de volta aos velhos tempos

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Mais uma vez aqui estou eu, sentado no banco de trás do carro, observando a janela esquerda, enquanto meu pai &' minha irmã, discutem sobre mais uma mudança em apenas um ano:

- pai, não acho isso justo, pense comigo, você apenas colocou a gente no carro sem nada, tirou nossos celulares &' nem nos deu informações para onde vamos dessa vez, pode pelo menos dizer para onde estamos indo? - haerin, minha irmã mais velha, ela parecia bem irritada mas ao mesmo tempo triste.

Ela tinha uma ótima vida onde moravamos a algumas horas atrás, haerin nunca teve tanta dificuldade para fazer amizades, e a sua beleza a favorecia muito, já eu, nunca fui de querer conversar muito com as pessoas, uma pessoa mais fechada e reservada, pelo menos eu me considerava assim:

- já disse haerin, quando chegarmos vocês iram descobrir - meu pai finalmente disse alguma coisa, por mais que preferisse jogar minha irmã pela janela fora, mas ele a respondeu tão calmo que era perceptível que ele estava nervoso.

Eu estava ansioso, sentia um frio na barriga sempre foi assim, em todas as mudanças papai sempre dizia que era por trabalho, mas dessa vez ele não comentou sobre nada:

- harua, por que você está tão quieto? - haerin se virou para trás para me ver

- só não tenho oque comentar, mas está tudo bem - sorri para a garota mais velha, que retribuiu com um pequeno sorriso.

Haerin &' meu pai, sempre foram muito protetores comigo, principalmente haerin ela diz que tem medo que eu sofra com o mundo por ser alguém fechado, ja meu pai diz que vou apanhar porque vão me achar uma pessoa ignorante. Ambos sabem que não é verdade, e sim porque eu simplesmente não tenho o hábito de me comunicar com outras pessoas a não ser meu pai e minha irmã:

- harua, você ainda escreve histórias? - meu pai me perguntou, ainda focado na estrada que agora era mais vazia do que as outras que já havíamos passado

- não, eu meio que não tive inspiração para escrever.

Meu pai não queria ter filhos, e ele já disse isso, eu &' haerin não somos da mesma mãe, minha mãe é uma japonesa e a haerin é com toda certeza totalmente coreana. O meu pai só ficou com a gente porque ele tinha certeza que nossas mães não saberiam cuidar da gente, eles eram jovens demais.

Antes eu sempre pensei que nós nos mudamos muito porque meu pai tem medo que nossas mães tentem pegar nossa guarda e ele acabe nos perdendo, mas haerin diz outra coisa, ele persiste em dizer que o papai esconde alguma coisa.

O carro finalmente parou, já estava escuro, haerin estava adormecida e eu não consegui dormir, talvez a ansiedade fosse maior, era sempre assim eu sempre ficava ansioso com as mudanças, talvez pensando que em alguma delas eu consiga finalmente fazer amigos.

Meu pai estacionou o carro em um lugar muito bonito, era um bairro onde haviam casas chiques, as árvores tinham flores incríveis, a rua era totalmente limpa, as luzes dos postes estavam muito bem iluminadas, eu até posso dizer que ali era o bairro de elite daquela cidade, mas seria mentira, porque eu não sabia, não sabia de nada naquela época, talvez se eu tivesse o conhecimento que tenho hoje, teria pedido para o meu pai para voltarmos no primeiro momento em que ficamos parados em frente a uma casa da cor azul claro, seu telhado eram lajes meio alaranjadas, haviam dois andares, e uma grande janela no andar de cima.

Nós entramos, quer dizer, meu pai bateu na porta esperando alguém entrar, haerin que ainda estava meio sonolenta o encarou totalmente confusa, e eu mais ainda quando uma mulher de cabelos escuros, nariz finos e grandes olhos abriu a porta para gente.

- maninho, meu deus quanto tempo - ela abraçou o papai.

Perai...maninho?oque ela dizer com isso?meu pai dizia que não tinha parentes vivos, ou que todos eles moravam no outro lado do mundo. Será que era apenas uma gíria?mas da onde ela conhecia meu pai?

- crianças, temos muito que conversar, por favor entrem - ele disse, e nós obviamente entramos com a cara mais surpresa do mundo.

