Prológo

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Depois de ser despejada do meu emprego, do falecimento recente do meu irmão, eu agora podia dizer que não tinha mais nada. O pouco que eu tinha, acabara de perder. O som dos carros eram altíssimos aos meus ouvidos na avenida, e a ponte que estava logo a frente, cada vez mais atraente. Caminhei até ela com meus passos rápidos e meu semblante apático, entre os carros, ouvia-se algumas buzinadas. Quando finalmente cheguei ao meu destino, me aproximei do vão. Subi e fiquei de pé, enquanto deixava o ar tomar meus pulmões e a coragem me impulsionar pra frente. E antes que eu pudesse me arrepender, eu senti meu corpo cair na água. Antes que eu pudesse finalmente afundar e me afogar em um torturante silêncio, eu estava voando. O azul que eu havia mergulhado era o céu de algum lugar que eu não conhecia. As coisas mudaram instantaneamente da água pro céu.

E então gritei. E minha voz saiu. Voei por poucos segundos, afinal, não tenho asas, e talvez voar não seja a melhor palavra, eu caí. E quando a queda terminou, um telhado feito de barras de chocolate se quebrou por causa do meu peso e o impacto da queda sobre ele, enquanto o chão daquele lugar, feito de gelatina, a amorteceu, afundando meu corpo e em seguida o lançando para cima, me fazendo dar um salto.

- Maria, Maria! - uma voz idosa aguda me chamava enquanto a dona se virava para mim - Espere, você não é a Maria. - disse finalmente vendo meu rosto e revelando o seu.

A confusão e a dor por ter caído invadia meu peito mas não pude deixar de reparar ao redor. Ao que parecia uma casa, era inteiramente feita de doces. Em suas paredes haviam pirulitos, jujubas, confetes e doces que eu nunca tinha visto antes. Voltei meu olhar para a idosa em questão e ela era baixa e meio corcunda, com um nariz enorme, usava uma bengala doce e seus cabelos eram cinzas.

- O que está olhando? Daonde você veio que não te vi entrar? - me questionou a idosa - Eu estava invocando uma humana do mundo mortal para fazer um bolo, mas ela não apareceu e invés disso você está aqui.

Foi quando a ficha caiu. Meu nome no mundo mortal era Maria. Um arrepio subiu pelas minhas costas. E antes que eu pudesse tentar dizer qualquer coisa, a idosa lançou sua bengala ao chão, isso fez com que seu corpo inteiro brilhasse e se revelasse uma mulher alta e jovem de cabelos cacheados pretos. Nada disso era normal. Nada disso parecia real. Os chocolates do telhado estraçalhado estavam estilhaçados ao meu lado, quando peguei um dos pedaços mais próximos e o levei até à minha boca. Era o melhor chocolate que já havia comido. Pus outro pedaço. O gosto também parecia real. Antes que chegasse ao ponto de não conseguir parar de comer chocolate, me belisquei para acordar. E nada aconteceu. Apenas vi a idosa, que agora era jovem, sorrir ironicamente enquanto arqueava uma de suas sobrancelhas grossas e bem definidas e cruzava os braços.
Ela era muito bela. E assustadora.
Foi quando um estrondo veio da porta, e que quando me virei para olhar, ela estava no chão. A mulher ligeiramente pegou sua bengala e voltou pro estado de velhice. O piso feito de gelatina fez a porta feita de biscoito ir parar no teto e ficar presa lá. Na frente do que costumava ser a porta, estavam dois homens que pareciam guardas.
A idosa revirou os olhos e em seguida mostrou-lhes o seu dedo do meio.

- Demorei três dias para fazer essa porta - repreendeu a voz rouca com rispidez

- Evangeline! - um dos guardas gritou comigo - Finalmente achamos você, sua ratinha.

- Como é? - assim que abri a boca me assustei com o som da voz que saia dela

Não era a minha voz. Me surpreendi porque nunca houvera um sonho em que eu tenha sonhado que era outra pessoa, se desconsiderar os sonhos acordados. Me surpreendi porque se isso fosse um sonho, não sabia a quanto tempo estava sonhando. Desci o olhar e ele pairou sobre minhas roupas, que também eram diferentes das que eu estava antes, um longo vestido azul ciano com rendas e babados, nos pés, eu não usava nada. Mexi meus dedos dos pés. Se isso fosse um sonho, eu controlava tudo muito bem. O que me levou a crer de que provavelmente não era um. Até porquê tudo o que aconteceu antes na ponte, também não era. Eu morri? É isso que tem após a morte? Um bando de loucos?

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⏰ Última atualização: Jul 07, 2023 ⏰

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