Quando o mundo era dominado pela fúria selvagem, e o ser humano não poderia ser chamado de civilizado, eu criei a magia...
Não haviam reinos naquela época, apenas uma grande e faminta extensão de terra árida. As árvores estavam morrendo e a água secando, e a cada dia que passava , mais pessoas morriam pela fome, se não mortas por ela , assassinadas para alimentar suas famílias e vizinhos.
Meu estômago doía amargamente oque dificultava cada passo e movimento.
Recebi meu irmão segurando a lebre que havia caçado:
- Hoje foi um dia de sorte , irmã! Acho que essa é uma das últimas da região.
Ele sorria alegremente, seus olhos fundos e famintos demonstravam alegria em ter oque comer.
Preparei a lebre assada e uma sopa rala com algumas plantas secas para dar um pouco de nutrientes, não que isso fosse saboroso, mas quando tudo que você tem em uma semana está em um caldeirão, você acaba tendo de dar valor a esse pouco.
Nós dois nós sentamos já com nossas tijelas cheias, nossa mesa era grande comparada a todo o resto na casa. Tinham cinco cadeiras na mesa redonda...cinco.
Nem sempre fomos só nos dois, antes mamãe se sentava ao meu lado, e ao lado dela nosso pai, a quinta cadeira foi adicionada e confeccionada quando Elijah se casou, Cora era uma boa mulher, mas sua saúde era frágil. Ela foi a primeira a partir, deixando uma cadeira vazia e um buraco no coração do meu pobre irmão, papai foi o segundo a nós deixar, a doença e a velhice o levaram e em seguida nossa mãe também se foi.
Seus corpos nunca puderam ser internados, afinal os mais desesperados costumavam consumir a carne dos mortos para saciar sua fome.
Nós nunca o fizemos, por respeito aos que foram e aos que ficaram, nunca nos permitimos chegar a tal extremo.
Elijah comia desesperadamente, seu rosto pálido ganhando um pouco mais de vida, eu me juntei a ele , enchendo minha boca com o caldo , me deliciando com aquela "refeição" que poderia ser a última.
Quando nossos estômagos já estavam cheios e nossos maxilares cansados e doloridos, me pus a limpar a mesa e guardar o pouco que tínhamos.
Elijah me deixou depois de um mês...e lá estava eu mais uma vez ,sozinha.
Era difícil encontrar qualquer coisa comestível , além de frutas venenosas e cogumelos duvidosos.
Meus pés doíam , já fazia algumas horas desde que sairá da minha antiga casa, agora sem rumo , me permiti caminhar com meus músculos fracos e cansados em busca de um milagre, em busca de respostas, afinal...porque tudo isso estava acontecendo?! Porque os deuses nos castigavam de tal maneira?!
A lua estava brilhando no céu, as estrelas enfeitavam gentilmente o negro da noite.
Meu corpo despencou aos pés de uma grande árvore , a terra árida machucando meus braços e rosto.
Em tempos de dor e sofrimento , a fé e a esperança servem com bálsamo aos fracos e aos fortes é apenas a procura de um alívio.
Meus olhos estavam pesando cada vez mais, podia sentir o meu coração parando a cada batida sufocante.
Com a pouca força que me restava , estendi minha mão aos céus, como se pudesse alcança-lo e me enrolar em teus véus, me aconchegando para uma boa noite de sono. Eu desejei toca-lo, desejei com todas as minhas forças me unir a ele, com sua beleza e mistério, com seu infinito de estrelas e constelações.
A luz da lua iluminou minha face cansada, e aos poucos , como uma flor que murcha , eu deixei o mundo dos vivos...
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A profecia /Darkling/ Aleksander Morozova
FanfictionLendas, histórias e profecias, falavam sobre um monstro, um santo, e uma vitima ao qual todos se referiam com o mesmo nome, Hécate Morningstar, a conjuradora da noite. "- O seu poder é uma parte de mim, e eu sou parte de você." "- Sabe Alina, eu já...