Always gonna be here

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**TW: insinuação de abuso sexual** outro domestic veronita, dessa vez um pouco mais delicado e tristonho. Atenção para quem quiser ler. Eu amo escrever veronita mas to sem ideias, aceito dicas e tentarei escrever à altura. Muito obrigada.

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Veronica acordou com um grito. O susto inicial foi forte, mas não gerou dúvida, ela sabia muito bem o que era. Olhou para o lado imediatamente. Anita estava sentada, encostava a cabeceira, respirando com dificuldade. Os olhos tão fechados e o maxilar tão trincado que mudava sua fisionomia.

- Anita… Amor… - Verônica começou de longe. Sabia que tocá-la seria pior, ela já tinha tido essa experiência antes e não queria repetir.

- Ei, você está aqui comigo. Foi um pesadelo. Está tudo bem. - disse com a voz tranquila, ainda olhando a delegada tremer. Quebrava seu coração vê-la assim.

Anita pareceu estar fazendo um esforço para sua respiração acalmar. Era uma dica que tinha recebido na sua atual terapia e Verônica ficava feliz que ela estava tentando colocar em prática.

- Por que você não abre os olhos um pouquinho? Eu to aqui. - Veronica disse esperançosa.

Anita abriu os olhos lentamente. Veronica observava o medo lentamente dar lugar ao alívio ao enxergá-la na cama. Sim, estava tudo bem.

Verônica abriu um sorriso reconfortante e Anita começou a abrir um sorriso leve, mas parou. Sua expressão mudou para vergonha, ela abaixou a cabeça.

- Não queria te acordar, desculpa - disse sem encará-la.

Verônica se sentou na cama, mais perto da delegada.

- Ela me disse que esses pesadelos iam parar, mas só pioram. - suspirou frustrada, sem encarar a escrivã. Anita se referia a psicóloga.

Começar a fazer terapia tinha sido uma das maiores batalhas que Verônica tinha ganho com Anita. Demorou meses para convencê-la a fazer. Até a advogada que tratava do seu caso - que venceram na corregedoria -  ter dito que aquilo era inevitável. Anita foi resistente, simplesmente não queria, mas Verônica juntou uma paciência que nem sabia que possuía - quase a mesma com a que falava com seus filhos quando insistiam em alguma coisa sem cabimento - e convencera Anita a ir na primeira sessão, disposta a realmente ouvir.

A primeira sessão tinha se tornado 5, depois 10, depois… Verônica não tinha mais a conta, mas aquilo tava ajudando, seu caso e seu psicológico, mesmo que Anita não admitisse. Acessar memórias que a loira vinha enterrando há mais de 20 anos era difícil. Doloroso, até cruel. Mas vinha mostrando eficiência.

O psicológico da delegada melhorava. Anita conseguia se comunicar melhor aos poucos, pedir ajuda em coisas simples, não agir com ira no menor dos problemas e até mesmo suas dores crônicas de coluna diminuíram. Eram a tensão em que ela sempre vivera se dissipando aos poucos. O pânico de todos os dias, que a qualquer momento alguém entraria na sua casa e tentaria a matar novamente, tinha se dissipado. Mas ao acessar memórias tão escondidas e enterradas por anos, os pesadelos começaram.

Verônica não se sentia no direito de perguntar sobre o que eram. Desde que ela descobrira sobre o passado da delegada, te-la salvo de uma tentativa de assassinato e depois os incontáveis depoimentos na corregedoria, que já tinham sido difíceis o suficiente, Verônica fazia uma boa ideia do que se tratavam, e não se sentia no direito de fazer Anita repetir para ela sobre eles.

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Uma vez, muito livremente, a delegada tinha falado. Ela acordara de um pesadelo extremamente perturbador, se debatendo. Ainda sem entender muito como lidar, Verônica tinha agarrado seus braços, tentando impedir que ela se machucasse. Anita, aos gritos, se debateu mais, acabando por machucar Verônica no processo.

