⬚ Capítulo 8 . .

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O dia inicia nublado, mas sem previsão para chuva, e Epona, que está na sua rede, acorda sem vontade de fazer nada para além da dor de cabeça como brinde. As olheiras são um pouco visíveis e suspira alto cansada. Possivelmente apenas dormiu duas ou três horas seguidas desde que voltou para a casa da amiga.
Permanece na rede com os olhos fechados por mais uns segundos até ouvir a porta do quarto abrir e sentir uma figura aproximar-se de si.

--Epona, acorda, hora de tomar o pequeno-almoço.-o tom carinhoso de Blissia faz-se presente na sala.

--Só mais cinco minutos, dona Blissia...-resmunga com a voz arrastada.

--Epona, já são oito e meia.

Com muito esforço vindo não se sabe de onde, a poniriw abre os olhos com algumas piscadelas para habituar-se à iluminação do quarto e com cuidado sai da rede, ficando em pé de frente para a iaque adulta, olhando nos olhos meia lenta.

--Parece que alguém não dormiu esta noite.-Blissia vai até à outra.-Vem, o pequeno-almoço vai dar-te energia para o resto da manhã e deixo-te dormir um pouco durante a tarde.-diz aquilo baixo, como se fosse um segredo ultra secreto, enquanto ambas trotam para fora do quarto.

( . . . )

Epona sai da casa e encontra Arryn a conversar com um trio de iaques pequenos, coml se estivesse a dar alguma palestra, e vai até ela calmamente enquanto boceja.
Não havia esquecido sobre o que aconteceu de madrugada com Tonnerre, e iria tirar aquela história a limpo com a amiga.

Chega perto o suficiente dela e vê os iaques a olhar para ela curiosos, o que faz a atenção da iaque albina olhar para a mesma direção que os outros assim vendo a poniriw.

--Ah! Bom dia, Epona!-cumprimenta alegre.-Hey, crianças, que tal brincarem agora? Às duas voltamos a reunirmos aqui para falar a vocês sobre como fazer hemkiria, está bem?

--Está bem!-as crianças falam em uníssono alegres e saiam para brincar algures no vilarejo.

--E então? Credo, estás com cara de morta.-diz e faz uma careta com a aparência da amiga.

--Eu sei, durante a tarde vou tentar dormir.-faz uma pausa.-Eu...Queria falar contigo sobre um iaque em específico, só para tirar a dúvida.-vê a outra aproximar-se um pouco e inclinar a cabeça para atentamente ouvir o que ela tem a dizer.-É verdade que o Tonnerre é sempre mandado pelos pais?

Ouve um 'hmmm' nada agradável vindo da amiga junto de uma face meia neutra meia desconfortável.

--É um caso meio complicado.-ela admite.-É que assim, o Tonnerre apenas odeia que mandem nele porque os pais dele o fazem quase como um empregado da casa, então quando sai com eles para fazer alguma coisa, é muito rude com os próprios, mas eles vitimizam-se em dizer que o filho é "mal agradecido" e rude e a maioria do vilarejo não gosta do Tonnerre por isso. E o Tonnerre também não aceita ordens vindo de outros iaques por causa disso dos pais. E para além disso, há rumores de que ele é maltratado.

--Percebi.-acente com a cabeça.-É que teve um desentendimento entre mim e ele e não sabia como pedir desculpa.

--Entendi. Ele neste momento deve de estar algures na loja da Fae, portanto, só rondar por lá.

--Obrigada, irei procurá-lo agora, vemo-nos na hora do almoço.-ambas fazem um aceno e Epona trota.

A poniriw de cor de pele azul acinzentado escuro e crina vermelho escuro vai trotando até à direção da ferraria, que está de folga por ser domingo, e olha em volta para ver se encontra o iaque, o que não foi tarefa fácil, já que mesmo ter rondado a loja ou perto dela, não encontra Tonnerre. Começa a supor que ele ficou em casa, e não julgaria dado o estado do tempo estar murcho mesmo que não haja previsão de chuva.
Mas mesmo assim, decide dar mais uma volta, desta vez a observar todos os cantos de onde ele poderia ter ficado, e, por sorte, consegue vê-lo escondido entre um monte de palha numa casa perto da ferraria. Trota até ele e vê o mesmo olhar para ela, mas faz uma careta e desvia o olhar.

--Hey, Tonnerre.-não consegue atrair a atenção do outro.-Olha, quando fui falar contigo, eu não sabia que eras empregado dos teus pais e que quase todos do vilarejo não gostam de ti por causa do vitimismo deles. Eu falei aquilo porque Sedros é um lobo do tamanho de um iaque adulto que mata os mesmos, e Osocour também anda por aí a matar iaques de forma cruel. Não só iaques, como poniriws também, mas eles ultimamente estão a atacar mais este vilarejo e fiquei preocupada com a tua segurança.

Tonnerre olha para Epona ainda um pouco chateado pela madrugada, mas considera-a e vira o corpo na sua direção.

--Desculpa se eu falo num tom grosso, mas esta é a minha personalidade, e fico mais grossa ainda quando vejo alguém fora de casa à noite que pode morrer a qualquer momento por uma dessas lendas que, infelizmente, existem.

O pequeno iaque parece ficar um pouco pensativo, mas não o suficiente para convencê-lo a aceitar as desculpas.

--E para além do mais, não obedeças os teus pais, eles não querem o teu bem, pelo contrário. Tu não és obrigado a obedecê-los, e não deves de dar ouvidos ao que os outros iaques dizem sobre ti, tu apenas estás a tentar te defender deles.

--...Eu aceito as tuas desculpas.-diz depois de chegar à conclusão.-Eu não gosto dos meus pais, eles tratam-me como se fosse nada.

--Por isso mesmo que estou a dizer para os ignorar e os confrontares, eles não te merecem de certa forma.

--E se eles expulsarem-me de casa? Onde vou?

--Para a casa da Arryn até decidirem o que fazer.

Tonnerre faz uma careta de concordância.

--Parece justo. Irei levar as tuas palavras em consideração.

Epona dá um leve sorrissinho de lado antes de desfaze-lo dois segundos depois.

--Eu agora terei que ir fazer uns recados, portanto, estamos conversados?-vê o iaque acenar com a cabeça.-Ótimo, vemo-nos outra hora ou dia.

--Eu não irei sair de noite, e se saie, prometo ter muito cuidado com essas monstros, mesmo que não acredite muito nessas coisas.

Aquela frase faz Epona ficar serena e ter coragem para acariciar levemente o topo da cabeça de Tonnerre, que resmungou com o carinho repentino antes de deixar de sentir o casco naquele lugar.

--Tchau, Tonnerre.

--Tchau, Epona.

E ambos vão para caminhos diferentes.
Epona, depois do almoço, volta para o quarto de Arryn e deita-se na rede com tudo, sentindo o seu corpo pesar por aquelas horinhas levantada e fecha os olhos para dormir.

Ela tem que descansar para fazer a caça à lenda de madrugada, definitivamente.

A Lenda de OsocourOnde histórias criam vida. Descubra agora