duas semanas

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" jisoo "

Me sentei na cama assim que Rosé trancou a porta, ela sorriu puxando uma cadeira para se sentar na minha frente, eu estava desconfortável com o jeito que ela me olhava e ela percebeu isso desviando os olhos no mesmo minuto.

- Gosta de ler? - ela perguntou de repente chamando a minha atenção, eu assenti dando um pequeno sorriso Porque não tenta a turma de literatura ao invés do artesanato? - automaticamente lembrei do sabonete que estava em meu bolso, mas sabia que agora não era uma boa hora e nem daria para fazer o que Shuhua havia me pedido.

- É... pode ser legal... - sussurrei - Aquela enfermeira-

- Ela não vai mais ficar perto de você, eu não vou deixar que isso aconteça e caso ela se aproxime de você ou toque em você, me avise. Me avise caso qualquer pessoa te incomodar - eu assenti a vendo sorrir levemente, seus dedos passaram pelo o pequeno corte em meu rosto - Dói?

- Não...

- Você... e a Shuhua são amigas? - eu a olhei desconfiada, franzindo o cenho pela a sua pergunta, como ela sabia?

- Não... não exatamente amigas... acho que essa é uma palavra muito forte...

- Conversam escondidas dos guardas - respondeu - Porque fazem isso?

- Anda me observando? - dessa vez eu a peguei de surpresa, ela arqueou as sobrancelhas e se arrumou na cadeira pigarreando em seguida.

- N-não, porque eu faria isso?

- Porque... você falou que cuidaria de mim... - o silêncio foi o único que restou depois daquilo, levantei meus olhos para ela que parecia pensar ou duvidar sobre aquilo, será que ela havia mentido aquela noite?

Minhas dúvidas foram sumindo quando ela sorriu, se levantou e se sentou ao meu lado, meu rosto ferveu assim que as suas duas mãos acariciariam as minhas bochechas, seus olhos varriam os meus, desciam até os meus lábios mas logo depois voltava para cima com se estivesse com vergonha de olhar ali. Eu me mantive imóvel até que minha mão pousou em cima da sua, me deixando arrepiada em sentir a sua pele quente, mesmo que com pouca coisa ela estava sorrindo, mas sempre que ela sorria eu sentia que não era um sorriso feliz, era longe de ser um sorriso feliz, tinha dor ali, pena, e parecia até ter arrependimento de algo.

- Você sorri... mas parece que está triste...

- Não tem como dar um sorriso verdadeiro aqui, Jisoo.

- Porque não vai embora? - ela suspirou tirando as mãos do meu rosto mas mesmo assim as deixando sobre minhas coxas.

- Não posso mais ir embora...

- Porque?

- Porque eu tenho que cuidar de você agora, e se eu for, não terá mais ninguém aqui para te proteger.

- Mas... o que eu fiz pra você querer me proteger ou

cuidar de mim? - ela riu. - Você não fez nada, mas sinto que devo te proteger,

- não gosta de mim?

- Acho que... gosto.

- Então não precisa ter um motivo sólido para isso, não acha?

Assenti apenas tirando mais um sorriso dela, parece que daquela vez quando ela se foi, eu fiquei triste, a sua companhia era boa, talvez por ser a única que eu tinha. Olhava para o sabonete que estava em minhas mãos pensando em como eu faria aquilo sem que rosé descobrisse, ou talvez eu contasse a ela, talvez ela poderia me ajudar, mas e se ela me entregasse ou algo do tipo. A chuva começou a cair depois de um tempo, o céu estava tão escuro que nem parecia ainda ser de tarde, meus olhos brilhavam de pavor assim que raios caiam e iluminavam o jardim, eu só queria estar em casa.

Será que jennie estava sentindo a minha falta?

Eu sentia falta dela...

Se eu não tivesse a beijado... eu não estaria aqui.

Mas o que eu havia feito de errado? Nos filmes, livros, me ensinaram que toda forma de amor é certa, mas porque então só a minha que estava errada? Porque só as das mulheres que habitavam aquele lugar estava errada?

