Cicatrizes

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Cellbit voltava para seu castelo em passos lentos, a cabeça baixa e os olhos pesados.
Seus machucados da explosão que aconteceu na "festa para o Wilbur" ardiam muito, quase o fazendo ficar paralisado, sua única motivação de não dormir na favela era sua cama e Roier.
Ah, sim, Roier, seu guapito.
Ele ia enlouquecer quando visse os curativos no rosto e braços de seu gatinho.

Cellbit entrou no castelo, indo diretamente em direção ao quarto compartilhado, suspirando fundo e apaixonado quando viu o outro deitado dormindo tranquilamente na cama.
Foi tomar um banho a contragosto, se segurou para não gritar no momento em que seus machucados entraram em contato com a água quente do chuveiro, praticamente chorando quando terminou. Colocou seu pijama e se sentou na cama, suspirando trêmulo e se segurando para não chorar, as queimaduras doíam, os curativos incomodavam e tinha sido um dia cheio de conversas, argumentos e contra-argumentos.
Respirou fundo tentando se acalmar, passando as mãos no rosto em um quase desespero quando o gesto se mostrou inútil.

— Gatinho?

De repente tudo se acalmou um pouco, quando ouviu aquela voz embargada de sono e preocupação sua mente silenciou-se e focou apenas no som agradável da voz de Roier.

— Guapito. — Respondeu com a voz rouca, virando a cabeça para olhá-lo de canto.

— ¿Que pasó? — Ouviu o farfalhar do colchão às suas costas e uma mão em seu ombro.

Não queria olhar para o outro, não queria o preocupar.

— Tô só meio cansado, tá tudo bem.

— Gatinho, não minta para mim, eu conheço você, conheço sua voz.

Cellbit ficou quieto, apenas sua respiração ríspida sendo audível.

— Olha pra mim... — Falou o mexicano, em um tom baixo e calmo, Cellbit apenas negou com a cabeça — Por que não? — O brasileiro não respondeu novamente, para o descontentamento de Roier.

— Cellbo... — Levantou a mão para tocar na mandíbula do outro, mas assim que tocou houve um sobressalto e um gemido baixo de dor.

Roier se desesperou.

— Gatinho, o que houve!? — Se levantou em um pulo e se agachou na frente de seu marido tendo uma visão que fez seu coração quebrar em mil e um pedacinhos.

Metade do rosto de Cellbit tinha curativos, cobrindo um machucado de queimadura feio, olhando mais de perto agora, a manga um pouco levantada do seu blusão mostrava mais bandagens.

Roier encarava o rosto do amado com preocupação e dor, sabia que Cellbit não se orgulhava de suas cicatrizes e odiava outras, o impacto que isso causou em Cellbit, Roier sabia, foi avassalador.

— Mi amor... — O mexicano levou a mão até o lado oposto dos machucados e fez um carinho no rosto do brasileiro, sentindo uma lágrima caindo em sua palma e a secando de imediato — ¿Que pasó?

— Houve uma explosão, em uma festa que supostamente era para volta do Wilbur, no final era só uma armadilha.

— Tá todo mundo bem?

— A Jaiden e eu nos machucamos, e... e o Richarlyson quase morreu.

Roier engoliu seco com o pensamento e o quão machucada e embargada a voz de Cellbit parecia pronunciar cada palavra.

Se sentou na cama e puxou seu marido para um abraço de lado, fazendo um carinho nos cabelos — especialmente na mechinha branca, ele a amava — enquanto Cellbit deixava todas as mágoas dos desesperos que sentiu em um dia só saírem.

Quando o brasileiro se acalmou, Roier deitou com Cellbit encostado em seu peito, não parando com o carinho nos cabelos e rosto e ombros e qualquer parte que estivesse em seu alcance no momento.

— Te amo, gatinho. I'm with you, always and forever.

Falou em inglês para poder expressar as exatas palavras que queria usar e para que o outro entendesse completamente.

— Também te amo, guapito.

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