Capítulo I - Um Príncipe ou um prisioneiro?

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No sombrio ano de 993, em um reino distante e sem nome, o silêncio do castelo era interrompido pela expectativa do nascimento do terceiro herdeiro real. O rei Aron, um homem imponente com olhos penetrantes e uma postura inflexível, caminhava nervosamente pelos corredores enquanto aguardava o parto. Jacob, seu primogênito de apenas seis anos, era a cópia perfeita de seu pai: cabelos claros, olhos verdes e asas brancas imaculadas, que o tornavam uma promessa gloriosa para o futuro do reino. Ao seu lado, Charlie, com três anos, também trazia o orgulho da linhagem com seus olhos azuis e asas brancas como a neve.

Mas naquela noite, algo mudou para sempre.

O grito sufocado das enfermeiras ecoou pelo quarto quando o pequeno Blake nasceu. Seu choro suave foi ofuscado pelo espanto nos olhos de todos ali presentes. Ele não se parecia com seus irmãos. Seus cabelos eram negros como a escuridão da noite, seus olhos como carvão e suas asas... um marrom sombrio, quase diabólico. O ar no quarto tornou-se pesado quando o rei se aproximou. Suas palavras cortaram como lâminas: "Aberração."

O rei Aron recuou, com o ódio ardendo em seu olhar.
- Essa criança foi enviada por um demônio, Emma! - declarou, com uma intensidade que fez a rainha estremecer.
Emma, frágil após o parto, defendeu com fervor o bebê em seus braços.
- Essa criança é seu filho, Aron! Seu filho!
Mas o rei, cego pela raiva e pelo medo do que os outros pensariam, estava decidido a se livrar do recém-nascido. - Eu vou acabar com isso agora. Podemos ter outro filho. -  declarou enquanto se movia em direção ao berço com determinação assassina.

- Não! - Emma gritou, sua voz desesperada. - Por favor, não faça isso! Ele é um milagre de Deus.
Aron parou por um momento, encarando sua esposa.
-Milagre? - zombou ele -Isso não é um milagre. Mas darei a ele uma chance. Porém, com uma condição: ele nunca sairá deste castelo. Nunca aprenderá a voar. E sempre que houver visitas, ficará trancado em seu quarto como a aberração que é.
Emma, com lágrimas nos olhos, concordou, incapaz de mudar o destino sombrio de seu filho.

O anúncio de que o terceiro filho do rei havia morrido logo foi feito, e Blake foi condenado a uma vida de reclusão, escondido do mundo, vivendo na sombra de seus irmãos. Mas, apesar do desprezo de Aron, Emma e Charlie não podiam deixar de amá-lo.

Os anos se passaram, e Blake, agora com 14 anos, continuava a viver no confinamento de seu quarto, desconhecendo o mundo além das paredes do castelo. Seus irmãos, por outro lado, brilhavam aos olhos do pai. Jacob, com a arrogância de quem sabia que herdaria o trono, era o filho preferido. Charlie, mais compassivo, tornara-se o único amigo de Blake.

No entanto, o ódio de Jacob por seu irmão "monstro" era quase palpável. "Aberração", sussurrava ele sempre que passava por Blake. O rei reforçava essa visão cruel, nunca deixando Blake esquecer sua posição na família. Certo dia, após uma visita da prometida de Jacob, Violet, o rei entrou furioso no quarto de Blake.
- Pode sair agora. - disse ele, sua voz carregada de desprezo.

- Por que não posso sair quando temos visitas? - perguntou Blake, sua voz trêmula, mas desafiante.
O olhar de Aron era de puro desprezo. - Você é uma aberração, Blake. Não é digno de ser visto. Você não é como seus irmãos.

Essas palavras eram uma tortura para Blake, que sentiu sua raiva explodir.
- Eu te odeio! - gritou ele, seus punhos cerrados, lágrimas de dor e fúria escorrendo por seu rosto. Aron, impiedoso, avançou com a fúria de uma tempestade.
- O que disse? - perguntou ele antes de desferir um soco tão violento que jogou Blake no chão. O rei, furioso, puxou violentamente uma das asas de Blake, fazendo o garoto gritar de dor.
- Você tem sorte de eu não ter acabado com você no dia em que nasceu! - rugiu Aron, antes de sair do quarto, deixando Blake no chão, soluçando de raiva e dor.

Charlie, que estava por perto, correu até o quarto do irmão.
- Está tudo bem, maninho? - perguntou ele suavemente. Blake, com a voz entrecortada, respondeu: -Não... Ele me odeia.

No dia seguinte, Emma tentou consolar o filho.
- Seu pai reclama do porquê de você ter nascido assim - disse ela enquanto acariciava uma das asas de Blake.
- Mas eu vejo você como um milagre.  Blake a olhou, com dor nos olhos.
- Se é um milagre, então por que estou preso? Por que não posso ser livre?

Emma suspirou profundamente. 
- Amanhã, seu pai estará fora. Charlie pode te ensinar a voar. - Os olhos de Blake brilharam com esperança.
- Sério? - Quando ela confirmou, ele a abraçou com toda a força que podia, como se aquele momento fosse o único sopro de liberdade que poderia experimentar.

No dia seguinte, antes do amanhecer, Charlie levou Blake até um lugar afastado, longe dos olhos do reino.  -Está pronto? - perguntou Charlie, com um sorriso encorajador. Blake, nervoso, assentiu.
-Vamos pular no três - disse Charlie. E, pela primeira vez, Blake saltou. O vento batia contra suas asas escuras enquanto ele sentia a liberdade pela primeira vez.
-Você está voando, Blake! - gritou Charlie, cheio de orgulho.

Mas aquela liberdade durou pouco. Uma flecha cortou o céu e atingiu a asa de Blake, fazendo-o cair violentamente. Charlie gritou por seu irmão, correndo para ajudá-lo. Quando chegou ao local da queda, viu Blake ferido, ensanguentado, com uma asa quebrada. Charlie, em desespero, puxou a flecha, fazendo Blake gritar de dor. Rapidamente, ele o levou de volta ao castelo, onde os médicos o atenderam.

Mas Charlie sabia a verdade. Foi Jacob quem atirou. Enfurecido, ele confrontou o irmão.
-Foi você! - gritou Charlie, empurrando Jacob contra a parede. -Você poderia tê-lo matado!
Jacob, com um sorriso frio, respondeu: -Só estava seguindo as ordens do rei.

A luta entre os irmãos escalou rapidamente, com Charlie quebrando uma das asas de Jacob. A Rainha, ao saber da verdade, deu um tapa em Jacob, deixando claro que nunca mais aceitaria tal traição. Contudo, o pior estava por vir. Quando o rei voltou e viu Blake ferido, sua raiva explodiu em uma fúria incontrolável. Ele espancou Blake sem piedade, acusando-o de ferir Jacob. Foi Jacob quem finalmente, com culpa em seus olhos, implorou ao pai que parasse.

Blake, gravemente ferido, foi levado pela mãe até a enfermaria. Lá, entre lágrimas e sussurros de dor, ele jurou para si mesmo que um dia, de alguma forma, escaparia do destino que lhe fora imposto.

Continua...

Blake: Asas negrasOnde histórias criam vida. Descubra agora