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O tempo foi passando, e o sol ainda queimava minhas costas. Levi e eu já havíamos saído da água há uns vinte minutos, o suficiente para secar meu short. Decidimos ir embora. Levantei-me, peguei minha mochila e meu tênis, optando por não vestir a camiseta, pois estava quente demais. Caminhamos até a calçada, que parecia pegar fogo de tão quente.
— Bom, a gente se fala — disse Levi.
— Pode deixar! Te vejo amanhã no colégio?
Perguntei enquanto me distanciava.
— Pode apostar que sim! — Ele respondeu, caminhando pela calçada em direção à sua casa.
Eu estava descalço, voltando para casa. Aqui, isso é normal. Moro na rua da praia, então estar descalço não faz muita diferença. Quando me aproximei de casa, tirei um pouco de areia que tinha grudado em mim. Ao entrar, senti um forte cheiro de comida sendo preparada. O aroma era tão prazeroso que invadia a casa, me dando água na boca. Não vi ninguém, então decidi subir e tomar um banho. Porém, fui abordado pela voz da minha mãe na porta da cozinha.
— Onde você estava?!
Ela perguntou, com um tom zangado, me olhando friamente. Minha mãe era uma mulher rígida, assim como meu pai. Tinha cabelos loiros, pele clara e aparentava ser bem jovem para quem não a conhecia.
— Fui caminhar na praia.
— Por quê?! — questionou ela.
— Porque eu quis! Tive vontade de caminhar e decidi ir. — Ela franziu a testa.
— Olha o tom de voz comigo!
Eu a olhei, sem entender nada. Em nenhum momento levantei a voz ou falei de forma ignorante.
— Que tom? Eu apenas respondi à sua pergunta — falei, meio sem graça, pois não sabia como reagir em situações assim.
— O seu tom insolente. Acha que eu não te conheço, Kevin? — Ela cruzou os braços. Não queria debater, mas me pronunciei antes de subir.
— Me conhece? Se esse meu "tom insolente" que você diz é algum tipo de desrespeito, lembre-se de que sou seu filho. A genética vem de você.
Vi ela abrir a boca, mas não disse nada. Ficou calada enquanto eu dava as costas e subia as escadas. Assim que cheguei no andar de cima, dei de cara com Jack, meu irmão.
— Qual é o seu problema? — perguntou ele, me olhando com raiva.
— Do que você está falando?
— Precisava falar com a mãe daquele jeito? — Ele parou na minha frente.
— Falar? Eu apenas respondi. Não sei se você pegou a conversa pela metade, mas ela nem perguntou como eu estava ou como foi meu dia. Já começou sendo toda grossa.
— Acho que você poderia ser menos idiota e ter mais atitude, não é? — Tive vontade de rir ao ouvir isso, mas evitei.
— Tá bom, mimadinho, pensa o que você quiser.
Dei as costas e entrei no meu quarto. Ele parou em frente, dizendo:
— Mimado? Se liga, Kevin. Eu sou mais velho que você. Um soco resolveria tudo.
— É?
Ele arqueou a sobrancelha, esperando uma resposta:
— Foda-se!
Fechei a porta, deixando-o do outro lado, tranquei-a e caminhei até a cama, onde coloquei a mochila no chão e o ténis. Peguei o celular e vi uma mensagem de Levi:
— Valeu por hoje! Foi muito bom. Gostei de ter te conhecido.
Um sorriso bobo surgiu em meu rosto:
— Hoje foi daora! Também gostei de te conhecer.
Joguei o celular na cama e tomei um banho para tirar o suor e o sal do corpo. Após o banho, vesti uma roupa leve e me deitei na cama, sentindo uma leveza no corpo, como se a água do mar ainda estivesse tocando minha pele. O sono pesou meus olhos até que os fechei, suspirando fundo. Acordei mais tarde com os gritos da minha mãe chamando a mim e a Jack. Olhei para a janela e vi que já estava escuro; o relógio no celular marcava seis e quinze. Dormi demais. Levantei-me e caminhei para fora do quarto, desci as escadas e fui até a sala de jantar.
Todos estavam sentados à mesa, prontos para o jantar. Sentei-me e dei boa noite ao meu pai, que me respondeu da forma mais seca possível. Fingi que ele dissera algo. Minha mãe havia feito bolo de carne com queijo, uma das minhas comidas preferidas. Me servi e foi o tempo que meu pai perguntou:
— Sua mãe disse que você discutiu com ela hoje. Posso saber o porquê? Inacreditável como ela aumentou a história a um nível absurdo.
— Nós não discutimos, eu apenas respondi uma pergunta que ela fez. — Ele me olhou.
— Não importa. Quando eu ou sua mãe falarmos algo, você abaixa a cabeça e cala a porra da boca.
— Calar a boca? Eu já não falo nessa casa, porque se eu abrir a boca é motivo de briga — me defendi.
— Kevin, quando eu falar com você, não debata comigo. Disse meu pai, segurando a faca com força.
— Não estou debatendo, estou me defendendo de algo que não fiz. O Jack faz coisa pior, e vocês não fazem nada. Agora, por eu ter ido apenas caminhar, vira uma guerra?
Usei Jack como exemplo, lembrando que uma vez ele deu uma festa aqui em casa na ausência dos meus pais. Por muito que ele me pediu, eu o acobertei, mas depois nossos pais souberam da festa pelos vizinhos e eu saí como o errado. Jack foi aplaudido, porque segundo eles, ele merecia se divertir.
— Já chega! Porra, eu mandei você calar a boca! — Meu pai gritou, dando um forte murro na mesa, que estremeceu, alguns copos caíram.
Meu coração apertou de forma dolorosa enquanto eu o olhava. De relance, percebi que minha mãe e meu irmão também me observavam.
— Ok, vou calar a porra da boca!
Levantei da cadeira e saí da mesa, ouvindo-o me chamar. Não dei importância, voltei para o meu quarto, deixei-o falando sozinho, tranquei a porta e me sentei na cama. Perdi a fome e todo o ânimo que eu tinha acumulado naquele dia. Parece que meus pais têm o dom de acabar com meu dia com simples palavras.

Se eu Ficar? Parte 1 - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora