capítulo 01.

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#1. MEIO PACOTE DE CHICLETE BIG RED

Meu pai mascava aquilo o tempo todo. Desembrulhava um pacotinho de papel-alumínio atrás do outro, começando logo após a xícara de café matinal. Ele contava que tinha sido a primeira coisa que comprou ao chegar ao aeroporto de Chicago, vindo da Grécia, e, assim que provou, soube que havia tomado a decisão certa: um país que produzia um chiclete daqueles com certeza sabia o que estava fazendo. Ele emigrara com quase nada. Apenas o passaporte, uma mochila surrada, algumas centenas de dólares e um sotaque grego tão forte que, segundo ele, levou três meses para conseguir pedir uma xícara de café e ser entendido.

Sua filosofia para sobreviver nos Estados Unidos sem contatos, dinheiro ou amigos? "Pula que uma rede cresce."

Ele vivia errando as expressões americanas.

EU ESTAVA OFEGANTE. Meus pulmões pareciam balões chamas. Caixas de correio e árvores começaram a dançar em minha visão embaçada. De acordo com o relógio fitness que Robin, meu padrasto, havia me dado de Natal, só tínhamos corrido dois quilômetros.

No estilo do grande Mestre Yoda: um corredor eu não sou. E, naquele momento, nem conseguia fingir.

— Preciso de outro intervalo — avisei, sem ar, me curvando para apoiar as mãos nos joelhos.

Dax, meu namorado, diminuiu o passo e suspirou alto — não porque precisava de mais oxigênio, mas porque aquele era nosso terceiro intervalo em menos de quinze minutos. Nem tive que olhar seu rosto para saber como estava. Decepcionado. Quer dizer, decepcionado e lindo com aquele bronzeado, o falso moicano e os olhos azul-esverdeados. Afinal, era o Dax.

Ele apoiou a mão nas minhas costas, mas o contato pareceu mais recriminador do que encorajador.

— Hazz, nós já fizemos um intervalo. Tenho que correr mais cinco quilômetros para atingir minha meta de treinamento, lembra?

Eu lembrava. E, de verdade, queria correr aqueles cinco quilômetros com ele. Não só porque Dax detestava correr sozinho, mas também porque, na noite anterior, ele tinha me acompanhado a uma exposição de arte sobre a história da Polaroid no centro de Seattle. Ele tinha até desligado o celular para não sermos bombardeados pelas mensagens de sua legião de amigos. Então, naquela manhã, como agradecimento, eu planejara acompanhá-lo por todo o percurso sem reclamar, o que geralmente até conseguia fazer.

Mas, ao contrário de todos os familiares e amigos de Dax, eu não era um corredor. Ou ciclista. Ou esquiadora cross-country. E eu definitivamente não funcionava bem pela manhã. Eu era do tipo que citava Star Wars de vez em quando, que gostava de colagens e que cuidava bem de plantas caseiras, mas quando Dax e eu tínhamos começado a namorar, concordei casualmente quando ele comentou que gostava de correr pela manhã, e ali estávamos. Dois anos depois, a farsa já havia sido desmascarada, mas ele continuava me arrastando junto. Dax era mesmo persistente.

Aquela manhã parecia mais difícil que o normal. Eu estava com tanto sono.

Então, a lembrança me atingiu com tudo. Como uma onda se chocando contra o meu rosto. Eu tinha tido o sonho na noite anterior. Não era de admirar que estivesse com o pique de um bicho-preguiça idoso.

Ajeitei o meu boné na cabeça. Nem meu cabelo queria terminar aquela corrida. Dax estava decepcionado, magoado e... irritado? Deixei o pesadelo de lado. Era hora de ativar o SUPERNAMORADO!, capaz de evitar qualquer briga com o poder da distração pelo flerte!

Tirei meu boné e baguncei o cabelo, tentando deixá-lo com a aparência perfeitamente despenteada.

— Ei, Dax, sabe o que seria ótimo para o seu condicionamento? Correr com um peso extra. Tipo... — Olhei para o céu com ar pensativo, depois o encarei, sorrindo. — Tipo eu!

AMOR & AZEITONAS | l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora