Prólogo

215 20 6
                                    

Avisos de gatilho: Depressão, assédio, relacionamento conturbado, conteúdo sexual, menção à atitudes autodestrutivas e citação sobre abuso.


𝐂𝐡𝐢𝐚𝐫𝐚'𝐬 𝐩𝐨𝐢𝐧𝐭 𝐨𝐟 𝐯𝐢𝐞𝐰:

 O cheiro forte de molho de tomate tomava conta da cozinha, não da minha casa muito menos um local da qual um dia eu me sentiria confortável. O temor de todas mães, normalmente um fim de mundo para pais que prendem seus filhos dentro do tão formidoloso aquário. Mas no fim, era apenas um centro de saúde mental, pessoas com todos os tipos de doenças mentais viviam ali...ou adolescentes julgados como não estáveis para uma vida "comum", e bem, essa era eu.

 Muitos jovens poderiam ser vistos por ali, em sua grande maioria tinham visitas aos montes, pais preocupados, amigos sorridentes e amantes carinhosos. Algo da qual, eu sentia uma inveja sem igual, nunca pensei que sentiria essa necessidade avassaladora de escutar um pouco dos sermões de meus pais, porém, como uma piada trágica de um livro mal escrito, meus pais de forma enfadonha por mim, não se deram como necessário vir me visitar, até porque eu não era mais a querida Chiara, a linda e perfeita menininha que eles tanto me treinaram para ser, aquela da qual ganhava corridas no colégio e tirava notas boas, agora eu era apenas...Emma. 

O tão temido nome, o que sempre traria consigo memórias de insegurança e desbrio.

 Outra infelicidade, era o saber de que Ludovica não estava mais por perto, ou seja, estava completamente só e pela primeira vez em tanto tempos turbulentos, isso não me assustou tanto, sim, pensar em Damiano ainda doía, doía demais na verdade, porém a grande verdade que de vez em nunca, aliviava a dor pela perda do menino, era a noção, de que ele se apaixonou pelo meu melhor, e quando eu finalmente capotei, ele não pode lidar, muito menos ouvir que um dos motivos da minha queda, foi a necessidade de protege-lo.

 Eu estava sozinha, sim, porém algo em estar só depois de tantas companhias opressoras e indesejadas, a minha própria companhia pela primeira vez estava sendo agradável, não, agradável não, suportável

 Até que um monitor, me chama para acompanha-lo até o saguão dizendo que eu tinha visita, arregalo meus olhos levemente, com o pensamento de que talvez meus pais vieram finalmente dar as caras.

 Caminho lentamente até o corredor principal, sentindo meu corpo anestesiado pela leve ansiedade que preenchia meu peito,  assim que sou liberada, me deparo com Niccolò sentado no banco, meu olhos se permanecem fixos no garoto, algo em mim parecia como decepcionado porém a surpresa engoliu esse sentimento com mais brusquidão. Perdido em seus pensamentos estava o garoto, até se virar pra mim, seus olhos transmitiam uma calma confortante. Como se em resposta aquele conforto, de imediato sinto uma sensação de cumplicidade e um tremor confortável em meu peito. O sorriso que se esboça no meu rosto é completamente genuíno, em questão de segundos, o olhar de confusão por parte de Nic, some, vejo seu rosto se iluminar de forma singela, um pequeno sorriso era tudo que eu precisava para que um déjà vu me preencha, a nostalgia desse mesmo sorriso, na casa da família Govender, na escola... 

 Antes que minha cabeça divague para momentos passados, o vejo vir em minha direção com leveza, as mãos em seus bolsos, e o sorriso que nunca se fechou desde que nossos olhos se encontraram, o mesmo olha ao redor e logo acena para que eu me aproxime, não exito por um momento e caminho agora ao lado dele.

 Caminhamos para o lado de fora, ainda sem falarmos uma palavra sequer um ao outro, assim que chegamos ao jardim o cheiro de terra molhada invade meu olfato me fazendo suspirar, porém esse silêncio não dura muito, pois sem mesmo dizer um Olá, Niccolò dispara diversas perguntas, desde como eu estava até o que eu havia arranjado para fazer num local como aquele.

Uma nova chance - Niccolò Govender RossiOnde histórias criam vida. Descubra agora