O feiticeiro e o deserto.

Capítulo 7, Punição.

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彡★ Capítulo 7, Punição:

Passei alguns segundos paralisada no meio do mato, tentando compreender o que acabou de acontecer. Adriel era o Astris que foi até o bar do senhor Manuel naquele dia. Não há como deduzir outra coisa depois dele praticamente ter se entregado com aquela afirmação. Mas a pergunta é: por que Adriel estava no bar naquele dia? Se eu parar para pensar, o aparecimento dele no bar e o meu quase acidente aconteceram em um curto intervalo de tempo...

Fiquei divagando por alguns minutos. Esse encontro com o Astris de cabelos brancos me deixou intrigada. Eram tantas perguntas a serem feitas, tantas respostas que eu ansiava em saber, que era quase impossível manter a calma naquele momento. Só percebi que precisava voltar ao meu quarto quando ouvi um misto de vozes se cumprimentando a muitos passos à frente. Escutei carruagens e carros passando às pressas, perto de onde eu estava. Posso estar enganada, mas acredito que muita gente acabou de chegar na mansão Limethorm. Segurei Francisco firmemente nos meus braços e corri o mais silenciosamente possível por entre as árvores, torcendo para não estar muito longe dos dormitórios das criadas, ou pior, torcendo para não estar perdida naquela floresta. Consegui me localizar pelas luzes distantes da mansão e cheguei até a janela do meu quarto, graças a elas. Para meu azar, a janela estava fechada.

Fiquei na ponta dos pés para tentar enxergar melhor através da janela, que ficava a cerca de dez centímetros acima da minha cabeça. Leaf estava lá, sentada em sua cama, com um lampião aceso ao lado. Ela penteava os cabelos com um pente magnífico que eu nunca tinha visto antes. Era dourado e tinha alguns detalhes em um azul profundo que não consegui distinguir. Bati três vezes rapidamente no vidro da janela para que Leaf me ouvisse, mas ela nem sequer olhou para mim. Suas feições demonstravam uma tristeza profunda, e seus olhos, com um olhar vago e vazio, transpareciam um sofrimento que eu nunca imaginei ser possível. Então, lembrei do olhar da minha família no dia em que fui levada de casa, e senti o sangue esvair do meu rosto.

Escutei passos e risadas vindo em minha direção por entre as árvores. Em alerta, bati mais algumas vezes na janela, agora com mais urgência. "Vamos, Leaf, atende!", pensei. Como um lampejo de luz, os olhos de Leaf deixaram de ser vazios e, aos poucos, ela focou sua atenção em mim. Pude ler seus lábios dizendo "Jade" e, num gesto quase imperceptível, ela puxou a gaveta de sua cômoda e guardou o pente com tamanha fluidez que só olhos muito atentos captariam. Lentamente, Leaf se levantou da cama e abriu a janela. Ela parecia extremamente deslocada.

— Jade? — seu tom era confuso.

— Sem tempo para explicar, Leaf. — Com meu braço recém-curado, me apoiei e fiz impulso para subir pela janela e cair dentro do quarto. Logo em seguida, dois homens passaram conversando alto perto da nossa janela, na floresta, e, como resposta automática, me abaixei, mas eles viram Leaf de pé.

— Olá, querida. O que faz acordada a essa hora da noite? — um dos homens perguntou. Não consegui identificar quem foi, pois estava abaixo da linha do parapeito da janela. Do ângulo em que eu estava, vi que Leaf ficou muito mais pálida que o normal, mas, apesar de desconcertada, disfarçou bem.

— Apenas tomando um banho de lua, sabe como é... dizem que a lua tem propriedades curativas. Se não se importarem, vou dormir agora... vocês deveriam voltar para onde vieram. O dormitório das criadas não é um bom lugar para estarem... Boa noite. — e fechou a janela o mais rápido que pôde. A voz de Leaf era suave, mas, ao falar com aqueles homens, parecia que ela estava sugerindo o caminho que eles deviam tomar. Achei isso muito estranho. Ouvi uma pausa e, em seguida, conversas altas lá fora, até que os passos começaram a se afastar.

Não percebi o quanto meu corpo estava rígido de tensão até sentir meus músculos relaxarem, me esparramando no chão. Leaf me olhava confusa, revezando o olhar entre mim e Francisco.