Alguns minutos depois, a loira estava em pé, segurando um pano envolvido em remédio tentando limpar os arranhões que fez nos braços da escrivã. Nenhuma sensação de ardência machucou mais do que a expressão ferida da delegada. Ela não queria fazer aquilo, ambas sabiam, aquilo machucava a delegada mais do que ela poderia colocar em palavras.

Mesmo com Verônica repetindo incansavelmente que não tinha problema, Anita insistia em continuar cuidando dos arranhões, criando um silêncio pesado entre elas.

Verônica não queria ser a primeira a quebrá-lo, mas não era conhecida por ser a pessos mais paciente - inclusive a paciência, ela vinha aprendendo todo dia com Anita - mas assim que a escrivã abriu a boca, Anita interrompeu, ainda sem olhá-la.

- Eu sinto… eu sinto as mãos dele em mim. Eu sinto o cheiro. O gosto dele. - Anita estremeceu, sua expressão mudando para o nojo absoluto. - As vezes eu sonho com um lugar escuro e os dois aparecendo nas sombras. Eu não sei onde é, eu acho que talvez o meu quarto do orfanato, na casa dele, aqui em casa… eu não faço ideia. Eu só sinto que tenho que lutar e correr.

O cabelo de Anita agora caía pelo rosto e Verônica viu uma lágrima escorrer. Verônica queria morrer, ela realmente queria, sentia seu interior ser arrebentado. Não conseguia compreender, como mulher, isso por assim. Queria socar pessoas, descontar sua raiva… Mas respirou fundo - autocontrole, mas uma coisa que Anita já vinha lhe ensinando mesmo sem perceber. -

- Ei, você tá aqui agora, comigo, nada disso vai te atingir mais, ok? - Verônica disse tentando transparecer o máximo de calma que conseguiu. Anita não a respondeu, nem ao menos levantou o rosto para a encarar.

Veronica pegou a gaze que ela limpava seus arranhões e jogou longe.

- Vem aqui. - disse enquanto pegava Anita nos braços.

Aquele final de noite, em que passaram abraçadas até quase se fundirem na cama, tinha sido a melhor que Anita já tivera.

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Hoje em dia os pesadelos ainda eram frequentes, embora menos piores. Com ajuda da terapia, Anita conseguia acordar, entender que aquilo era passado e não machucar a si e a outras pessoas a sua volta. Ainda era difícil voltar para a realidade, mas ela estava tentando e Verônica tinha muito orgulho.

- Eu realmente não queria te acordar. Já disse, eu posso dormir em outro quarto, isso é realmente…-

Verônica fez carinho em sua perna com a mão, ela queria abraçar a loira, mas sabia que tinha que esperar.

- Eu não me importo, eu quero ficar aqui com você. -

Disse simplesmente. Anita abriu um sorriso de boca fechada, quase condescendente mas realmente grato.

Chegou mais perto de Verônica que se encontrava a 2 palmos dela, encostada na cabeceira, e esfregou seu nariz brandamente no da escrivã. Ela realmente queria demonstrar carinho mas não sabia como. Verônica sorriu.

- Volta a deitar comigo? Eu até te deixo ser a conchinha menor. -

Disse a escrivã com uma provocação, para tentar mudar o clima. Anita riu de leve. A escrivã continuou.

- Se você não conseguir dormir tem sempre o remédio que…- Verô tentou completar.

Anita suspirou fundo, ambas sabiam que ela odiava a ideia de depender de um remédio para dormir, embora tivesse sido indicação da médica. Porém, ao invés, de retrucar, a loira apenas encolheu o corpo até ficar deitada e Verônica se encaixar atrás dela, movendo os cabelos loiros para te dar um beijo na nuca enquanto a abraçava apertado.

- Eu consigo dormir bem agora - Anita disse em um tom safado, Verônica já a conhecia bem o suficiente para saber que aquele tom escondia que ela não tinha certeza nenhuma. A escrivã apertou os braços ao redor dela. Estava morrendo de sono, deixando o torpor do cansaço a levar.

- Você vai, por que eu vou estar sempre aqui. - disse por fim.

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