— Prólogo —
Mau AgouroPara comemorar a caçada bem sucedida, foi feita uma grande fogueira, que ardia em brasas. Homens, mulheres e crianças deram as mãos e dançaram em volta das chamadas, como forma de agradecer aos Deuses.
Todos sorriam, cantavam, dançavam e se divertiam. Mesmo o ar estando gelado, ninguém ali sentia frio. Estavam aquecidos e contentes.
Tauane, ao lado de sua mãe, Janaina, balançava os maracás no ritmo da música, mal esperando pela hora da refeição. Só mais um pouco e a cantiga e a dança iriam acabar. Então, finalmente poderiam comer a carne que foi estripada, esfolada e pendurada junto à fogueira para secar. Tauane já era capaz de sentir o gosto em sua boca repleta de saliva.
Antes que a cantiga terminasse, um uivo, alto, poderoso e assustador os interrompeu. A música e a dança pararam imediatamente. E logo, o segundo uivo, o terceiro e mais os seguiram. Não era para estarem tão próximos da tribo, ainda assim eles estavam chegando.
Os homens pegaram suas armas e correram, prontos para interceptar a alcatéia que estava se aproximando. As mulheres foram guardar a comida, enquanto as crianças levavam os idosos para as ocas. Não demorou para as mulheres se juntarem aos familiares, aguardando até que o perigo fosse embora.
Janaina manteve Tauane presa em seu abraço, querendo protegê-la.
Todos ficaram mais tensos quando os uivos ficaram mais altos, sendo possível ouvir rosnados. Eles haviam chegado na tribo.
Perto da entrada da oca, Tauane espiou, avistando-os. Lá fora, sendo escoltados pelos guerreiros, estava uma alcatéia de lobos. Ela contou vinte e sete daquelas criaturas. Mas o número não importava, pois não era, nem de longe, a pior parte.
Eles eram filhos de Kianumaka-Manã, a Deusa-Onça da Guerra. Por serem filhos de uma Deusa, aqueles lobos eram especiais. Eles alcançam facilmente os dois metros de altura, podendo chegar até o mesmo número de de comprimento, se não contar com a cauda. Mas aquilo que tornava aqueles lobos diferentes dos demais, que tornava-os mais perigosos do que qualquer outro lobo, era sua metamorfose. Kianumaka-Manã, sendo uma Deusa meio-humana meio-animal, podia se transformar de humana para onça, e vice-versa. Como seus filhos, aqueles lobos herdaram seu poder de metamorfose, podendo transformarem-se no que quisessem. Mas havia uma limitação. Aqueles lobos não podiam transformar-se em humanos, apenas em outros animais. Eles eram chamados de Lobos-de-Kianumaka e, como tal, de todas as criaturas naquela floresta, eles eram os mais temidos e respeitados pelos nativos.
Era natural que todos estivessem aterrorizados, pois naquele momento, vinte e sete Lobos-de-Kianumaka entraram calmamente na tribo! Se quisessem, poderiam facilmente massacrar todos ali, mesmo que só por diversão.
Inesperadamente, os lobos se deixaram ser escoltados pela tribo, a fim de atravessá-la pacificamente. Sabendo disso, os guerreiros caminhavam ao redor deles, ainda que com suas armas abaixadas em passividade, a guarda estava de pé. Sempre que se aproximavam demais, os lobos rosnavam em aviso.
Era possível ver dois enormes Lobos-de-Kianumaka na liderança. Um deles tinha os pêlos negros como carvão, ao mesmo tempo em que havia manchas brancas por seu corpo e olhos acinzentados. Enquanto que o outro era seu oposto: tinha sedosos pelos brancos revestidos de manchas negras e olhos dourados. Ambos eram lindos, com um caminhar elegante e perigoso. Um casal de alfas. Os líderes da alcatéia.
Devagar e com uma leve desconfiança, os alfas lideraram a caminhada pela aldeia. Enquanto andavam, Tauane percebeu que os lobos formavam um círculo, cujo centro era preenchido por filhotes. Comparado aos seus pais, já adultos, os filhotes eram nanicos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Filhos Da Lua: Eclipse - [Vol.01] - Isabelle Mello
RomansaO objetivo de Pedro Álvares Cabral nunca foi a América do Sul. Muito pelo contrário, seu objetivo era Calicute, na Índia. No entanto, a correnteza do oceano levou ele e sua tripulação para um caminho distinto. Esse caminho distinto o levou para o qu...