- eu trouxe vocês para onde eu morava quando tinha a idade de vocês, essa é a yunjin tia de vocês, ela é minha irmã mais velha, e vocês vão ficar com ela &' a prima de vocês - meu pai era o único que não estava sentado no sofá, e o único que estava nervoso, quer dizer haerin tinha um jeito de nervosismo diferente

- você mentiu pra gente? - haerin tinha seus olhos focados no chão e sua cabeça baixa

- filha, eu não queria mas eu precisei - ele finalmente se sentou ao lado de sua irmã

Haerin tinha lágrimas no rosto, eu não entendia, eu pensei que talvez pelo fato de o papai ter mentido para nós, mas não, ela estava brava porque sabia que ele iria deixar a gente ali. Ela se sentiu mais uma vez rejeitada, ela tremia e eu apenas segurei em sua mão.

- por quê disse que nós iremos passar alguns dias com ela? não vai ficar aqui? - era um pergunta idiota, eu sei eu sei, mas eu precisava ter a certeza de que haerin não estava chorando atoa

- não querido, seu pai não irá ficar, acontece que há muitas coisas para ele resolver, mas não se preocupem vou cuidar muito bem de vocês, tenham certeza - a tal irmã do meu pai disse, eu sorri fraco para ela.

- eu vou embora amanhã cedo, por favor se comportem ok? - haerin ainda sim continuava indignada

- nós nem trouxemos roupas, não tem condições de ficarmos aqui - minha irmã não olhava para meu pai de jeito nenhum, ela encarava o chão como se dependesse daquilo

- não é um problema, a tia de vocês já cuidou disso haerin, ela e a prima de vocês saíram para comprar roupas para vocês hoje mais cedo - agora finalmente haerin tinha os olhos fixados no homem a sua frente

- pai, a quanto tempo está planejando tudo isso? - ele não respondeu a pergunta dela, ele se levantou e deixou um beijinho na cabeça dela e em minha testa. Ele saiu da sala, apenas subiu as escadas para o segundo andar.

- quero que saibam que não é culpa do pai de vocês, vamos vou mostrar aonde cada um irá dormir, haerin querida, tem algum problema se dividir quarto com sua prima? - a mulher que era dona casa, se levantou do sofá e parou na escada, indicando para seguirmos a mesma.

Haerin não respondia suas perguntas, apenas apertava minha mão. Ela parou em frente uma porta com uma plaquinha escrita " é um novo amanhecer, é um novo dia, é uma nova vida "  com algumas carinhas de adesivos, a porta era um rosa bem clarinho, e então yunjin bateu na porta, alguém disse "entra, mãe" e nós entramos.

- ah, vocês chegaram, sou a wonyoung, e você deve ser haerin &' harua não é? - a garota era alta, tinha traços semelhantes a sua mãe.

Haerin soltou minha mão e sorriu para a garota, ela olhava para a decoração do quarto, e viu que haviam muitos álbuns e posters

- você tem gostos semelhantes ao meu - haerin disse em um tom engraçado de alguém que não acreditava muito

- sério?vem, vou te mostrar uma coisinha, eu componho músicas mas minha mãe não gosta muito de escutar, quer escutar? - haerin parecia feliz. Por mais que tenham literalmente ignorado minha existência eu estava feliz, haerin fazia amizades rápido, mas não tão rápido assim.

Yunjin me puxou do quarto e fechou a porta.

- venha harua, quero muito conversar com você - ela me levou até um quarto onde havia aquela enorme janela, tinham tons amarelo escuro &' claro, ela se sentou na cama, onde havia uma prateleira em cima com alguns plantinhas e livros.

- eu não acho que vai ser fácil ficar aqui, acabamos de nós conhecer mas queria muito que consiga entender, seu pai vem pensando em deixá-los aqui a um bom tempo, já tem até a matrícula de vocês feita na escola de wony, mas é por conta do passado dele, não é nada com vocês entende? - a mulher realmente parecia frustada e queria que eu compreendesse

- tudo bem, senhora yunjin, eu compreendo meu pai - o pequeno harua naquela época não compreendia de verdade.

A tia do garoto apenas sorriu e saiu do quarto, ele estava sentado olhando para a grande janela, ele não entendia, ele não sabia porque no final ele sempre acabava sozinho, por mais que tivesse sua irmã, ela não era como ele, e ele se sentia estranho por tudo isso. Talvez o problema realmente estivesse nele. Esse foram os pensamentos que rodeavam sua cabeça, ele tentou dormir a noite toda, mas não teve sucesso, passou a noite em claro.

os nove ciclos do limboOnde histórias criam vida. Descubra agora