Descansei a cabeça no vidro gelado do meu quarto, observando cada gota forte cair no gramado, mas algo estava me chamando atenção. Uma enfermeira no meio da chuva segurava o que me parecia ser uma manta branca nos braços, me sentei direito e pude ver quando ela sumiu entre as árvores, poderia ser delírio mas eu havia enxergado uma pequena mão saindo para fora da manta.

Aquilo era uma criança?

Acompanhei quando ela entrou dentro da floresta que tinha mais à frente, parecendo não querer fazer aquilo, dei um salto pra trás quando ela simplesmente jogou a manta ali e voltou correndo para dentro do hospital, era uma... era uma criança ali. Meus olhos se arregalaram, como que havia crianças dentro do hospital sendo que só existia mulheres...? Minha mente viajou naquele momento. rosé precisa ver aquilo... fiquei ali esperando que o pequeno se mexesse, mas isso não aconteceu, ele estava morto? Ele era real ou era coisa da minha cabeça?

Meus olhos não conseguiam sair daquele corpo que eu decretei morto depois de longas horas sem se mover, e depois de muito forçar a visão eu tive certeza que era uma criança de colo ainda. O sinal tocou, a porta do meu quarto se abriu e logo sentia uma mão grande em meu braço me empurrando para fora do quarto. Segui todas as outras até o refeitório mais uma vez, pegando a minha comida e me sentando ao lado de Shuhua que já me aguardava.

- Espera... - ela sussurrou colocando uma porção da sopa em sua boca, ela engoliu mas logo fechou os olhos - Não coma isso...

- Você tem que parar de fazer isso, pode acabar morrendo aos poucos igual as outras.

- Eu sei a porção exata que irá me matar, então não precisa me dar sermões - murmurou colocando a sacola no nosso meio. Eu realmente estava com fome, e ver as outras comendo me fazia ter vontade de comer também. Vi rosé me observando do outro lado do grande salão, parecia que ela sabia o que eu estava fazendo pois os seus olhos eram ágeis e acompanhava os meus movimentos - E as molduras?

- Eu... eu ainda não consegui. Você precisa ter calma, ok? Não é tão fácil assim.

- Eu sei.

As portas se abriram com força e dois enfermeiros apareceram atrás de um homem velho que caminhava com a ajuda de uma bengala, vi rosé se levantando encarando o senhor e tentando saber o que ele faria, ele observou todas mas pousou os olhos em mim, me fazendo ficar assustada, porque ele estava me olhando.

- Está boa a sopa, Jisoo? - ele perguntou caminhando em minha direção, senti o perfume de rosé atrás de mim, mas por algum motivo eu não conseguia me sentir segura naquele momento - Você me parece assustada.

- Deixe ela - rosé falou segurando a mão do homem quando ele tentou me tocar.

- Eu estou conversando com a paciente, rosé . Algum problema?

- Não precisa tocar nela.

-Ah, minha filha... você sabe muito bem que isso não é nada comparado ao o que ela vai passar-

- Para - ela pediu firmemente se colocando na minha frente.

- Você está a defendo?

- Não - respondeu, mas eu pude ver que ela tremeu no mesmo segundo.

- Filha... não se apegue as pacientes, você sabe o que acontece com elas.

- Ela ainda não está pronta pra isso.

- Por isso mesmo, quanto antes aplicarmos o projeto vinte e dois nela, mais cedo ela se recupera. Eu estou errado?

- Ela... ainda não está pronta, pai. Por favor... te avisarei quando ela estiver forte o suficiente para isso.

- Senhor Wooyoung, a sala do tratamento já está preparada, permissão para levar a paciente 1996?

- Não! - rosé respondeu segurando a minha não por debaixo da mesa - Ela não vai passar por esse tratamento, pelo menos, não agora!

- Eu te dou duas semanas, rosé - o homem falou olhando para mim - Se ela não estiver pronta até lá, iremos executar o projeto da mesma forma, me entendeu?

- Sim, senhor...

1996 - chaesoo Ver. ( g!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora