A primeira vez em que coloquei os pés no mar eu tinha tão pouca idade que não consigo me lembrar. Meu pai sempre dizia que eu não precisava me preocupar e muito menos ter medo, porque os anjos do mar estariam sempre ali me protegendo.
Não me lembro...
Essa história foi incrivelmente difícil de escrever e não ficou exatamente como eu havia pensado no início, mesmo assim espero que gostem.
Boa leitura a todos 💕
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
A primeira vez que coloquei os pés no mar, eu tinha tão pouca idade que não consigo me lembrar. Meu pai sempre dizia que eu não precisava me preocupar e muito menos ter medo, porque os anjos do mar estariam sempre ali me protegendo.
Eu só fui entender o que realmente eram os tais anjos do mar quando já era bem mais velho, quando um garoto de uma série acima da minha me empurrou no parquinho dizendo que eu deveria ser tão patético quanto meu pai que acreditava em sereias.
Depois disso, durante boa parte da minha infância e também adolescência, eu passei a ter vergonha de ser filho do meu pai, já que comecei a perceber que não importava onde fôssemos, as pessoas sempre olhavam e cochichavam sobre nós. Essa vergonha, no entanto, durou apenas até a adolescência, quando finalmente ouvi do meu pai o motivo dele acreditar tão fielmente na existência de sereias. Eu não passei a acreditar também, mas comecei a compreender porque ele era tão apegado àquela ideia.
Minha mãe havia morrido durante meu nascimento e, quando ele descobriu que ela não tinha sobrevivido, sentiu seu mundo cair. Achou que não queria mais fazer parte de uma vida sem seu maior amor e, sem pensar muito, subiu em seu barco de pesca e saiu para o mar, mesmo que uma tempestade estivesse a caminho. Quando ele se deu conta, já estava vendo seu barco virar, a água cobrir sua cabeça, e foi aí que ele viu ela. Uma mulher de cabelos longos e cauda de peixe, parecia brilhar no meio da escuridão do oceano e sorriu para ele antes que ele apagasse completamente.
Meu pai poderia ter morrido nesse dia, mas, por algum milagre, ele foi encontrado na costa do lado leste da ilha no dia seguinte. Para ele esse milagre era uma sereia, um anjo do mar, como ele costumava chamar.
Por esse motivo, nós não éramos muito bem vistos pelo restante dos outros trezentos habitantes da pequena ilha, apesar de considerarem meu pai o melhor pescador do lugar e comprarem com ele sempre, claro que nunca deixando de fazer uma piadinha aqui e ali, perguntando se ele tinha sereias ajudando a pegar peixes tão bons, sempre com um tom de deboche que meu pai era bom demais para perceber.
— Você vai sair para pescar? Está vindo uma tempestade. — Falei preocupado ao ver meu pai pronto para sair, com as vestes típicas de quando vai para o mar.
— Volto antes da chuva, os peixes grandes costumam se reunir do lado oeste antes de tempestades grandes vindas do leste. — Ele explicou, não aliviando nenhum pouco minha preocupação.
— Vai ser a maior tempestade do ano. Falaram na TV que a água vai invadir a ilha e que devemos ficar em casa para proteger os móveis.
— A casa fica no alto por esse motivo. Eu volto antes dos ventos ficarem fortes demais.
