capítulo 4

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               MELINDA OLIVEIRA

A noite está linda e estrelada. Eu respiro o ar puro e me sinto feliz. Sempre que tenho tempo para me sentir assim, livre e sem ser sufocada, agradeço aos céus.
— Aí está você, Linda. — diz minha irmã Mia, me abraçando e sentando-se ao meu lado no banco.
— Estou aproveitando para respirar, Mia. — digo, olhando para o lindo jardim à nossa frente. Tem várias flores e algumas folhagens. Mas eu amo mesmo os cactos. Eu tenho vários de várias qualidades. Pelo menos isso ele não tirou de mim. Eles me ajudam quando penso em desistir, porque os cactos são fortes e sobrevivem e se adaptam em qualquer ambiente e circunstâncias, com ou sem água. É bem interessante.
— O que está passando por essa cabecinha? — ela pergunta.
— Meus cactos. — digo, sorrindo.
— Você e sua paixão por coisas espinhosas. — ela diz, fazendo careta.
— Eles não são só espinhos, Mia. — digo, pensativa.
— Eu sei, Linda. Você já me contou a história dos seus cactos uma vida toda. — ela diz, sorrindo. E é verdade, sempre falo da força deles em sobreviver em qualquer lugar.
— Chegaram os clientes do seu marido, junto com a esposa e o filho.
— Eu vi um carro passando por aqui mesmo. Um carro enorme, importado e parece até blindado.
— Ah, com certeza é blindado, sim senhora. Agora vamos lá antes que seu marido comece a te procurar.
E assim voltamos para dentro da casa, onde as pessoas estavam reunidas. Meu marido fazia um discurso.
— ... É uma honra muito grande ser um dos advogados da rede de supermercados Ferraz. E quando ganhamos um processo daqueles, não poderíamos deixar de comemorar... — ele continua entoando palavras bonitas, mas vazias, de um cara que só tem maldade dentro de si.
Eu continuo olhando para frente, mas sem ouvir um único som. Estou ali apenas porque faço parte como esposa. Mas sabem quem está ao lado dele, junto com o Sr. Dimas? Isso mesmo, acertaram em cheio, Susana. E ela está se sentindo a esposa, eu acho, e não a ex.

O Sr. Dimas começa a falar sobre a dificuldade que foi ganhar o processo e anuncia algo.
— É com grande alegria que comunico a todos vocês que meu filho Anthony vai assumir meus negócios no Brasil por tempo indeterminado. Para quem não o conhece, Anthony é meu filho mais velho, acabou de chegar dos Estados Unidos há pouco mais de um mês, a meu pedido, para assumir os negócios enquanto eu tiro umas férias. Meu filho está mais que capacitado para o cargo. — ele fala e apresenta seu filho a todos. Parece que enxergo tudo em câmera lenta, porque o filho dele é o mesmo homem com quem trombei no shopping, o mesmo que tem um cheiro maravilhoso e uma voz tão suave que faz você se sentir conduzida por uma paz tão grande que assusta.
— Boa noite a todos. Passei anos morando fora do Brasil e devo confessar que fiquei muito surpreso com o pedido do meu pai para assumir seus negócios, mas prometo dar o meu melhor... — Quando ele começa a falar, sinto minha pele se arrepiar novamente, e continuo olhando para aquele homem em seu terno elegante, mas parecendo tão humilde. Ele não tem um fio de arrogância ou superioridade, é simplesmente ele ali, sem a pose de CEO e homem de negócios. Todos param para vê-lo falar, admirando-o com suas palavras e promessas. Eu poderia ficar ouvindo-o falar por horas a fio e não me cansaria.

Minha tia se aproxima de mim e olha para meu braço, ainda vendo as marcas dos cinco dedos de Ricardo, que estão inchadas. Vejo que ela mostra disfarçadamente para minha mãe, que arregala os olhos e me dirige um olhar culpado. Engulo em seco, me sentindo exposta.

— Sinto muito. — ela sussurra, angustiada, e se afasta de mim. Fico ali, esfregando meus braços com as mãos.

Percebo que meu marido caminha em minha direção, com passos firmes. Quando ele chega perto de mim, penso que vai desferir palavras ofensivas, mas ele beija minha testa e diz palavras que acha que são carinhosas.
— Venha aqui, Dimas, conhecer minha maravilhosa esposa Melinda. Esta aqui é a mulher da minha vida. — ele fala, tocando a base das minhas costas e me aproximando de seu corpo, beijando o topo da minha cabeça. Fico sem reação, faz tempo que ele não é carinhoso comigo. Chega a ser assustador.

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