"𝐶𝑢𝑖𝑑𝑎𝑑𝑜 𝑐𝑜𝑚 𝑜𝑠 𝑙𝑜𝑏𝑜𝑠 𝑒𝑙𝑒𝑠 𝑑𝑖𝑧𝑒𝑚, 𝑚𝑎𝑠 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑠𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑎́ 𝑠𝑜𝑏 𝑜 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑜 𝑡𝑒𝑡𝑜 𝑞𝑢𝑒 𝑒𝑙𝑒𝑠 𝑣𝑖𝑠𝑡𝑎 𝑠𝑢𝑎 𝑝𝑒𝑙𝑒 𝑚𝑎𝑖𝑠 𝑎𝑠𝑠𝑢𝑠𝑡𝑎𝑑𝑜𝑟𝑎 𝑒 𝑠𝑒𝑢𝑠 𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑚𝑎𝑖𝑠 𝑐𝑢𝑚𝑝𝑟𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑒 𝑛𝑎̃𝑜 𝑑𝑒𝑖𝑥𝑒, 𝑗𝑎𝑚𝑎𝑖𝑠, 𝑒𝑙𝑒𝑠 𝑣𝑒𝑟𝑒𝑚 𝑞𝑢𝑒 𝑣𝑜𝑐𝑒̂ 𝑒́ 𝑢𝑚 𝑐𝑜𝑟𝑑𝑒𝑖𝑟𝑜."
O vôo é longo, meu cabelo praticamente chega cheio de nós quando pouso em outro estado.
Eu liguei pro meu pai, e obviamente só deu pra deixar uma mensagem na caixa postal. Não estou surpresa, então apenas chamo um táxi.
Minha cidade natal é pequena, então são pelo menos meia hora de táxi de todas as cidades vizinhas até lá, não que os moradores se importem com a população baixa e o tempo sempre nublado.
Esse é o tipo de lugar que todo mundo quer estar quando se cansa de tanto movimento na vida, e também o lugar daonde todos querem fugir pra finalmente viver de verdade.
Mas tenho muitas lembranças aqui, é o único lugar aonde eu posso olhar para todas as ruas e lojas e me lembrar da minha mãe. Isso em si já vale toda essa viagem.
Quando entramos na ponte principal uma chuva local bate firmemente nas janelas do carro, no mês em que estamos é comum chover, o rio abaixo de nós fica ainda mais perigoso nessa época, sendo capaz de ouvi-lo mesmo daqui de cima com a água batendo nas pedras e arrastando lama, cascalho e tudo que tiver o azar de cair lá para baixo. Faminto e incorrigível.
Os adolescentes daqui costumavam pular dessa ponte direto pra baixo no verão, afinal esse é o único jeito de sentir adrenalina por aqui quando se é imprudente e novo. Mas nessa época ninguém faria uma loucura dessas.
Mas enquanto penso nisso começo a ver buquês de flores já mortas, bichos de pelúcia mofados e fitas presas em um curto trecho na ponte, um memorial frívolo e não mais tão bem cuidado. Fazendo parecer mais assustador do que reconfortante.
- pobre garoto - diz o taxista ainda olhando para frente.
Eu afundo minhas costas no banco do carro, todos daqui sabem que não se deve pular da ponte principal nessa época. Isso só podia significar uma coisa.
Suicídio.
Uma coisa assim em uma cidade como essa desanda tudo. As pessoas daqui estão acostumadas a não verem as tragédias do mundo, a não conhecerem o medo.
Quando alguém morre de uma forma assim, paralisa um lugar como esse por muito tempo.
E o que antes era completamente perfeito, se torna uma ruína.
- chegamos - o taxista me chama de volta a realidade quando diz isso, eu mal havia percebido que já estava em frente a minha casa.
Eu estico o valor da viagem para ele.
- quer ajuda com as malas?
- não precisa, obrigada.
E ele parece aliviado por isso, está chovendo muito forte lá fora. Como se até os céus estivessem querendo manter o clima pesado e tenso do lugar.
Como se não quisesse dar as boas vindas.
Desço minhas coisas andando rápidamente até a entrada, a cobertura da porta é rasa então ainda estou me molhando enquanto toco a campainha. Demora longos minutos até alguém finalmente aparecer na porta.
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Doce ruína
Romance"O amor vai te salvar ou te destruir" Alissa Lyon se sente traída quando descobre que seu melhor amigo Andrew Mansom esteve roubando de suas economias tirando dela o único sonho que verdadeiramente teve na vida, e após um término com seu namorado el...