Terebintina

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Esta foi a primeira noite que dormi nos braços de Lalisa. Como a cama era pequena, ela me manteve por cima, com seus braços me envolvendo e minha cabeça em seu peito. Podíamos ter dormido em qualquer lugar e eu não teria me importado. Seus braços eram o paraíso e eu jamais queria deixa-los.

Acordei sozinha no dia seguinte, mas não fiquei muito surpresa. Lalisa  nunca dormia muito, pelo que eu havia percebido. Ainda assim, foi meio decepcionante. O desfecho perfeito da noite teria sido acordar em seus braços pela manhã.

Pulei da cama e vesti uma roupa. Hoje eu iria discutir  como mudarmos nossa relação. Como misturar a Lalisa  Dominadora com a Lalisa dos Dias Uteis. Eu tinha certeza de que podíamos fazer isto dar certo.

Espiei pelo seu quarto, mas estava vazio. Ninguém na biblioteca, nem mesmo a lareira acesa. Nenhum som vindo da academia. Entrei na cozinha. O café estava servido, mas nada de Lalisa. Pelo menos ela esteve ali recentemente.

De quem era vez de fazer o café da manhã? Eu teria feito o jantar ontem a noite, mas não descemos para comer. Minha mente vagou para Lalisa... Sua boca encaixada na minha...

Foco , gritou para mim a Jennie Racional.

Muito bem. Café da manhã.

Decidi que seria justo se eu preparasse o café da manha. Afinal, tinha pulado o jantar. Talvez, depois do café, pudéssemos sair. Ter uma guerra de bola de neve. Citar mais Shakespeare.

Nós beijar.

Onde ela estava?

Meti a cabeca pela porta da sala de jantar e meu queixo caiu. La estava ela: lendo o jornal, para minha frustração. Como eu deveria chama-la? “Lisa, Lalisa” parecia informal demais para a sala de jantar.

— Olá — falei, em vez disso.

Assim era melhor. Não a chame de nada.

— Ai está você — disse ela, erguendo os olhos. Não sorria. Por que não estava sorrindo? — Eu estava pensando que talvez você devesse ir
para casa hoje.

— Oque?

Ela baixou o jornal.

— As estradas estão limpas. Você não deve ter problemas para chegar ao seu apartamento.

Fiquei confusa. Não sabia como me dirigir corretamente a ela. Como falar com ela. Tudo estava de pernas para o ar. E por que queria me mandar para casa? Como Lalisa podia pensar numa coisa dessas depois da noite de ontem?

— Mas por que eu iria para casa? Eu teria que voltar a noite.

— Quanto a isso — disse, olhando-me com olhos dissimulados. — Ficarei trabalhando a maior parte do fim de semana, compensando esta tempestade. Talvez seja melhor se você não vier neste fim de semana.

Nao vier? O que?

— Em algum momento, vai precisar vir para casa — repliquei.

— Não por um bom tempo...Jennie.

Jennie.

Meu coração afundou. Tinha alguma coisa errada. Alguma coisa estava muito, muito errada. — Por que me chamou assim? — gemi.

— Eu sempre a chamo de Jennie. — Ela estava completamente imóvel. Nem sabia se tinha se mexido. Talvez ela não respirasse.

— Ontem a noite você me chamou de Jen.

Ela piscou. Foi o Único movimento que fez.

— Era a encenação.

Mas de que diabos ela estava falando? Encenação?

— O que quer dizer?

— Nós trocamos. Você queria que eu a chamasse de Jen.

— Nós nao trocamos — respondi ao perceber a realidade. Ela fingia que nao havia significado nada. Que a noite passada fora uma espécie de encenação em que ela era a submissa.

— Nós trocamos. Era oque você queria quando entrou na biblioteca com o chocolate.

Porcaria, eu não conseguia raciocinar direito. Não conseguia entender o que ela estava fazendo.

— No inicio, esta era minha intenção — eu disse. — Mas depois você me beijou. Me chamou de Jen. — Olhei bem em seus olhos, procurando desesperadamente pela mulher que eu amava. — Você dormiu na minha cama. A noite toda.

Suas mãos safram da mesa e ela respirou fundo. — E eu nunca a convidei para dormir na minha.

Ah, não.

Ah, por favor, Deus, não.

As lagrimas arderam em meus olhos. Isto não podia estar acontecendo. Balancei a cabeca.

— Porra. Não fala isso.

— Cuidado com o linguajar.

— Nao me diga o que fazer com meu linguajar, porra, quando você
fica sentada ai tentando fingir que a noite passada não significou nada. — Cerrei os punhos. — Só porque a dinamica mudou, não quer dizer que o que aconteceu seja ruim. Nós  admitimos algumas coisas. E dai? Seguimos em frente. Vamos nós tornar melhores uma para a outra.

— Alguma vez eu menti para você, Jennie?

La vinha ela com a Jennie de novo. Mas que droga. Limpei o nariz.

— Não.

— Então, o que a faz pensar que estou mentindo agora?

— Porque você está com medo. Você me ama e isto a assusta. Mas, sabe de uma coisa? Esta tudo bem. Eu também estou um pouco assustada.

— Não estou assustada. Sou uma babaca de coração frio. — Sua cabeça
tombou de lado. — Pensei que soubesse disso.

Lalisa não iria voltar atrás. O muro estava erguido. Com reforcos.

Estavamos de volta ao ponto de partida. Ela se sentou, rugida com uma tabua, com as mãos no colo e um jornal descartado de lado. Olhando-me de um jeito que não me dava esperança nenhuma. Fechei os olhos e respirei fundo.

Eu precisava de limites.

Uma vez havia falado isso a mim mesma. E preciso saber quais são os seus limites. Quando se deve dizer ja chega ou para mim acabou .

Pensei minhas opções. Se ela estava mentindo, fazia um excelente trabalho. Se estava dizendo a verdade, eu não podia suportar. Então pensei minhas opções novamente e, pela primeira vez, todas concordaram: a Jennie Má e a Jennie Boa, a Jennie Racional e a Jennie Louca.

E preciso ter limites.

Eu tinha chegado ao meu.

Abri os olhos. Lalisa esperava.

Estendi a mão até a nuca, abri a coleira e a coloquei na mesa.

— Terebintina.

The House Of Submission | JENLISA G!POnde histórias criam vida. Descubra agora