Dos oruguitas

160 22 23
                                    

-Você pode realmente tocar isso? -perguntou Kakucho.

O garoto de cabelo preto cercava o filipino. Izana parecia uma criatura totalmente celestial enquanto se elevava acima de Hitto, naquela pode de Rei que ele tinha naturalmente. O outro olhava para ele, com olhos de felicidade e orgulho enquanto assistiam um pouco do festival de música que tocava na TV.

Naquela época do ano, quando os casais felizes usavam seu próprio amor para esfregar no rosto de todos, Kakucho e Izana sempre pensavam em como seria bom ser filho de algum desses casais em festa. Na verdade, todas as crianças daquele lugar tinham o mesmo pensamento e a mesma culpa. Como seria serem filhos amados? Como seria a vida fora da vigilância dessas mulheres 24h por 7 dias da semana? Como seria não ter que dividir, desde a cama até a hora do banho?

-Claro que eu posso! -disse Izana, se vangloriando. -Shinichiro tem me ensinado a tocar, e até posso dizer que sou melhor que ele!

Kakucho achava que ele tinha sorte. Izana havia encontrado um irmão que o adorava e estava disposto a lutar para que estivessem juntos. Era Shinichiro Sano quem o levava para passear, brincava com ele, o ensinou a andar de moto e sempre comprava coisas deliciosas para o Kurokawa. Coisas que o outro fazia questão de levar um pouco para ele.

-Você é incrível, Izana! -gritou Hitto, animado. Ele não tinha dúvidas de quando escolheu ser ir Izana, já que isso era a coisa mais legal do mundo!

-Eu posso tocar para você, se quiser -ofereceu Izana, seu rosto tomando uma coloração vermelha.

A verdade é que ele não era tão bom assim. Mas a mentira ficou grande demais para que ele simplesmente dissesse que não sabia tocar com toda a perfeição que disse ter. Na verdade, ele era apenas um iniciante que só sabia tocar uma música, que Shinichiro o ensinou com muito empenho. Kakucho não parecia muito preocupado com isso quando pegou o violão que estava descansando suavemente na cama de Izana e empurrou para ele.

-Espere... Você não acha -ele tentou pensar em algo, mas parecia que qualquer recusa que tivesse, deixaria Kakucho com o coração partido -Que é melhor eu tocar depois?

-Depois? -repetiu Kakucho, virando um pouco a cabeça. Ele parecia triste e com um olhar mais deprimido do que segundos atrás. Kakucho tinha uma luz tão grande e forte, que era capaz de transmitir as próprias emoções sem o uso de qualquer palavra.

-Sabe? -Izana suspeitou que ele pudesse chorar e respirou fundo -Eu vou tocar agora. Mas se você não entender a melodia, não me julgue!

-O que quer dizer? -perguntou Hitto, agora um pouco mais feliz. -É uma música não é?

-Quero dizer que algumas partes podem soar estranhas nos seus ouvidos. Mas é comum, já que você não sabe nada de violão! -Izana tentou dizer que não sabia tocar direito e usou o argumento de que Kakucho não saberia ouvir para que livrasse da confissão.

-Tudo bem, Rei! -concordou Kakucho -Eu tenho certeza que vou achar lindo de qualquer forma.

-Certo -Izana resmungou. Ele abraçou o violão, de tamanho normal e não um daqueles que ele usava nas aulas. Um para crianças.

Kurokawa se arrumou na cadeira, mexendo nas cordas para garantir que estavam afinadas o suficiente. Ele vira Shinichiro fazendo isso milhares de vezes, então ele sabia o que fazer e como começar. Izana suspirou, dedilhando levemente e sentindo as notas dançarem em cada movimento de corda abaixo de seus dedos.

-É uma música... Estrangeira -disse Izana, evitando olhar para o garoto.

-É filipino? Eu acho que entendo -Kakucho se senta na frente dele, esperançoso de colocar em prática as aulas que ele vinha tendo diretamente com o seu Rei. A empolgação fazia os dedos dos pés de Kakucho se contorcerem enquanto ele mal poderia manter as pernas quietas e dobradas.

Oruguitas Onde histórias criam vida. Descubra agora