Dentro de um pântano escuro, no meio da noite, um necromante proferiu seu feitiço malévolo para que espíritos malignos, poltergeist e mortos-vivos surgissem.
— Ex imis terra, ex inferno calidissimo, oriuntur execrabiles creaturae. surge et servi mihi, progenitor nis!
O ar tornou-se rarefeito e a atmosfera parecia mais pesada. De repente, espíritos do mal e mortos-vivos se levantaram, um de cada vez, grunhindo como bestas ferozes e sem cérebro, prontas para difundir o caos.
— Sim! Com isso, terei a vingança a qual este mundo merece! Aguardem meu Ato Final, reles humanos!
Os monstros marcharam seguindo seu líder através do pântano até o fim último da noite.
No entanto, após a noite virar dia, uma mão surgiu do solo árido e infértil, mais um morto-vivo malévolo!
— Uuurhh... blergh!
Ele se levantava e olhava confuso ao redor, procurando seus inquilinos e seu mestre, esperando veementemente uma ordem a seguir. No entanto, não encontrou nenhum desses.
Cuspindo o resto de terra que ficara em sua boca, o esqueleto andou boa distância até sentar-se em uma pedra com musgo, ao lado de uma espada enferrujada e na beira de um penhasco grande.
— W... Won... Onhe ehou? (Onde estou?) — tentou dizer o esqueleto, falhando miseravelmente por conta da sua falta de prática e, evidentemente, de uma língua.
Um pássaro negro pousou em seu ombro.
— Um hahaho... (Um pássaro) - ele se lembrava de algumas informações triviais sobre o mundo, mas nada sobre sua vida.
— Olá, meu chapa. Tá fazendo o que aqui nessa pedra, sozinho?
— Ue he herhi. Huanho ahorhei hão henhonhei hinhem... (Eu me perdi. Quando acordei, não encontrei ninguém...) — disse, sem se preocupar com o fato do corvo falar.
— Rapaz... Que situação, hein? Mas e então, o que vai fazer?
— Hão hei... Halheh eherah ahi. (Não sei... Talvez esperar aqui.) — afirmou, pegando a espada para se apoiar no chão.
— Bom, você que sabe. Vou voltar pra minha casinha. Se precisar de alguma coisa, dá um grito, talvez eu te ajude.
FLAP FLAP ~
O corvo bateu as asas e voou para longe, deixando algumas penas para trás.
O vento uivava, a maré do oceano abaixo soava raivosa, mas o Lich estava calmo.
Talvez eu descubra o que vim fazer nesse mundo. Só preciso esperar.
Pensou.
Dia após dia, o Lich escutou os mesmos sons da maré e do vento, conversou com o mesmo corvo, segurou a mesma espada e esperou na mesma pedra.
Por não estar num Transe de Escravidão, usado por necromantes, ele conseguia pensar livremente. Às vezes, seus pensamentos vagavam muito, a ponto de deixarem de fazer sentido.
Como será que as coisas caem de volta ao chão? Por quê aquele corvo não cai no chão quando sai voando por aí?
E, às vezes, ele chorava. Não visivelmente, claro. Ele não tem olhos e muito menos glândulas lacrimais. No entanto, ele se sentia frustrado, triste e abalado. Fazer barulhos tentando expressar o que sentia era a única forma de escape que possuía para este tormento eterno.
— Hurj... Hurg...
— Ruge? O que você tá falando, pilha de ossos? — disse o corvo, desdenhando da situação do esqueleto.
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A vida do Lich Solitário
FantasyRevivido sem seu consentimento e perdido da horda de mortos-vivos e espíritos, um esqueleto vagou pelo pântano até encontrar um lugar tranquilo para ficar. A partir daí, ele tenta desvendar o mistério de sua existência e a razão para vagar pelo mun...