Único

463 37 24
                                    

Se puderem ler enquanto ouvem a música, prometo que será uma experiência melhor!

Eu sei que quando você olha pra mim

Há tanto que você simplesmente não vê

Mas se você levasse somente o tempo

Eu sei que em meu coração você encontraria

Oh uma garota que às vezes está assustada

Que não é sempre forte

Você não pode ver o ferimento em mim

Eu me sinto tão sozinha

Já faziam 5 dias desde a morte de Daniel. 5 dias que Irene tinha perdido um parte dela. 5 dias que ela não conseguia respirar direito, não conseguia comer e muito menos pensar. Depois das circunstâncias envolvendo a morte de Daniel, também fazem 5 dias que ela não via Antônio. Irene se sentia sozinha, vivendo o luto por um filho enquanto não tinha ninguém em quem se apoiar, mas ela não podia pensar nisso. Irene não podia pensar em nada, apenas no fato de que foi deixada sozinha para lamentar o seu primogênito, o filho que ela amava com todo o coração, que ela passou cada minuto de sua vida imaginando um futuro brilhante para ele que agora havia sido interrompido.

Eu quero correr pra você

Eu quero correr pra você

Você não me segurará em seus braços

e me manterá protegida de dano?

Eu quero correr pra você

Mas se eu chegar pra você

Diga-me: você ficará

Ou você fugirá?

Já tinham se passado 10 dias. Irene não aguentava mais ficar sozinha, mas não tinha tido coragem de deixar o escuro do quarto. Parecia que se ela saísse do escuro e fosse para o sol, a essa altura, iria se queimar. Ela precisava de alguém, precisava dele, do marido dela ao seu lado nesse momento difícil, mas ela não conseguia se mover para procurá-lo. Faziam 10 dias que eles não se viam, na verdade ela nem sabe se ele ainda é marido dela. Ela não tinha feito de propósito, deixá-lo acreditar que Daniel era filho dele quando não era, mas assim que ela contou que estava grávida, Antônio apenas assumiu que era dele e prometeu cuidar dela. Hoje ela se arrependia de não ter dito antes, mas sabia que no fundo Antônio amou Daniel de um jeito muito especial. A única coisa que ela se arrepende no momento é de como a verdade veio à tona e as consequências que vieram com ela.

Cada dia, cada dia eu represento o papel

De alguém sempre no controle

Mas a noite eu chego em casa e giro a chave

Não há ninguém lá, ninguém se preocupa comigo

Oh qual a razão de dar duro para realizar seus sonhos

Sem alguém para compartilhá-los

Diga-me o que isto significa

15 dias. Irene tomou a decisão que aquele dia seria o dia que ela sairia do quarto. Tomou um banho quente, se arrumou, mas ao pensar em descer para uma mesa de café da manhã vazia, desistiu. Daniel sempre tomava café da manhã com ela, era o horário que mais gostavam de ficar juntos. Caindo novamente numa tristeza profunda, Irene desistiu. Essa foi sua rotina por mais 5 dias, até que no 20° dia após a morte de Daniel, ela finalmente saiu do quarto. Nesse dia Irene descobriu que Antônio dormia no quarto de hóspedes e Petra estava internada. O mundo dela estava ruindo e Irene não sabia o que fazer. Antônio parecia ser informado dos horários dela por Angelina porque eles nunca se encontravam em nenhum momento do dia. Aos poucos Irene foi voltando à rotina. Saía para fazer as unhas, até passava no túmulo de Daniel para se sentir mais próxima do filho, visitava Graça para saber sobre seu neto, mas era quando Irene voltava para casa que toda a tristeza parecia engoli-la novamente. Chorar até dormir era sua nova rotina, mas como ela sempre estava sozinha, ninguém parecia saber.

Eu quero correr pra você

Eu quero correr pra você

Você não me segurará em seus braços

e me manterá protegida de dano?

Eu quero correr pra você

Mas se eu chegar pra você

Diga-me: você ficará

Ou você fugirá?

1 mês depois, Antônio e Irene se encontraram pela primeira vez. Ela não tinha percebido, mas havia descido mais cedo pro café da manhã e encontrou o marido lá. Eles apenas se olharam, mas sentaram juntos para tomar café. Antônio ainda parecia o mesmo. Estava um pouco mais magro e a cara um pouco mais abatida, mas ainda parecia o mesmo Antônio de sempre. Ela não percebeu o quanto sentia falta dele até aquele momento, quando sentaram lado a lado e ela sentiu seu perfume. Seus olhos marejaram, mas quando ela olhou para Antônio pra falar alguma coisa, ele se levantou pra sair e a chance foi perdida.

Não vá

Eu preciso de você aqui

Eu preciso de você para secar minhas lágrimas

Para beijar meus medos

Se você soubesse como eu quero correr pra você

Sim, saiba que eu quero correr pra você

Foi só depois de 2 meses após a morte de Daniel que eles tiveram a primeira conversa. Tinha sido um dia difícil. O luto é traiçoeiro. Não foi uma foto, uma lembrança ou um objeto que era de Daniel que a fez se debulhar em lágrimas de raiva por ter perdido o filho. Foi simplesmente o cheiro da fruta favorita dele, que a fez lembrar de quando ele era criança, ainda aprendendo a comer e derrubando tudo, mas sempre pedindo um pouco mais de morango para completar sua refeição, porque ele adorava. Irene se revoltou. Chorava copiosamente, jogava todos os objetos no chão com uma força até então desconhecida quando sentiu dois braços ao redor dela tentando acalmá-la. Ela não sabia quem era até ouvir palavras de calmaria sussurradas em seu ouvido por Antônio. Ela não tinha mais forças e se deixou levar pelo abraço, virando-se e escondendo o rosto no peito dele. O cheiro dele e o abraço forte a acalmaram e pela primeira vez Irene não se sentiu tão sozinha. Ela sabia que conversas precisavam acontecer, mas nesse momento ela só queria estar dentro do abraço do marido mais uma vez.

Você não me segurará em seus braços

e me manterá protegida de dano?

Eu quero correr pra você

Mas se eu chegar pra você

Diga-me: você ficará

Ou você fugirá?

E Irene esperava por Deus e por um pouco de sorte que Antônio decidisse ficar.

Run to YouOnde histórias criam vida. Descubra agora