Caro Robin

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Caro Robin,

Confesso, depois de tanto tempo é estranho me dirigir a você dessa forma. Quer dizer, faz mais de trinta anos que não te abraço, muito menos assisto aqueles milhares de filmes de terror que meus pai me mataria se soubesse que assisti na época.

Eu ainda lembro do nosso último momento juntos. Era uma manhã de sábado, eu lembro que fomos a sorveteria e você tinha pedido um sorvete de chocolate para nós dois, apesar de saber que eu não gosto de chocolate. Sempre dizia que iria me apresentar as coisas boas desse mundo.

Na época, achei que estava se referindo somente ao chocolate, festas ou essas baboseiras de adolescentes, mas hoje eu percebo que era mais do que isso. Rob, você realmente me apresentou as coisas boas desse mundo, por exemplo, viver.

Naquela manhã, nós conversamos sobre tudo, como sempre fazíamos. Não tem um dia que não sinta saudade dessas nossas conversas aleatórias. Por Deus, Robin, eu faria de tudo para ser arrastado com você para os fundos da biblioteca para matarmos aula de física juntos mais uma vez.

Naquela noite, enquanto assistia a um programa qualquer de tv com a Gwen, meu pai me veio com a notícia que você havia ido. Que havia me deixado para sempre.

Consegue imaginar a sensação de se afundar em uma areia movediça? Tente visualizar a grossa camada de terra o encobrindo, os seus pulmões falhando, a luz, que parece ser sua única esperança, sumindo. Pois bem, naquela noite, há trinta e três anos, eu afundei na areia movediça.

Chorei, óbvio que chorei. As lágrimas escorriam pelas minhas bochechas como oxigênio entra em nossos narizes. Todo meu corpo doía. Minha cabeça latejava. Minha têmpora tremia. Estava perdendo minha alma, ou, pelo menos, metade dela, você.

Apenas um coração parou de bater, Robin Arellano. Mas no dia 19 de março de 1977 duas pessoas morreram.

Desde nossos sete anos, éramos você e eu contra o mundo. Nós contra valentões. Nós contra pais rígidos. Nós contra professores metidos. Nós contra vilões de filmes. E, de repente, por quê pareceu que agora era eu contra eu mesmo?

Minha vida esteve apagada desde então. É surreal, como uma pessoa pode colorir seus dias e os transformarem em sólidos pretos e brancos. Quando você foi arrancado de mim, sentia que qualquer passo que eu desse iria me fazer um traidor, apenas por viver e você não. Foi difícil.

Aí eu fui sequestrado. Foram dias de puro terror, você sabe bem. Você sempre esteve lá, comigo. Você era assim, você é. Nunca abandona as pessoas, sempre as apoiam e as ajudam. Esse foi um dos maiores motivos de ter me apaixonado em você, além claro, dos seus olhos hipnotizantes.

Tive a completa certeza que você estava morto. Ao me ajudar a sair daquele porão, você me fez perceber que havia saída. Ao desligar aquele telefone, você me deu passe livre para seguir em frente. Eu conseguiria escapar da areia movediça, e obrigado por tentar me mostrar isso.

Aquele pode ter sido considerado, por muita gente, um último adeus, mas, para mim, definitivamente não foi o suficiente. Então, por isso, estou fazendo essa carta.

Não vou mentir para você, nunca fomos assim, não vamos ser agora. Desde então foi difícil, muito difícil. Matt, Matty e Buzz não me deixaram em paz. Eles viram a sua morte como uma esperança. E nada, além do nosso sequestrador, havia me dado tanta raiva como isso.

Algumas tardes revisava matemática, sem mesmo precisar, apenas para imaginar você sentando na sua cama dedilhando sua guitarra, nem sabendo qual língua eu estava falando.

Assistia operação dragão e comprava aquela maldita pipoca doce que você tanto amava. Não acredito que vou admitir isso, mas passei a gostar de sorvete chocolate. Quem diria, né?

Entretanto, nada esteve bem. Desculpe. Quero me desculpar, Robin, por tudo. Por não conseguir nos tirar daquele porão, por não conseguir te superar como imagino que você quisesse. A areia movediça esteve cada vez mais densa, e eu mais fraco. Me desculpe por nunca te superar.

Senti uma culpa no fundo do peito, e essa maldita nunca ia embora. Quer dizer, eu tava vivendo e você não. Eu ria de piadas e você não. Eu via o por do sol e você não. Como que lida com isso? Como que lida sentindo que ocupou o lugar na terra de alguém importante para você?

Gwen me ajudou, claro, mas não era o suficiente. Em uma vida em que se perde a mãe, o melhor amigo e amor da sua vida, nada é suficiente, entende? Claro que entende.

Apesar de tudo, vim apenas esclarecer que eu estar indo te encontrar, não é culpa sua, nunca será. Eu apenas escolhi isto. Talvez seja melhor assim. Gwen está bem. Casou. Está grávida. Acho que está vivendo sua vida dos sonhos. Minha morte não vai interferir, espero.

Já arrumei tudo, fique tranquilo. Todos os meus bens vão para ela. Gwen é uma mulher forte, vai ficar bem. Não posso dizer isso de mim. Não, definitivamente não.

O veneno já começou a fazer efeito, eu sinto minha consciência derreter. Você sentiu isso quando me deixou?

Finalmente sinto que minha vida voltará a ter cores, uma pena que tenha que ser assim.

As vezes, é com um adeus que se começa a melhor parte da vida.

Adeus, Rob. Te vejo logo.

Com amor, o seu Finn.     ᥫ᭡

one last goodbye   ✉️ - rinney one shotOnde histórias criam vida. Descubra agora