O Segredo Da Loja

capítulo III: Bata três vezes

     Obviamente, eu acreditava que a Nina estava tendo alucinações, mas pelo visto, pela primeira vez não era. Aquela porta nunca tinha estado ali, seria impossível não notá-la, e além do mais, quem iria colocar isso no meio da noite? Porque de dia com certeza a gente ia perceber.
    Lentamente me aproximei da porta e parei, tentando ouvir alguma coisa do outro lado, mas nada. Levei a mão na maçaneta para tentar abrir, nada também, estava trancada.

- Acha mesmo que alguém abriu ela antes?

- Claro que sim Pietra! Minha cabeça não iria criar isso do nada.

    Continuei encarando a porta, como se esperasse que ela se abrisse do nada ou me desse alguma resposta, para uma pergunta que nem eu sabia qual era. Tentei pensar em algo, mas a única coisa que vinha na minha cabeça, era que aquela porta  secreta, talvez estava escondida esse tempo todo por um papel de parede falso e alguém tirou e esqueceu de colocar. Talvez os donos da loja tivessem segredos que ninguém poderia saber e escondiam atrás dela, ou realmente eu e a Nina somos doidas.
  
- O quê você acha que tem lá? - Ela parecia mais tranquila, pelo seu tom de voz.-  Está pensando no que eu estou pensando?

     Na verdade, não tinha ideia do que ela tava pensando. Nem eu sabia exatamente o que se passava pela minha cabeça.

- A gente vai ficar parada aqui por quanto tempo?

- Até descobrirmos alguma coisa.

- Será que tem alguma palavra mágica para abrir? - Assim que ela falou, pensei que a ideia fosse ridícula, mas parando para pensar melhor, talvez fosse uma palavra.

- Talvez.

- Tipo... ABRACADABRA!!!

- Nina! Fala baixo mulher.

- Mas se a gente não falar, não vamos saber qual é a palavra né?

- Mas eu tenho quase certeza que não é essa. Me deixe pensar um pouco. - E eu pensei, muito, até demais. Ficamos em silêncio por alguns minutos, e continuei sem nenhuma ideia, até finalmente voltar a falar. - E se.... e se não for uma palavra? Talvez seja uma chave!

- Duvido, se alguém encontrasse a chave ou tivesse a cópia, já era! Então ainda acho que seja uma palavra, frase ou um enigma.

- Ou talvez possa ser a Digital de alguém né? Mas não parece ter lugar para colocar uma digital, a porta é muito antiga.

- Estou achando que isso não vai dar em nada Pietra. Já estamos aqui mais de dez minutos.

    Enrolamos mais alguns minutos, mas também cheguei a conclusão de que ficar ali só deixaria a gente mais paranoica do que já estávamos. Subimos as escadas de volta, mas nos certificando que as coisas continuavam quietas ali em baixo. Já estava na hora de começarmos a trabalhar, então abrimos a loja e deixamos tudo mais arrumado possível para receber os clientes.
    A tarde foi longa, os minutos pareciam horas, os segundos pareciam minutos, toda vez que um cliente ia embora, eu e a Nina já ficávamos nervosas e olhando incessantemente para as escadas. Foi assim até o final do nosso turno, nunca me senti tão aliviada quando terminamos de trancar a porta para ir embora.
    Cheguei em casa mais cansada do que o habitual, como se a minha energia estivesse esgotada, talvez nem tanto a física, mas sim a mental. Fiquei a tarde inteira matutando uma solução,mas nada. Sempre me orgulhei de ser criativa, ter boas ideias e respostas para tudo, mas dessa vez não estava funcionando.
     Tomei um banho quente, e tentei desligar a minha mente pelo menos um pouco. Depois fui na cozinha preparar um chá para comer com os biscoitos que peguei na casa da vovó. Eu não sabia que precisa tanto de um chá, me acalmou, tranquilizou e deixou relaxada, pelo menos por um momento.
     Me deitei, mas não conseguia pegar no sono. Por três horas seguidas fiquei virando de um lado pro outro. Bem, pelo menos foi o tempo que eu contei, mas provavelmente foi bem mais que isso.

   A porta estava na minha frente, me chamando, me tentando para abri-la. Então ousei chegar mais perto, e alguém disse: " bata três vezes", e eu bati e ela abriu.....

     E eu acordei.
     Lógico que eu acordei.
     Acordei antes de ver o que poderia ter atrás daquela porta, que provavelmente seria fruto da minha imaginação também. Mas sobre as três batidas, eu já não sabia dizer.
     Busquei meu celular em cima da cômoda para avisar a Nina que eu tinha uma ideia. Mas pensei melhor, e talvez era melhor eu não falar agora, só depois no trabalho. Como tinha prometido para o Sebastian que ia ajudá-lo com sei lá o que ele queria, comecei a me arrumar.
     
     Como me mudei um pouco para longe da minha antiga casa, decidi ir com o meu carro. Comprei ele a mais ou menos uns três meses, mas o Peugeot 2008 THP já é o amor da minha vida. Cheguei e estacionei o carro em baixo do pé de limão e quando fui sair, a Ada já estava vindo correndo para me abraçar.

- Oi mana!!!!

- Oi meu bem, como você está?

- Melhor agora, e você?

- Estou bem,  na medida do possível.

Enquanto eu ia atualizando ela sobre os meus estudos, entramos em casa.
Encontrei Sebastian no sofá, mas quando fiz questão de sentar, ele me pegou pelo braço e puxou até seu quarto.

- A coisa deve estar séria mesmo né? Você mal deixava eu entrar no seu quarto Sebastian!

- Aí Pietra, não exagere.

- Mas é verdade!

- Não é não.- Eu estava preste a interromper, mas ele continuou falando.- Mas o assunto realmente é de certa urgência.

Olhei para ele assustada.

- O que foi que você fez?

- Por que você sempre acha que eu fiz alguma coisa??

- Porque normalmente você faz. - Dessa vez ele ia interromper, mas eu não deixei.- Nem adianta falar que não é verdade.

- Desse jeito eu não vou contar nada.

- Aí, tá bom seu chato, conta.

- Vou ser bem direto. Estou apaixonado.

Meu queixo caiu. Sebastian apaixonado???? Só podia ser brincadeira. Ele sempre achava que se apaixonar era algo ridículo.

- Você??? Apaixonado? Me poupe irmão.

- Não estou brincando.

E ele realmente não parecia estar.

- Só que ela é meio....intensa demais sabe? Mais do que eu.

- E???

- Você não vê problema?

- Obvio que não!

- Aí que bom então. Fico mais aliviado tendo a sua permissão.

- Pera, me pediu para vir aqui só pra pedir permissão?

- Sim.

  Resumindo, até em assuntos sérios ele me irrita.

   Finalmente deu o horário de ir trabalhar, e nós iriamos testar o que meu sonho previu. Expliquei rapidamente para Nina e em seguida descemos as escadas e paramos em frente à porta.
Bati três vezes. Nada aconteceu.