Capítulo 1

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22 de novembro de 2021

Oh, home, let me come home
Home is wherever I'm with you

(Oh, casa, deixe-me voltar para casa
Lar é qualquer lugar que eu esteja com você)

Home - Tom Rosenthal

Uenoyama mais uma vez passou por aquela mesma porta e entrou naquele mesmo hospital, algo que tinha virado um costume nas últimas semanas.

Ele odiava aquele lugar. Odiava a sensação que o lugar oferecia. Odiava o cheiro de antisséptico corroendo seus pulmões. Odiava principalmente o porquê de ter que frequentá-lo. Tudo que ele queria era não ter mais motivos para ir ao local.

De fato, tudo que Uenoyama queria era fazer com que o hospital não participasse da sua vida.

Atravessou o corredor em direção ao mesmo quarto de sempre. Usando os nós dos dedos, bateu na porta e a abriu.

— Ritsuka, você já voltou! — Mafuyu falou, animado.

Tudo que Uenoyama queria era fazer com que esse hospital não participasse da vida de Mafuyu.

— Eu não aguentava mais escutar o Hiiragi — Uenoyama respondeu e foi em direção ao rapaz sentado na cama. Com o polegar, tirou os fios ruivos de sua testa e depositou um beijo. Acomodou-se ao seu lado e passou um braço ao redor de seus ombros em seguida. — Como foi o seu dia?

— Ah, você sabe, foi normal — respondeu Mafuyu ao encostar a cabeça no ombro de Uenoyama.

— Normal normal ou normal chato? — retrucou.

Mafuyu expeliu uma risada fraca.

— Bom, teria sido um normal normal se eu pudesse tocar guitarra. Talvez até poderia ter sido um normal legal.

Uenoyama deixou um beijo no canto da testa do outro e disse:

— Daqui a pouco vamos voltar pra casa e poder ter normais legais de novo.

2014
Segundo ano do ensino médio

Now you're all I want
And I knew it from the very first moment
'Cause a light came on when I heard that song
And I want you to sing it again

(Agora você é tudo que eu quero
E eu soube desde o primeiro momento
Porque uma luz se acendeu quando ouvi aquela música
E eu quero que você a cante de novo)

Can I Be Him - James Arthur

O sinal tocou indicando o fim do primeiro dia de aula.

Mafuyu foi até a sala do clube de música, onde encontraria seus amigos, Hiiragi e Shizusumi, assim como fizeram durante todo o último ano letivo.

Aproximou-se da porta da sala e escutou uma baixa melodia vinda de uma guitarra. A música sendo tocada dentro da sala fora reconhecida por Mafuyu, era All I Want de Kodaline.

Imaginou que a pessoa por trás dos acordes deveria ser aquele rapaz que se inscreveu para o clube, o único membro novo. Ele errava poucos acordes, Mafuyu tinha certeza que era um iniciante que rapidamente desenvolveria grande habilidade.

Ele abriu a porta da sala e encontrou um rapaz de cabelo negro sentado em uma cadeira com os pés sobre a amplificador e uma guitarra no colo. Ele é bonito, Mafuyu pensou.

Os olhos azuis do rapaz encontraram os de Mafuyu, fazendo-o parar de dedilhar as cordas.

— Você é Ritsuka Uenoyama? — questionou o ruivo ao entrar na sala.

— Sim. E você é?

— Mafuyu Satou. — Ele tirou a guitarra da capa e sentou no sofá roxo encostado na parede cinza. — A música que você tava tocando era All I Want, né? — perguntou ao começar a afinar a Gibson vermelha sobre seu colo.

Uenoyama assentiu.

O canto da boca de Mafuyu se curvou em um sorriso doce.

— Adoro essa música — ele comentou.

Ao terminar de afinar sua guitarra, Mafuyu começou a dedilhar as notas da música.

— Tem outros membros no clube? Tipo, pessoas que tocam outros instrumentos? — perguntou Uenoyama.

Mafuyu parou de dedilhar as cordas.

— Sim — respondeu. — Tem o Hiiragi, que toca baixo, e o Shizusumi, que toca bateria.

— Não tem nenhum vocalista?

— Sim. Eu.

Uenoyama franziu levemente as sobrancelhas.

— Sério?

— Muito sério — Mafuyu respondeu, um pouco incomodado com a descrença do rapaz.

— Certo, então cante — desafiou Uenoyama. — Pode ser um pedaço de All I Want.

Mafuyu dedilhou na guitarra os acordes de uma parte da música.

So you brought out the best in me, a part of me I'd never seen (Então, você trouxe à tona o melhor de mim, uma parte de mim que eu nunca tinha visto) — cantou. — You took my soul and wiped it clean. Our love was made for movie screens... (Você pegou minha alma e a purificou. Nosso amor foi feito para as telas de cinema)

Uenoyama ficou realmente impressionado. Impressionou-se com a voz incrível de Mafuyu e com a maneira perfeita como ele tocou a música, diferente de como ele mesmo fizera anteriormente.

— Então... — pronunciou Mafuyu. — Sou digno de ser o vocalista do clube?

Uenoyama abriu um sorriso de canto. Por algum motivo que não entendia, sentia seu coração acelerar em seu peito.

— É, talvez.

Mafuyu soltou um riso fraco.

22 de novembro de 2021

Mafuyu passava o dedo pelo touchpad do notebook sobre o seu colo, procurando algo para assistir. Uenoyama o olhava fixamente, achava fofa a maneira como Mafuyu mordia seu lábio inferior enquanto tentava encontrar um filme.

Quando reparou que foi pego fitando seu namorado tão descaradamente, passou a observar a tela do computador.

— No que você tá pensando? — perguntou Mafuyu.

— Como foi o seu dia?

— Já falei, foi normal — ele suspirou e começou a esfregar o polegar na aliança prata em seu dedo anelar, Uenoyama sabia que aquilo era um sinal de que seu namorado estava nervoso. — Você quer saber se eu passei mal ou algo assim, né? A resposta é não — o rapaz voltou a observar a tela do notebook. — Você se preocupa demais.

— Tenho direito de me preocupar com o meu namorado — contestou Uenoyama.

— Apenas quando há algo errado — retrucou. Ele fitou Uenoyama. — Não se preocupe, eu tô bem. — Mafuyu depositou um beijo na bochecha do outro. — Eu prometo.

Não importava o quanto Mafuyu falasse que ele não deveria se preocupar. Não importava o quanto prometesse que ficaria bem. Uenoyama não conseguia deixar de se preocupar.

O fato de Mafuyu precisar permanecer no hospital durante o tratamento preenchia Uenoyama de agonia. Era doloroso imaginar o que os efeitos colaterais do tratamento o fazem sofrer para terem que chegar ao nível da internação.

E se Mafuyu estiver sofrendo muito? E se ele não melhorar? Pensamentos como esses estavam corroendo a alma de Uenoyama.

Como seria a vida sem Mafuyu Satou?

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