Capítulo II: A porta

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      Acordo assustada por conta do barulho do despertador, olho o horário e é exatamente sete e meia da manhã. Levanto um pouco rápido demais, fico meio tonta e tento recuperar o equilíbrio. Olho para a sacada e percebo que cheguei tão cansada que durmi com as cortinas abertas. A luz leve da manhã, deixa meu quarto mais aconchegante, da um brilho aos móveis da cor creme, enquanto o sol reflete no espelho da minha penteadeira.
      Vou ao banheiro lavar o meu rosto , depois desço as escadas e vou direto para a cozinha, que também está linda e fresca, graças a luz da manhã que entra pela janela. Diferente da maior parte da minha casa, que é toda em um estilo casual e sério, minha cozinha foge disso. Mandei fazer sob medida e com uma cor mais alegre, um verde menta, que sinceramente ficou perfeito e me alegra nos dias mais tristes. Sim, a cozinha me deixa mais alegre. Para combinar comprei vários pratos, panelas, e até talheres nas cores verde menta e um marrom chocolate, que deixa uma sensação boa, como se fosse o sorvete de menta com chocolate.
    Resolvo preparar uns ovos para comer com pão , corto uma banana e coloco chocolate por cima, enquanto espero a água esquentar para fazer o café. Me apresso ao comer, pois preciso terminar a última redação para mandar para o professor; estou tentando adiantar a maioria dos trabalhos, logo vem o final do semestre e não quero entrar em pânico porque não coloquei as coisas em dia.
    Meu celular começa a tocar, o que é estranho, normalmente ninguém costuma me mandar mensagem tão cedo, muito menos ligar. Olho o nome na tela, "Sebastian", meu irmão provavelmente não tem o que fazer além de me incomodar, mas antes de atender consigo sorrir, porque ele normalmente  me deixa mais disposta.

- Que foi Sebastian?

- Bom dia para você também irmã.- Pela voz dele, percebo que está sorrindo.-Fico feliz que sinta tanto a minha falta.

- Posso perceber que na verdade, você sente a minha.

- Aí Pi, claro que sinto. Ultimamente está sendo difícil me divertir aqui em casa. Primeiro porque o Pedro casou e foi morar com a Priscila.- Aparentemente Sebastian ainda não perdoou a nossa cunhada por ter casado com o nosso irmão e eles terem ido morar na casa deles. - Segundo, você simplesmente deu a louca e quis ir morar sozinha. Eu não consigo irritar ninguém nessa casa, apesar da Ada já ser adolescente, ela não se irrita com nada.

Desde criança sebastian já gostava de tirar a gente do sério com suas piadas e provocações, provavelmente porque era meio mimado, já que Pedro era o mais velho e eu vinha depois. Ele se sentia como o caçula que todo mundo quer agradar, mas daí a Ada nasceu e ele continuou agindo da mesma maneira, então chego a conclusão de que isso é,  como a maioria das pessoas gostam de dizer, da natureza dele.

- Afinal mano, me diga o que você quer, porque eu sei que não ligou apenas para dar bom dia né?

- Na verdade, queria saber se você pode vir aqui em casa amanhã. Preciso da sua ajuda, sabe.

- Sei aham. Precisa de ajuda com o que ?

- Venha amanhã e descubra!

- Aí sebastian, não seja irritante, fala logo!

- Até amanhã Pietra!!!!

- SEBASTIAN!!!

Mas ele já tinha desligado o telefone quando gritei. Será que todos os irmãos são assim?

    Depois que terminei o café, subi para a minha escrivaninha e depois de uma hora e trinta minutos, consegui terminar o relatório.
    Comecei a me arrumar para o trabalho perto das onze horas. Coloquei a blusa da loja, minha calça wide leg, minha coturno preta e depois fui arrumar o cabelo. Passei o creme para formar melhor meus cachos loiros escuros e no final o óleo para finalizar. Fiz uma maquiagem bem leve a casual, usando apenas protetor solar, base, pó, máscara de cílios e um batom nude.
   Quando fui pegar minha bolsa, meu celular começou a tocar novamente. Era a Nina.

