecida. — Abre a porta pra mim, por favor. — Thais pedia com a voz completamente trêmula.
Eu estava deitada no chão do banheiro, sem conseguir me mover, e sem conseguir falar, completamente paralisada. Sem acreditar que havia perdido o grande amor da minha vida, de vez.
Prestes a completar três semanas da morte de Sarah, Cristal me informou, sem a mesma empolgação de antes, de que havia dado certo, eles haviam realmente encontrado a cura para o alzheimer, e que só estavam esperando a aprovação para produzirem mais.
[...]
Viva intensamente, pois é o destino que se encarrega do resto.
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As Inesquecíveis Tulipas Vermelhas
FanfictionO quanto a ficção se mistura à realidade? Será que todos estamos realmente destinados à algo ou à alguém? Será que a vida se resume a encontrar sua alma gêmea e viver ao seu lado o "felizes para sempre"? Ou será que tudo não passa de uma grande ilus...