Nosso Pequeno Castelo

Capítulo 1

Eram três da tarde de um domingo tranquilo e Alexandre estava aproveitando o dia de folga, sentado em sua casa estranhamente silenciosa, tentando se entreter com um jogo de videogame. Inã ficaria orgulhoso de sua tentativa, mas o pequeno estava com sua mãe neste domingo, deixando-o sozinho para tentar aprender os truques do jogo.

Sua paz é interrompida quando na tela de seu celular aparece o nome da Mariana. Fazia tanto tempo que não tinha notícias que parecia que estava recebendo a ligação de um fantasma.

Eles eram muito jovens quando ficaram juntos, Alexandre e Mariana, nunca entendeu como chegaram a estar juntos algum dia, nem seus amigos sabiam responder aquilo também. Ele era um recém-formado tentando se encontrar, Mariana era cativante, confiante, extrovertida, todas as portas se abriam para ela. Mas o encantamento não durou muitos meses, e Alexandre percebeu que Mariana era uma pessoa muito diferente do que ela aparenta à primeira vista.

Mariana tinha problemas com as drogas, e talvez houvesse mais, suas mudanças de humor eram violentas o suficiente para ele pensar que poderia haver um transtorno bipolar não diagnosticado. Ela brigava com ele por nada, às vezes ficava violenta e jogava coisas, voltava essa violência contra ela também. E embora suas desculpas e promessas de mudança fossem doces e sinceras, ela nunca poderia realmente manter sua palavra sobre esse assunto.

Ele havia oferecido a ela ajuda, apoio, dinheiro, o que quer que a incentivasse a procurar ajuda profissional, mas ela sempre dava um jeito de evitar.

No fim, ele deu a ela um ultimato: ou ela iria para a reabilitação ou eles terminariam.

Ela escolheu suas drogas

Mandar ela abrir mão da euforia das drogas por um relacionamento que, vícios à parte, não dava certo, foi uma ideia bem boba. Mariana terminou no momento em que ele disse as palavras. Ela disse para ele nunca mais entrar em contato com ele e jogou um vaso contra a parede quando ele tentou dizer algumas palavras de gentileza para que o rompimento pelo menos terminasse em bons termos.

Ele tentou entrar em contato com ela depois disso, só para ter certeza de que ela estava bem, mas ela mudou de número e saiu do apartamento que alugava. Desapareceu completamente do mapa

Alexandre encontrou um emprego agradável e confortável, foi subindo de cargo, se apaixonou, se casou, atingiu a estabilidade e o caos de sua juventude desapareceu na memória.

Isso foi há oito anos atrás. Quando ele ouve a voz delicada dela do outro lado da linha, as memórias voltam à tona, e ele percebe que compartimentalizou todo aquele tempo em sua vida.

- Mariana? - Ele perguntou - Nossa, faz tanto tempo. Como você está?

Ela soa melhor (embora sempre tenha sido boa nisso, fingir que está bem, parecendo melhor). Mas ela diz a ele que está em um programa de doze passos, que finalmente procurou ajuda, que não toma um gole de bebida há mais de cinco meses. Ela não é mais bartender, o que era muito perigoso devido aos seus muitos vícios. Em vez disso, ela é gerente de uma loja de roupas e tem aulas de arte à noite. Ela quer ser designer gráfica.

- Isso é ótimo - Diz Alexandre com entusiasmo.

- É... é melhor do que eu estava vivendo. De qualquer forma, tenho certeza de que você adivinhou para onde esta conversa está indo. Estou no passo em que peço desculpas aos outros por tudo que fiz enquanto estava sob meu vício

Seu vício. Ela admitir que ela tinha um é uma grande melhoria.

- Tudo está perdoada - Garante Alexandre - Eu era jovem e também não lidei bem com nada disso. Sinto muito também, Mariana.

- Obrigado por seu perdão, mas há coisas que você não sabe - Mariana suspira - Coisas que tenho que lhe dizer agora, ou elas vão me corroer para sempre