1

55 5 1
                                    


Krist acordou com um grito.

Ele estava suado e as lembranças do seu pesadelo ainda vívidas em sua mente. Aquele dia completa exatamente um ano que seu pai havia sido brutalmente assassinado. Fora Krist quem descobrira o corpo do pai, na manhã seguinte ao Halloween, assim que chegara em casa de uma festa.

Ele fez todo o silêncio para não acordar o pai – e o grito ficou preso em sua garganta quando ele se deparou com aquela cena. O corpo do seu pai estava no chão, próximo da televisão, sangue espalhado pelo carpete inteiro, mas a lembrança que mais assustava Krist estava quase que imóvel. Uma gota de sangue descia vagarosamente pelo rosto do pai, pingando no chão como tantas haviam feito antes dela. As entranhas do seu pai estavam para fora, uma prova cabal da forma brutal de como ele havia sido assassinado. O grito de Krist, porém, só se tornou audível quando ele percebeu que ao lado do corpo do seu pai estava o coração dele, arrancado de maneira bizarro e exposto como um troféu.

Tudo o que Krist mais queria era esquecer aquelas lembranças, mas elas tinham voltado bizarramente para ele naquela data maldita. Ele sabia que não seria um dia fácil, por isso mesmo tinha preferido ficar em casa ao invés de ir para as festas que aconteceram na cidade na noite anterior. E ele teria ficado o restante do dia em casa, mas sua mãe insistia que ele devia tentar manter a rotina, assim não sofreria tanto com aquela data canônica. Esse era o primeiro aniversário de morte do seu pai e não tinha como ele fingir que aquela data não lhe abalava.

Ele aguardou até que o carro de Neo parou em frente a sua casa. Krist se despediu da mãe e foi caminhando até o carro com a sensação de que havia alguém o espionando. Ele olhou para os lados, mas não havia ninguém ali. Apenas uma paranoia dele, naquele dia incomum.

"Ei, você está bem?" Neo gritou de dentro do carro.

"Estou, estou..." Krist balbuciou mais para si mesmo do que para o amigo e ocupou o banco do carona. Ele olhou para trás e viu que First estava com o celular em mãos. "Bom dia para você também, First!"

"Não seja tão sensível", o amigo rebateu.

Os três riram e Neo deu a partida. Krist pensou se algum dos seus amigos estaria com vontade de tocar no assunto, mas nenhum deles o fez. Ele ficou silenciosamente agradecido. O que menos ele queria naquele momento era falar sobre o que tinha acontecido com os seus pais.

"Vocês sabem quem eu chamei para sair no fim de semana?" Neo perguntou, enquanto parava em frente a um sinal de trânsito.

"Quem?" Krist e First perguntaram em uníssono.

"O Mark. Amanhã nós vamos ao cinema."

Então Neo finalmente havia tido a coragem de chamar Mark para sair. Já fazia um tempo que o amigo falava em como gostava de Mark, mas nunca tinha tomado coragem de convidá-lo para alguma coisa. Pelo visto, em pouco tempo, First não seria mais o único integrante comprometido do trio.

First começou a contar a Krist como havia sido a festa da noite anterior, enfatizando sempre em detalhes bobos, talvez para manter a atenção de Krist em coisas sem importância. Mas ele se calou quando passaram pela frente da casa de Nanon e viram que havia duas viaturas policiais paradas ali na frente e algumas equipes de reportagem.

"Ei, o que será que aconteceu?" Neo perguntou, parando o carro próximo da viatura.

"Pera, vou perguntar ao meu pai..." First ia dizendo, quando foi interrompido por um dos policiais.

"Aqui não crianças. Essa é uma cena de crime."

"Pai..."

"Vá para a escola agora, First. Bora, Neo, liga logo essa droga..."

THE KILLER - VERSÃO PTOnde histórias criam vida. Descubra agora