04 * Contra todas as expectativas...

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Hugo Alves
Não consegui me segurar e ri com Rômulo. Aquela menininha seria nossa secretária? De nós dois? Tudo bem que a geração de hoje é bem tecnológica e tals, mas ela é nova demais para suportar o ritmo louco do nosso cotidiano. Ao menos uma coisa o tio conseguirá a contratando, chega de sexo com a secretária, afinal, ela ainda é um bebê!

— Silêncio! Vocês dois são inacreditáveis. Podem não gostar da minha decisão, porém devem respeitar a presença da Eliza.

Tento parar de rir, ajeitando minha postura no sofá. Olho para a menina, ela continua mexendo no celular, alheia ao que acontece. Seu cabelo está repartido ao meio, com duas longas tranças desleixadas e uma franja que esconde seu rosto. Sem contar um óculos preto e grosso, que a deixa mais desinteressante. Diferente de todas nossas ex-secretárias, a tal de Eliza não usa salto ou vestido curto. Parece que vai passear no parque depois de uma manhã na escola com aquele tênis vermelho e roupa jeans.

Rômulo e o pai iniciam uma pequena discussão à nossa frente. Por um instante consigo perceber o olhar de reprovação (e repulsa?) de Eliza em direção ao meu amigo, antes de voltar a encarar o aparelho em suas mãos e sorrir. Ela anda até uma das poltronas e senta, ou melhor, se joga, parecendo ainda menor contra o estofado preto.

— Sr. Campos, boas notícias! - Meu tio interrompe a briga sussurrada com Rômulo e vira sorrindo para a garota. Ela estende o celular, toda feliz. — Acabei de receber a declaração de culpa da senhorita Solares. Ela não causará mais problemas à empresa ou ao seu filho.

— Como? - Rômulo se levanta, incrédulo.

Não estou muito diferente dele. A senhorita Solares é a atriz que vem o infernizando há meses e até o processou. É uma louca grudenta e ciumenta que não sabe o significado de sexo sem compromisso. Colocamos três advogados renomados para encerrarem esse assunto, mesmo assim tudo só piorava por causa das mentiras criadas por ela e seus fãs obcecados em "defendê-la do vilão".

— Conseguiu muito antes do que eu imaginava, Eliza. Você realmente se dará bem nesse trabalho.

Vejo Campos devolver o celular para a menina, ignorando completamente a dúvida do filho. Eliza levanta sorrindo e aperta a mão do mais velho, num cumprimento daqueles que selam um acordo empresarial. Ela, pela primeira vez desde que chegou, vira para mim e para meu sócio, nos encarando sem sorrir.

— Vocês não precisam gostar de mim, apenas devem me respeitar assim como farei com os senhores. - De alguma forma sua voz soa firme e doce. — Prefiro que me chamem pelo meu sobrenome Santos, não temos intimidade suficiente para que usem meu primeiro nome. Não irei interferir em suas vidas privadas, exceto se isso for causar prejuízos à empresa. Serei a secretária de ambos, mas não a putinha de vocês. Se tiverem alguma dúvida sobre meu currículo, basta perguntarem. Acabei de enviar ele por mensagem.

Escuto um barulhinho de notificação e retiro o celular do paletó. Um número desconhecido havia enviado um link. Clico, ainda perplexo pela fala de Eliza, bem menos inocente do que sua imagem aparenta. A baixinha me surpreende ainda mais quando vejo o site com suas informações. A formação é bem boa, bem como o domínio de idiomas (8 diferentes), mas o que mais chamou a minha atenção foi saber que ela possui 23 anos. Aquele jeito de criança só engana. É uma mulher com qualificações muito superiores ao que eu poderia imaginar. Talvez, muito mais do que merecemos.

— Será um prazer trabalhar com você, senhorita Santos. - Saio do sofá e me direciono até onde ela está. Trocamos um rápido cumprimento. — Perdoe como a tratamos quando chegou. É que você parece ser…

— Bem mais nova? Eu sei. Mas não deveria julgar as pessoas baseado na aparência. Sabe disso, não sabe?

Concordo com a cabeça, incapaz de emitir algum som diante de seu tom acusatório. Sorte que Rômulo se aproxima, respondendo Eliza de maneira afirmativa. Ele dá as boas-vindas para a nossa nova funcionária, pedindo que amanhã ela lhe conte sobre o caso da atriz. A baixinha ri, levando o dedo ao lábio ao pronunciar: "É segredo!". Normalmente meu amigo ficaria bravo com essa falta de resposta, mas dessa vez ele não liga. Ele finalmente estaria livre daquela mulher maluca, o que importa como isso aconteceu?

Uma secretária nada convencional [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora