JJ
- Eu quero tocá-las...
Eu sabia o que Kiara queria dizer. Eu sabia o que ela queria tocar.
Minha pele formiga, contra a minha vontade, como se pudesse realmente sentir seus dedos sobre ela. Kiara havia sido a primeira pessoa que tentou realmente tocá-las. Não a mim, mas a elas.
Um sinal de alerta se ascende em minha mente, gritando desesperadamente que era uma péssima ideia. Que era íntimo demais, intenso demais, e que era hora de recuar.
Mas alguma coisa em mim fervia quando eu estava perto de Kiara. A vontade incontrolável de beijá-la e tocá-la toda vez que a via ou o ciúmes cru, que eu jamais admitiria que sentia dela. Tudo isso era como combustível nas minhas veias.
Seus olhos castanhos me encaram com expectativa. Sua respiração engatada a fazia parecer indecentemente bonita, o que na minha opinião, deveria ser crime.
Kiara suspira, surpresa, quando eu posiciono suas pernas ao meu redor, para erguê-la do sofá. Meus olhos não desgrudam dos seus enquanto eu a levo até seu quarto. Uso meu pé para fechar a porta, antes de colocá-la sobre a cama.
Ela entrelaça os dedos no meu cabelo, voltando a unir os lábios aos meus. Meus dedos apertam sua cintura, de um jeito que provavelmente deixaria uma marca.
Deixo sua língua explorar minha boca e agarro uma das suas mãos, levando-a até a tatuagem do meio do meu peito.
Kiara morde meu lábio ao sentir minha pele sob os dedos. Ela interrompe o beijo, abaixando seu olhar até onde sua mão encontrava meu corpo. As íris castanhas brilham quando se focam no desenho embaixo do seu toque.
- O que... o que significa? - Sua voz soa baixa e arrastada, mas ainda doce.
Era uma data.
1979.
- Foi o ano em que a minha mãe nasceu. - Respondo acariciando seu pulso.
Seu olhar demonstrava confusão, como se não esperasse realmente que eu fosse responder. Os dedos de Kiara se movem para meu braço, passando pela imagem do furacão do Taz, de "Baby Loonney Tunes".
- Deixa eu adivinhar. Emy? - Ela ri.
- Fiz no aniversário de dez anos dela. - Meus dedos tocam sua cintura. - Ela ainda faz jus ao nome.
Os olhos de Kiara sorriem para mim, e ela volta a contornar as tatuagens. Sua pele vibra em contato com a minha quando ela toca o desenho da rosa. As pétalas caiam uma à uma, até quase não sobrar nada.
- Foi quando a minha mãe descobriu o cancêr...
Eu odiava a pena nos olhos das pessoas, quando ouviam sobre minha mãe. Odiava os "meus pêsames" vindo de pessoas que não a conheciam. Que não a amavam. Me preparei para ouví-la dizer que "sentia muito", mas isso nunca veio. Kiara apenas uniu seus lábios aos meus, em um selinho.
Deduzi que Kiara já teve sua cota de "sinto muito" ao longo da sua vida. Talvez ela também odiasse quando estranhos tentavam entender, ou dizer como ela deveria se sentir em relação a própria dor.
Ela volta sua atenção para as minhas tatuagens. Passa por cada uma delas, enquanto eu assisto seu olhar flamejar cada vez que eu as explico.
Ninguém conhecia todas elas.
Ninguém havia tocado todas elas.
Ninguém sabia o motivo de todas elas.
Ninguém até agora.
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Whatever It Takes - Jiara
FanficNinguém nunca me perguntou o porquê da patinação. As pessoas apenas esperavam que acontecesse, que eu nasci na família certa, que eu não precisei me esforçar. Era mais fácil pensar assim do que admitir que talvez eu tenha problemas também. Mas vou f...