Discurso de Pe. Miguel

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─ Lembro-me, disse padre Miguel no púlpito, de que quando tinha 12 anos, uma pessoa bateu palmas em minha pequena casa, pedindo comida. Eu morava nesta época em Goiás, em três cômodos simples, um minúsculo sítio. Minha casa dava de frente para uma rua de terra e atrás a terra. Meu pai, minha mãe e meus irmãos foram cedo na roça, plantar e cuidar dos poucos animais. Por sempre achar que meu coração pendia para o bem, eu não sabia ser indiferente. Pedi para aquela pessoa entrar em casa. Pedi para ele se sentar na mesa. Fritei dois ovos. Coloquei arroz e feijão. Fiz salada. Ele comeu. Levantou-se. Agradeceu e eu o acompanhei até a o portão de madeira, que era simbólico. Ele nunca mais voltou. Aquele homem podia ser Deus me testando, mas Deus não testa as pessoas. Deus ama. Apenas espera de nós escolhas certas. Mas aquele homem podia ser o Mal querendo tentar-me para eu ser tão mau quanto o Mal é para as pessoas, tirando delas o amor. O fato é que abri minha casa da mesma forma que abro meu coração para quem precisa. Quando criança, para mim, era natural fazer o bem, ou achar sempre em fazer o bem. O sacrifício é uma mistura de responsabilidade com compaixão. Por este motivo guardo em meu coração tão poucas dores intencionais. Prefiro abrir sempre a minha casa, que é meu coração a fechar as portas para morar nela somente o egoísmo, a ganância, a arrogância, o desamor, a crueldade, a malevolência, a maledicência, o mal. Verdade que quem abre seu coração, geralmente vive com ele bagunçado, mas nunca na solidão. Prefiro a bagunça à solidão. E talvez por este motivo, por esta razão, Deus me deu as chaves das portas de tantos corações humanos e a possibilidade de transformar muitas delas em histórias e em sermões. Há seis meses enterramos Terezinha, há sete dias foi a vez de sua tia. Logo mais seremos nós. Nossas memórias, nós as encontramos dentro de nós e no legado, como herança, nas pessoas que deixamos neste mundo e nas coisas que criamos no mundo. Deixamos pessoas e criamos coisas. Por isto amar deve ser nossa lei. Amem! Amem e se possível se sacrifiquem. O respiro de hoje é um diálogo futuro com o expiro inevitável. Que Deus acolha esta alma tão boa como foi da saudosa tia! Que Deus tenha misericórdia de nossas falhas sobre ela!

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⏰ Última atualização: Jun 07, 2015 ⏰

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Trecho do livro "Miguelito: Memórias"Onde histórias criam vida. Descubra agora