Chirp Chirp ~
Cantavam os pássaros da floresta. O dia amanhecera bonito, como de costume.
O esqueleto ficou de pé, olhou em volta e pegou na mão a primeira fruta amarela que encontrou.
Charlotte precisa de frutas amarelas.
Era só o que sabia. No entanto, não precisava de mais nada. Catar frutas amarelas, essa era sua rotina.
Charlotte era o nome da menina que conhecera alguns anos atrás. Desde então, ele têm conversado todos os dias com sua companheira. Em uma dessas conversas, Charlotte perguntou se o "moço" tinha um nome. Ele não soube responder.
Claro, ele sabia que anteriormente a ser revivido, ele provavelmente tinha um nome. Mas não conseguia lembrar.
- Joldur! Vou te chamar de Joldur, tudo bem?! - a menina disse, com os ânimo e entusiasmo costumeiros.
O esqueleto acenou com a cabeça.
Joldur...
O esqueleto gostou bastante desse nome e resolveu mantê-lo...
- Meu nome é Joldur! Não esqueleto.
Ah, sim. Joldur, o esqueleto.
- ...
Os dias passavam rápido. No entanto, Joldur sempre esperava pelo próximo com grandes expectativas.
Conversando, esperando, catando frutas, conversando, esperando. Assim foi sua vida durante dez anos.
Charlotte estava grande. Seu cabelo quase se arrastava pelo chão. Seus olhos pareciam ainda mais esverdeados, como verdadeiras esmeraldas.
Joldur, no entanto, não pôde deixar de notar que, conforme avançava o tempo, Charlotte parecia mais musculosa. Numa de suas conversas, a menina mencionou que se tornaria uma Cavaleira para derrotar o Rei Demônio, o qual devastou um reino inteiro com um exército de monstros.
Na época, Joldur se assustou e ficou preocupado que fosse machucá-la sem querer. Ela assegurou que não tinha nada com o que se preocupar. Disse que ficaria forte o suficiente para proteger a si mesma e a seu amigo esqueleto.
Desde então, nem ele, nem ela tocaram no assunto.
- Jolduuuuur!! - Disse a moça, correndo a toda velocidade na direção do esqueleto.
E-ei, calma, devagar!
STRIKE!
Os ossos de Joldur estavam espalhados de novo. No entanto, Charlotte segurou sua cabeça nas mãos e disse, entusiasmada:
- Eu fui selecionada para ser uma Cavaleira!
Um zumbido nos ouvidos de Joldur impediu que ele ouvisse o resto. E se ela se machucasse? E se algo terrível acontecesse a ela? E se todo seu esforço for descartado? E se...
- Olha! Agora eu consigo lançar água com as mãos! - ela se concentrou - Dea aquarum, nympha rivorum et stagnorum, praebe vires tuas!
Um jato poderosíssimo de água surgiu das mãos de Charlotte e devastou uma árvore que estava no caminho.
Não preciso me preocupar. Ela consegue!
O esqueleto pensou, "sorrindo" mais uma vez.
As conversas seguiram como de costume, mas Charlotte pediu que Joldur esperasse por ela. Numa promessa, a menina disse que voltaria em um ano, no mesmo dia, durante a primavera mais radiante.
Antes de se despedir, Joldur, usando uma pedra pontiaguda, gravou em outra pedra a frase: "de um puro-osso".
Charlotte arrancou a jóia de um dos colares que usava, a fim de pendurar a pedra como lembrança de seu amigo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A vida do Lich Solitário
FantasíaRevivido sem seu consentimento e perdido da horda de mortos-vivos e espíritos, um esqueleto vagou pelo pântano até encontrar um lugar tranquilo para ficar. A partir daí, ele tenta desvendar o mistério de sua existência e a razão para vagar pelo mun...