i always wanted more

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ela sabe que foi como atravessar corredores cheio de candelabros estourados, sabe que no final a porta de um mundo novo se abriu e se derramou pelo chão como tinta, espessa e grudenta. sua pele, de repente, toda tingida de tons de dourado e rose. a figura pálida e clara daquele com o qual sua alma conectou, estendeu a mão para levantá-la do delírio. foi como se tudo que ela sempre quis se abrisse, como se toda a abundância que sempre almejou de repente escalava seu colo, seu peito ébrio. sunmi estava cheia, completamente envolta daquela ganância amorosa.

amor à primeira vista, e tudo que veio em seguida dançou feito bailarinas saídas de conchas prateadas. ele era como uma pérola preservada, daquelas que a ostra não cospe pelos próximos cinco milênios, mas ela havia conseguido abri-lo para o mundo. justo ela, uma garota ordinária que não entende muito sobre o mundo que está inserida. e esse mesmo amor gigantesco fez com que o oceano inteiro a atacasse, a intensidade das ondas lavando sua pele. afinal, ele sempre pertenceu ao mar, certo?

sempre querendo mais, mais e mais, até transbordar. não que ela tivesse competência e coragem o suficiente para dizer o quanto o amava, mas as outras coisas diziam por ela, todos os tons cálidos de gestos físicos, como um abraço frio e hesitante ou um beijo queimado no lóbulo da orelha esquerda. com esses pequenos gestos, ela imaginou que poderia querer mais, quando se acredita lhe pertencer, quando se tem a convicção que o amor transforma por completo a camuflagem barata e orgulhosa das pessoas.

ela sabe que, se pudesse, sempre o escolheria. sempre se lembraria do último momento no cais, o sol brilhando como nunca, tão quente quanto suas bochechas. tudo era solar, intenso e sobre eles. quando seus olhos vazios se encontravam, eles acreditavam preencher a existência um do outro, mas como, sendo que tudo o que ela sempre pôde oferecer foi o silêncio e o vazio?

a partida sempre é a parte mais dolorosa do processo, mas foi muito mais difícil quando ela nunca soube identificar de fato o que significou sua chegada e sua breve passagem. havia, sim, teorias sobre o que ele provocava sobre ela, mas a única coisa destoante era o seu querer desimpedido, desejando que ele pudesse ficar por ela, apresentar melhor aquele novo mundo cheio de diferenças sutis, mas de mesma importância. porque, para sunmi, até esses tipos de coisas invisíveis contavam.

dentro dessa solidão curiosa, ela sabe que se trata de um prelúdio, que aconteceria de qualquer forma assim que suas mãos se tocaram pela última vez . tudo mudou. a aspereza do toque lhe provocou algo na boca do estômago e ela soube que o vazio voltaria a fazer mais sentido, igual a antes de sua chegada.

ela olha, de pé na beira da ponte descascada, ele retornar para o mundo de origem. suas lágrimas nem fazem sentido de verdade quando ela sabe que nunca foi dele de verdade. porque toda ostra deseja sua pérola de novo. e, de repente fez muito sentido, porque sunmi nunca foi de ninguém. por que as coisas mudariam agora?

ela fecha a porta do corredor, ignora todos os lustres e se encolhe mais uma vez ao seu verdadeiro lugar de solidão, de onde nunca deveria ter saído em primeiro lugar.

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