CAPÍTULO - 28

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Saindo da sala, lancei meus olhos rapidamente para onde Nicolas estava. Tentei dar alguns passos em sua direção, mas um dos guardas segurou meu antebraço direito e indicou o lado oposto, eu já não podia ficar mais ali.

" Ele vai fazer o mesmo, sei que vai ", era tudo o que eu conseguia repetir mentalmente. É desesperador não saber quais serão os próximos passos, o que eu vou fazer agora ? Quanto tempo até eu fugir ? É possível fugir de Paradisus ?

A medida que eu ia caminhando pelas salas no Galpão, a imagem de Nicolas encostado no pilar à esperar seu número ser chamado não saía da minha mente. No caminho, cruzei por várias das filas dos capturados. Todos eles usavam um avental igual ao meu, rostos curiosos e tristes. Haviam tantas histórias diferentes nesses corredores e muitas dessas trajetórias iriam ter um fim nesse momento ou poderiam ganhar novos capítulos.

Chegando ao final do corredor, uma porta dupla se abriu, dando abertura para um elevador. Era parecido com o do búnquer, mas bem maior e bonito. De modo geral, todo aquele espaço até então tinha tons de azul claro, branco e cinza. Era confortável e sufocante ao mesmo tempo.

- Boa sorte, te desejo uma boa caçada - o guarda que me acompanhou me empurrou para dentro do elevador e apertando um botão ao lado, a porta foi fechada e eu senti o chão sob meus pés se movimentarem para cima. Eu estava sozinho e certamente vigiado. Eu posso sentir.

Toquei mais uma vez na marca em minhas costas. Não doía, não tinha uma textura diferente da minha pele, era apenas uma marca. Será que há como retirar ?

Em poucos segundos, as portas se abriram novamente e entendi que devia sair para fora. Eu estava novamente num lugar grandioso, porém sozinho. A sala espaçosa devia ter uns trinta metros, de uma coloração branca e cercada de grandes janelas de vidro. A luz do sol batia intensamente da forma que eu não conseguia ver o que tinha do outro lado de onde eu estava, precisava chegar mais perto. Eu estava sozinho.

Calmamente fui andando até uma das janelas no fim da sala, eu não possuía armas comigo, estou desprotegido.
" cuidado onde pisa ", mamãe costumava sempre falar.

Chegando até as janelas, minha face ficou exposta à um sol diferente. Era mais ameno, não tão abafado e quente como o do meu destrito. O clima era diferente, as árvores lá fora... tudo parecia diferente. Eu estava observando os jardins, haviam praças, casas e mais casas circulares e com formatos estranhos. Era um grande vale coberto de plantas, os mais variados tons de verde dominavam o ambiente. Era lindo. Não somente lindo, era bem cuidado.

- Me lembro da primeira vez que vi isso.

Virei o rosto velozmente assustado.

- Você pode morar um dia aí se quiser - a voz era indesejável. Leona.

Ela estava de braços cruzados e encostada numa parede próximo a mim. Cabelo preso num rabo-de-cavalo. Alta, líder e astuta.

Voltei minha face para o lado de fora.

- Você foi o primeiro a se oferecer esse ano, é uma atitude louvável.

- Um gesto de traição para muitos - respondi voltando meu rosto para ela.

- De fato, mas a espécie humana não estaria aqui hoje se homens e mulheres do passado não tivessem decidido salvar a própria pele. No fim de tudo, todos queremos a mesma coisa não é ?

Não respondi, apenas a observei.

- Sobreviver - completando sua fala, ela caminhou até mim e passou a olhar também através das placas de vidro à nossa frente.

Meu ódio por ela parecia ainda maior, mas eu estava indefeso. Não devo tentar nada, não agora pelo menos.

- Qual o próximo passo ? - Perguntei.

TEMPORADA DE CAÇA Onde histórias criam vida. Descubra agora