- Oi Pi.

- Oi Nina, bom dia. Tá tudo bem? Estranho você me ligar, normalmente manda mensagem.

- Aí desculpa, esqueci de falar bom dia. As coisas meio... estranhas, sabe... lá na loja.

Ela parecia meio apreensiva. Mas eu realmente não sabia o porquê ela tinha ido na loja de manhã.

- Como assim as coisas estão estranhas na loja? Você foi lá hoje?

- Ontem eu esqueci meu celular perto do computador, então hoje bem cedo, assim que acordei fui lá para pegar. Mas tem uma coisa....só vendo você vai entender, porque acredite em mim, é estranho.

- Você está começando a me assustar. Não tem como me explicar agora?

- Não quero falar por telefone. Podemos almoçar naquele restaurante que é quase na frente da loja? Daí eu vou te explicando e a gente vai lá depois para você ver, pode ser?

- Já que você insiste. Me encontra na frente do restaurante em meia hora.

    Na verdade, em menos de meia hora eu já estava na frente do restaurante. E a Nina também. Assim que entramos, já pedimos os pratos e quando finalmente o garçom saiu, falei.

- Pode falar tudo Nina, antes que eu tenha um treco.

- Amiga, assim que eu peguei o celular, escutei um barulho vindo do estoque. Era óbvio que eu ia ver né? Desci as escadas no melhor silêncio que consegui fazer. E foi então que eu quase surtei.- Ela fez aquela pausa dramática, e uma careta bizarra. Eu apenas fiquei quieta, esperando que ela continuasse. - Escutei um barulho de porta sendo fechada, mas pensei, " isso é ridículo, não tem porta aqui no estoque",mas adivinha ? Depois que eu desci, vi uma porta roxa, daquelas meio antiga sabe? Fiquei pensando, como que eu nunca vi essa porta? Estava bem na frente da escada, seria quase impossível não ver. Então eu tentei abrir, mas estava trancada.- Outra pausa dramática. - Então me diga Pietra, só me diga que sempre teve um porta lá.

- Eu desço naquele estoque todo santo dia Nina. Eu nunca vi nenhuma porta. Na verdade, nem tem estrutura para ter uma.

- Exatamente! Isso que estou tentando dizer. Só se eu estiver louca, tenho quase certeza que não estou, então vamos ter que ir ver.

- Isso é meio assustador. Não ficou com medo não?

- Óbvio que eu fiquei! Mas eu não ia simplesmente escutar barulhos e não ver o que era. Nem consegui dormir essa noite, está vendo as minhas olheiras?

- Não, mas tenho quase certeza que eu também não dormiria.

     Acho que nunca comi tão rápido na minha vida, praticamente colocava na boca e engolia. Assim que terminamos e pagamos a conta, saímos correndo do restaurante, mal olhando para os lados para atravessar a rua.
    Nina estava nervosa, percebi pela maneira como ela estava com dificuldade para abrir a porta da loja. Estava tudo quieto e organizado, não parecia ter ninguém ali dentro, mas sem nem perceber, nós duas estávamos andando na ponta dos pés. Meu coração acelerava a cada passo que eu dava em direção às escadas, e Nina parecia sentir o mesmo.
     Antes de começarmos a descer, nos entreolhamos e assim que parecíamos prontas, descemos, eu na frente e ela Atrás. Comecei a me sentir naqueles filmes de suspense, em que os personagens estão fazendo algo arriscado e a música começa aumentar e aumentar até que eles são surpreendidos e todo mundo se assusta com algo fora do normal ou qualquer coisa do tipo.
     A música na minha cabeça começou a aumentar, me deixando nervosa. Eu estava sentindo que ia levar um susto daqueles, então já comecei olhar para todos os lados com o coração acelerado.
Descendo, descendo, descendo e finalmente chegamos no último degrau. A música na minha cabeça com certeza está no clímax, meu coração batendo tambor a todo vapor e meus olhos percorrendo o local. Escutei Nina prender e fôlego enquanto eu olhava para frente.
    E então quem prendeu a respiração foi eu.

    Tinha uma porta.

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