XVII - Razões & Emoções

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Desperto de um sono restaurador, mas ao mesmo tempo, uma dor no peito me acomete, uma dor no coração por ter adormecido sem fazer as pazes com Fenrir. Lamento ter proferido aquelas palavras, não esperava que ele reagisse daquela maneira. Observo ao meu lado o lobisomem adormecido, suas costas voltadas para mim, da mesma forma como se deitou. Ao menos dessa vez ele parece estar verdadeiramente imerso no sono. É a primeira vez que acordo antes dele. Curiosa, me inclino um pouco mais perto da fera, ansiando por vislumbrar seu rosto. Contemplo Fenrir com os olhos e a boca fechados, enquanto respira serenamente. Sua expressão revela tranquilidade. Por mais que já o tenha visto assim antes, não posso evitar a felicidade que me invade ao presenciá-lo tão sereno e relaxado. Embora eu imagine que ele não queira falar comigo quando acordar, respiro fundo e me movo em direção à beira da cama. Retiro as cobertas e me ergo. Aterrisso os pés no chão, nem mesmo me preocupando em vestir minha capa ou calçar minhas botas. Não desejo perturbar Fenrir, então evito de fazer barulho. caminho em passos silenciosos e cautelosos para deixar o quarto.

Ao adentrar a área principal da casa, deparo-me com Trygve já acordado. Ele perambula de um lado para o outro, organizando os suprimentos de padaria, seu ofício. Observo-o de longe, mas logo ele percebe minha presença. Trygve esboça um sorriso gentil em seu rosto ao me ver e diz:

-"Ah, acordaste cedo, Astrid. Como estás? Dormiste bem? Parece que algo te aflige. O que aconteceu?"

Sinto-me surpresa por ele ter notado. Talvez minha aflição esteja evidente em meu rosto, mesmo que eu mesma não tenha percebido. Devo compartilhar meus sentimentos com ele? Ou estou apenas exagerando? Tímida, eu tento ser evasiva:

- '' oh, não é nada, é apenas por causa da noite agitada de ontem haha.''

Dou uma leve risada, tentando mudar o foco da conversa. Trygve solta uma leve risada em quanto continua a fazer as suas coisas. é bom vê-lo aqui. eu não tinha visto o Trygve indo embora do banquete ontem, mas assumi que ele havia voltado para casa. Mudando de assunto, eu pergunto:

- '' aonde está o Farkas?''

Pergunto pelo Lobisomem branco. Logo Trygve diz:

- '' Farkas? Ah, aquele pulguento está dormindo como sempre. Parece que o sono dele é inesgotável. Talvez eu deva acordá-lo com um balde de água fria!''

Trygve deixa escapar uma risada maliciosa, imaginando a reação do amigo ao ser despertado de forma repentina. Sinto um sorriso se formar em meu rosto ao ouvir a brincadeira de Trygve. É reconfortante ter um momento leve e descontraído em meio às minhas preocupações. Enquanto observava Trygve continuar suas tarefas, decido ajudar, pegando alguns utensílios de cozinha e começando a arrumar a mesa para o café da manhã. Enquanto organizamos e limpamos o ambiente, a conversa flui entre nós. Trygve fala sobre suas últimas aventuras, as terras que explorou e o status altual da tal ponte. Ele e outros aldeões estão trabalhando nela, e querem se certificar que ela seja resistente. Eu compartilho algumas experiências minhas também, embora com menos entusiasmo do que o habitual. Trygve percebe minha falta de animação e me olha com curiosidade.

-"Astrid, algo está realmente te incomodando. Eu posso sentir isso. Se quiser conversar, estou aqui para ouvir,"

ele diz com sinceridade, deixando seus afazeres de lado. Eu hesito por um momento, lutando contra a vontade de abrir meu coração e desabafar com ele. Trygve é uma pessoa confiável e compreensiva, mas há uma parte de mim que ainda se sente relutante em compartilhar tudo. Principalmente depois de tudo o que aconteceu na minha viagem, no entanto, sinto um desejo crescente de dividir meus sentimentos e encontrar algum consolo.

-"É sobre Fenrir... tivemos uma discussão ontem à noite, e agora parece que ele está evitando falar comigo,"

confesso, com um misto de tristeza e frustração. Por mais que ele esteja a dormir agora. Fenrir simplesmente virou as costas para mim, me ignorando completamente noite passada. Isso...isso pesa. Trygve escuta atentamente, e sua expressão se suaviza. Ele coloca a mão em meu ombro em um gesto reconfortante.

Histórias De Inverno (A Chapeuzinho Vermelho e o Lobo)Onde histórias criam vida. Descubra agora