WDYOCWYH?

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Verão, atualmente.

Era um fim de noite terrivelmente cansativo e silencioso, havia adentrado ao apartamento quase que rastejando e lastimando pelo expediente que o fez ter dores de cabeça por longas horas, queria bate-la ali, na parede mesmo mas o corpo estava tão dolorido que resolveu apenas tomar qualquer remédio para enxaqueca que encontrou pela frente e tomar um banho para ver se ao menos conseguisse seguir até a cama.

A água quente que expelia pelo chuveiro arrepiava todo o corpo do moscovita que infelizmente sentia um frio absurdo diariamente, odiava aquilo e com certeza era uma das coisas que o fazia sair com um casaco mesmo estando na estação mais quente do ano. Encostava as costas no box de vidro escuro, fechando firmemente os olhos e tentando esquecer pensamentos que circulavam entre trabalho, amigos e uma certa pessoa que praticamente invadia sua mente nos momentos mais inoportunos cotidianamente, queria mandar uma mensagem perguntando-o como estava já que fazia dias que não o via muito menos conversava, mas, como era de Fyodor que estávamos falando, seu orgulho não iria ceder tão fácil e apenas preferiu enfiar a cabeça novamente no chuveiro e tentar limpar aquilo, mesmo que fosse praticamente impossível.

Haviam se conhecido na faculdade, o Russo estudava ciências da computação enquanto o dito cujo era do curso de Artes Cênicas, claro, a primeira coisa que o garoto fez foi perguntar para Fyodor como era a vida na Rússia, porém apenas o ignorou e seguiu sua vida, mas, aquilo foi a pior coisa que deveria ter feito. O rapaz o seguiu praticamente a semana toda insistindo que conta-se nem se for em duas frases resumidas, depois de um tempo e de muita paciência, Fyodor acabou por ceder e deu uma entrevista de nada mais nada menos do que três horas no café do campus, era um homem quieto até alguém o dar liberdade de fala. Após o ocorrido marcaram de sair quase que toda a semana, indo desde fliperamas a casas de chá espalhadas pela cidade. Claro, talvez tenha tido sentimentos por parte de ambos, mas, nada foi dito muito menos declarado, então, viviam uma...amizade colorida? Nem mesmo o mais alto conseguia colocar um significado naquela relação.

Abria os olhos calmamente quando se deu conta que ainda permanecia em pé no chuveiro com as costas praticamente pegando fogo pela água quente caindo e caindo no mesmo pedaço de pele; Fechou apressadamente o registro e pegou a toalha de algodão de cor cinza, se trocando rapidamente e assim saindo do cubículo e indo até sua cama, agradecendo a Deus por conseguir ter forças ao menos para se deitar, caso ao contrario, iria dormir no chão mesmo.

Apesar do maldito cansaço a mente resolveu lhe pregar uma peça, ou melhor, resolveu reverter o jogo de xadrez mental e assumir o controle. Fyodor virava de um lado para o outro, fechava os olhos, suspirava e podia até contar carneirinhos que de maneira alguma conseguia dormir...Porra, mas justo agora?! Se praguejava em seu subconsciente enquanto se sentava na cama de casal e apoiava a cabeça na cabeceira de couro da cama, aquele merda não saía de seus pensamentos e seu coração insistia em querer bater mais rápido do que o habitual, o que havia dado nele para tal reação? Apertava os olhos e os abria, olhando toda a extensão do quarto até que foi interrompido pelo celular que vibrava e um número desconhecido estava sobre a tela, quem iria ligar depois das uma da manhã? Pensava consigo mesmo enquanto apenas deslizava o indicador para ignorar a chamada e assim, se levantando no intuito de tomar um copo de água e tentar voltar a dormir, tinha esperança, mesmo que quase nula.

Já com o corpo apoiado sobre a bancada de mármore preto, tomava em pequenos goles o líquido gelado na tentativa de acalmar a mente a milhão, contudo sua concentração foi toda por água a baixo assim que o barulho da campainha se fez presente ecoando nos sete cantos da casa.

-Mas...-E novamente o som invadia a casa e o fazendo ficar confuso, quem iria o visita-lo aquela hora?.-Só pode ser algum vizinho querendo ajuda, ou algum amigo? Sigma esqueceu algo comigo?

