Prefácio

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A chuva batia fortemente contra o carro em movimentos contínuos e violentos, fazendo Boss hesitar em sair para a lama no meio daquele temporal. A repulsa pela sujeira era praticamente de família.

Era um inferno na terra para ele.

Mas alguém tinha que acabar com aquilo. Quanto mais rápido o fizesse mais rápido voltaria para casa, sem cansaço ou estresse. Tomaria um bom banho quente e sentaria em frente a TV para acompanhar mais algumas rodadas de luta livre junto de algumas latas de cerveja, dormiria e acordaria no outro dia para o serviço de meio período.

Sua vida era simples assim. Mas antes de qualquer coisa, havia um trabalho a fazer. O que (M) dizia era ordem, sem perguntas, sem hesitações. E Boss estava acostumado com aquilo. Ele fazia o serviço, recebia o dinheiro e pagava as malditas contas que apareciam por debaixo de sua porta todo mês. No final sempre dava para encher sua geladeira e comprar comida decente para Wolf.

Então, não havia outra maneira.

Após mais alguns segundos a porta abriu devagar revelando seu corpo magro e de estatura média. Basicamente vestindo uma jaqueta com capuz, esmagou as pedras com os coturnos enquanto sentia o serpentear da chuva ao redor. Fechou a porta atrás de si e a passos lentos foi até a porta mala onde parou só para colocar um par de fones.

Levou a chave até a tranca. Houve um ruído abafado que ele teria escutado se não tivesse com a música no volume máximo. Antes de levantar a porta, deu uma olhada rápida, mas sigilosa ao redor do local, era um terreno abandonado longe o suficiente, não era o lugar perfeito, mas tinha pressa e as ordens eram claras. Suspirou fundo, tirou um par de luvas do bolso as calçando agilmente e por fim puxou o corpo mediano até o chão, não era a primeira vez que fazia algo assim. Mas apagar os rastros era sempre o processo mais chato.

Abandonou a jaqueta lá dentro, quando o trabalho exigiu um pouco mais de esforço. Agarrou a pá do porta malas antes de subir o pequeno amontoado de terra e ervas que formavam a entrada.

A chuva ainda o castigava sem dó, quebrando o barro e tornando a grama um campo verde fedorento. Boss se pegou perdido na melodia da música enquanto subia os cascalhos e amontoado de pedras e troncos. O lugar era uma merda de um fim de mundo, e como não tinha outra maneira, teve que sacrificar um pouco mais de sua energia carregando o corpo até lá em cima.

Poucos pinheiros também compunham a paisagem junto a árvores não frutíferas. Os galhos balançavam de forma conspiratória contra o vento e o que quer que estivesse se esgueirando entre as árvores, era ocultado completamente pela escuridão da noite. Os pés do Boss arrastavam rente à grama úmida. Não havia luz para guiá-lo, mas ele não precisava dela. Sabia exatamente onde estava indo.

Quando alcançou o local, puxou o cabelo que cobria seus olhos improvisando um nó sobre a cabeça, enquanto outra música começava a tocar alto fazendo seus ouvidos doerem. Mas muito menos se importou, se colocou a trabalhar enquanto tentava acompanhar Happiness em um assovio baixo.

Alcançou a pá e abriu um buraco com certa agilidade, grande o suficiente para colocar o corpo sem que ficasse rasa demais. Não demorou para enchê-lo, muito menos para que já estivesse tudo pronto.

Quando deu o pequeno serviço por terminado, tirou o celular do bolso da calça notando que já estava próximo das 23:30. Agarrou a pá molhada e caminhou com agilidade até o carro. Suas roupas estavam encharcadas, e isso o irritou tanto quanto a lama em sua bota, mas por fim chegou ao porta malas, jogou a pá, e entrou no carro deixando o frio lá fora.

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⏰ Última atualização: Jul 10, 2023 ⏰

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