Capítulo 5 - Nanon

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Olho para uma borboleta colorida que passa por mim voando, mas ela vai para longe, estou em um campo aberto sentado no colo de uma senhora que sorri para mim enquanto canta. Quando ela para fica olhando para o céu.
- Vovó me conta de novo a história da luz.
Ela me olha e sorri.
- Você gosta dessas história?
- Gosto, um dia eu quero encontrar a minha pessoa de luz, para ter um amor eterno.
- Infelizmente as vezes o eterno não dura muito tempo querido.
- Mas eu sou um nefilim, eu vou durar muito tempo não vou?
- Vai sim meu querido, vai sim.
- Será que vou viver até a idade do bisavôzinho?
- Você quer viver 864 anos?
- Quero.

Eu acordo e sinto que tem alguma coisa errada, tento me mexer e percebo que ele está tocando a minha cicatriz. Me viro e a sua mão cai para o lado, olho para ele e alguma coisa está estranha, me sento, mas ele não se mexe e nem olha para mim.
- Eophan?
Eu toco no seu rosto e ele não reage, os seus olhos estão estranhos também, com um tom meio leitoso, me aproximo e ele está mole, o deito na cama, não quero que ele caia e se machuque. Passo a mão pelo seu rosto e me aproximo para ver se está respirando direito.
- Eophan? Ohm por favor olha para mim!
Dou batidas leves no seu rosto, mas ele não reage.
Eu vou ficando cada vez mais nervoso, não esse não é o sentimento, angustiado talvez? Esse é um sentimento estranho para mim. Eu me levanto e olho para ele, porque eu me importo? Eu não deveria me importar, a coisa certa a fazer agora seria aproveitar e tirar o seu coração e sair daqui.
Eu me aproximo mais uma vez, coloco a mão no seu peito e começo a pressionar as unhas na sua pele. Fecho os olhos e me concentro, eu posso fazer isso. Pressiono um pouco mais, sei que só preciso pressionar mais um pouco para quebrar os ossos para a minha mão entrar, só mais um pouco, só mais um pouco.
- Merda!
Eu me afasto e olho para ele que está do mesmo jeito, só que agora com a minha marca no seu peito sangrando. Pego o telefone e ligo para o Mark enquanto vou andando para lá e para cá nesse pequeno espaço.
- Nanon, sabe que horas são?
- Eu preciso de ajuda, ele está estranho.
- Quem está estranho?
- O Ohm.
- O Nefilim?
- Isso, eu acordei e ele estava com a mão na minha cicatriz e agora ele não está reagindo. Você leu alguma coisa sobre isso?
- Espera, como assim você acordou? Você foi atrás dele? Você dormiu com ele?
- Mark é sério, você já leu alguma coisa sobre isso?
- Não, nunca foi registrada nenhuma interação de anjos e nefilins na história, exceto a extinção.
- Droga! O que eu faço Mark?
- Não vou poder te ajudar com essa Nanon.
Eu olho para cama e ele começa a se mexer
- Ohm?
Eu desligo e corro para ele, toco o seu rosto e ele me olha.
- Ah Eophan, nunca mais faça isso comigo.
Mais uma sensação estranha toma conta de mim e eu não sei o que fazer, ele levanta a mão e passa o dedo no meu rosto.
- Você está chorando.
- Impossível, eu não posso chorar.
Ele passa o dedo pelo meu rosto mais uma vez e então coloca na boca, segura a parte de trás do meu pescoço, me puxa e me beija, eu começo a voar. Sinto ele segurando a minha cintura e me fazendo deitar, então ele se afasta. Quando a névoa some consigo focar nele que está sentado me encarando.
- O que você é?
A pergunta me pega desprevenido, então eu apenas fico olhando para ele sem dizer nada.
- Você é alguma coisa não é?
Eu me sento porque tenho a sensação de estar vulnerável deitado.
- Não sei do que você está falando.
- O que é isso?
Ele aponta para o próprio peito e vejo que ainda está sangrando onde as minhas unhas entraram. Eu fico alerta para o caso dele tentar alguma coisa.
- Porque você fez isso?
Eu ainda encaro ele sem dizer nada.
- Fala alguma coisa, qualquer coisa!
- Acho melhor eu ir embora.
Eu me levanto, mas ele entra na minha frente e toca o meu rosto.
- Porque você estava chorando?
- Eu não sei do que você está falando, por favor me deixa passar eu não quero te machucar.
Ele não se mexe, não tira a mão do meu rosto, continua me bloqueando e fica me encarando.
- Você não quer me machucar?
Eu olho nos seus olhos e tenho impressão que essa pergunta significa muito mais do que apenas a última frase que eu disse.
- Eu tenho que ir embora.
- E se eu não quiser que você vá embora?
Ele se aproxima aos poucos.
- E se eu quiser você?
Começo a sentir que estou flutuando e isso não é bom, não posso baixar a guarda. Tento me concentrar, mas o único jeito é me afastando dele, dou um passo para o lado e ele segura na minha cintura e me puxa para ele, por reflexo eu coloco a mão no seu peito e o empurro, só que sem conseguir pensar direito eu acabo usando força demais, ele bate com tudo na parede e cai no chão.
- Ohm!
Eu corro até ele, mas antes de eu chegar ele já está se sentando com a mão na cabeça. Quando eu me abaixo ele olha para mim e sorri.
- Eu sabia que você era alguma coisa, o que você é anjo?
- Você está bem?
- Eu falei que não vou quebrar, mas eu sinceramente prefiro quando você está tentando quebrar a cama.
Ele passa a mão pela cabeça mais uma vez sorri e se aproxima.
- Anjo, você não quer responder as minhas perguntas tudo bem, mas eu preciso que você responda uma única pergunta. Você vai me machucar?
Eu penso em como responder essa pergunta, fecho os olhos e tento decidir o que eu quero, mas sinceramente nesse momento eu já não sei mais o que quero. Abro os olhos e ele ainda está esperando.
- Eu não sei.
Nenhum de nós fala mais nada, então eu me levanto, visto a minha roupa e vou embora.

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