Enquanto andava rumo a porta de entrada, checava as mensagens para ver se alguém havia o chamado mas nenhuma notificação nova a não ser do telefone estranho que tinha ligado a minutos atrás, muita coincidência? Talvez. Mas naquele momento não conseguia raciocinar direito, era o sono ou ansiedade de saber quem era? Não conseguia sequer decifrar os sentimentos que perpetuavam no coração aflito e gelado do homem.Praguejava no mesmo instante em que se lembrou que o olho mágico da porta estava trincado e não conseguiria ver quem era, ou seja, teria que abrir ou ignorar. Digamos que se estivéssemos falando de Fyodor em seus dias ''normais'' ele não abriria e voltaria a fazer qualquer coisa que estivesse ocupado, mas, como ele esta em seu modo curioso que é raro ele resolveu abrir de uma vez, só não imaginava tal surpresa...ou susto.

Ao abrir a porta de madeira escura e grossa arregalou os olhos no mesmo momento em que os pousou sobre a figura do rapaz tão conhecido, o mesmo estava encostado na parede ao lado direito, parecia calmo e com um certo cheiro de bebida barata, Fyodor já suspeitava o que iria acontecer já que não era a primeira nem última vez que aquilo iria acontecer em sua vida.

-Até que enfim, Dosto.-O homem finalmente quebrou o silêncio que parecia uma eternidade, abrindo um sorriso de canto e o olhando dos pés a cabeça.-Pensei que havia se esquecido de mim.

-Bem que eu gostaria, Nikolai.-Fyodor o respondia frio no exato momento em que percebeu que o mesmo não estava ali para uma simples visita ou que estava com saudades.-O que você quer? Estou precisando dormir e não quero escutar papos de um bêbado.

-Opa opa, calma lá. Não estou bêbado, apenas tomei algumas e resolvi lhe visitar já que estava perto, eu tentei te ligar mas você não me atendeu, então...só vim, entendeu?.-Desta vez Nikolai que vestia um sobretudo preto longo se aproximava do russo que continuou parado em sua posição, apenas o observando.-E eu quero você, simples.

A relação deles sempre foi assim, desde a faculdade. Nikolai e Fyodor eram melhor amigos com estilos totalmente diferentes de vida mas com pensamentos iguais, não foi difícil se tornarem amigos até que em uma festa do campus, acabaram ficando juntos e desde então quando era conveniente para os dois, ficavam e nada passava disso. Quando terminaram o curso o contato ficou cada vez mais...distante? Eram poucas vezes que se viam e apenas para jogar conversa fora e algumas vezes, terminavam na cama. Fyodor não negava, tinha sentimentos por ele mas era frio e cabeça dura demais para admitir gostar de Gogol, era absurda a ideia e a mesma coisa valia para o outro, tinha medo e não queria demonstrar nenhum sentimento a não ser amizade.E querendo ou não, Fyodor odiava quando ele batia na sua porta três da manhã a cada mês apenas para ''matarem'' a saudade...odiava mas também gostava, era confuso demais tudo aquilo. Nikolai era confuso mas não pensava duas vezes em se jogar naquele mar tão turbulento e fosco.

Quando percebeu seu corpo estava contra a porta meia aberta e o mais alto estava em sua frente com a destra acariciando desde seus fios longos e escuros até a extensão de seu rosto pálido e branco feito neve, os toques o deixaram arrepiado e em alerta ao mesmo tempo, o corpo parecia seguir a razão enquanto a mente preferia os sentimentos.

-Por que você só me procura assim?

-O quê?

-Por que você só me procura quando está literalmente desesperado por mim? E totalmente bêbado?

-Eu fico mais sentimental e deixo escapar certas coisas quando estou assim, Dosto, algum problema?

Sua resposta estava na ponta da língua mas a única coisa que conseguiu fazer naquele momento foi agarrar o colarinho da camiseta de botões do mais alto e colar os lábios em um beijo urgente e completamente necessitado. Nikolai tinha toda razão ao dizer aquilo, não tinham coragem de confessar e preferiam esconder, viver em uma realidade paralela aonde não existe sentimento muito menos um coração, era um caso de uma noite e pronto. Os dedos de Nikolai dedilhavam a cintura tão fina do rapaz e colava os corpos ainda mais, quase que se fundindo, queria explorar cada canto de sua pele mais e mais.

Fyodor dava pequenas mordidas no lábio inferior do amante que já estava apresentando uma coloração avermelhada pelo ósculo intenso, não queria desgrudar o outro um segundo sequer, mas, foi obrigado ao ter o pulmão clamando por ar. Assim que o contato foi quebrado, se encararam por breves segundos antes de repetirem a ação por mais alguns minutos, queria aproveitar essa madrugada já que ao amanhecer, iriam fingir que nada aconteceu e que nem sequer existiam na vida um do outro, e claro, ambos iam contar os minutos para mais um encontro acontecer depois de meses separados.

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Why do you only call me when you're high? (fyolai)Onde histórias criam vida. Descubra agora